Ficha do Proponente
Proponente
- Marcel Vieira Barreto Silva (UFPB)
Minicurrículo
- Marcel Vieira é professor, roteirista e escritor. Pesquisador em produtividade no CNPq, com pesquisa sobre a história do roteiro no Brasil. Leciona no curso de Cinema da UFPB e é mestre e doutor em Comunicação pela UFF. Publicou o romance “Camaradas” (2018) e o livro de poemas “um abismo quase” (2021). É formado em Script Doctoring pela UCLA.
Ficha do Trabalho
Título
- História do roteiro no Brasil – uma revisão sistemática
Seminário
- Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta apresentação tem o objetivo de apresentar, a partir de uma metodologia de revisão sistemática da literatura, as formas como tem sido contada a história do roteiro cinematográfico no Brasil, enquanto forma textual, na sua relação com as institucionalidades (estúdios, produtoras, distribuidoras) e com as autoralidades (estilos, práticas, processos), e enquanto campo profissional socialmente reconhecido.
Resumo expandido
- A história do roteiro, conforme contada até hoje, é a história do roteiro enquanto prática institucional. Essa história se conecta diretamente com o processo de industrialização das produções cinematográficas em Hollywood, acompanhando o tortuoso processo pelo qual a escrita de filmes se tornou uma etapa circunscrita na linha de produção industrial, conformando modos de trabalho a partir da consolidação de formatos reconhecíveis. Muitos autores já demonstraram a inextricável relação entre as transformações das dinâmicas produtivas industriais da Hollywood clássica e as mudanças nas formas e processos de escrita audiovisual que culminaram com a consolidação dos formatos industriais de roteiro. O recorte proposto por esses autores, a despeito de suas diferenças, é o mesmo: a história do roteiro seria contingente à história das formas de industrialização do cinema e, mais especificamente, do cinema hegemônico. Ou seja, mudanças nas formas de produção levariam a mudanças nas práticas e processos de escrita audiovisual.
Essa escolha metodológica, apesar de conduzir a uma perspectiva convincente do fenômeno, impõe dificuldades quando pensamos a história do roteiro à margem dos centros hegemônicos de produção. Por exemplo, no caso brasileiro, é impossível escrever a história do roteiro cinematográfico sem considerar, de um lado, as suas intermitentes tentativas de industrialização (Cinédia, Atlântida, Vera Cruz), e, de outro lado, a proximidade do campo profissional com a escrita televisiva (da Tupi à Rede Globo). Afinal, sabemos que uma história do roteiro no Brasil é também uma história das aproximações e tensionamentos entre a produção de cinema e das outras mídias (séries, minisséries, telenovelas, internet, videogame). Nesse sentido, ao contar essa história, pretendemos ampliar o nosso conhecimento sobre a própria história do audiovisual brasileiro, apresentando uma visão particular sobre a progressiva consolidação da profissão de autor-roteirista em nosso país. Como bem aponta Hernani Heffner (2021), em artigo com contribuições preliminares para a história do roteiro no Brasil: “Uma história real deve ser capaz de examinar a contribuição, muitas vezes mais decisiva artisticamente, das formas construídas pelos mais diferentes profissionais” (p. 90).
Esta apresentação tem o objetivo de apresentar as formas como a história do roteiro cinematográfico no Brasil foi contada, até agora, levando em conta a necessidade de uma sistematização histórica e de uma metodologia claramente delimitada. Trata-se de um passo inicial em um projeto mais amplo, financiado pelo CNPq, que visa apresentar uma história do roteiro brasileiro a partir de uma pergunta bifurcada: como se construiu, historicamente, a prática do roteiro cinematográfico no Brasil, levando em conta tanto as formas materiais de escrita audiovisual (formatação e estilo), quanto a consolidação de um campo profissional socialmente reconhecido?
Nesta apresentação, metodologicamente, pretendemos realizar uma pesquisa bibliográfica através do método de revisão sistemática da literatura (Galvão & Ricarte, 2020). Esse tipo de pesquisa permite observar diferentes percepções e análises sobre o mesmo fenômeno, contribuindo para que possamos analisar tanto a sedimentação de determinados pressupostos teóricos, quanto o estabelecimento progressivo dos dissensos acadêmicos. Por isso, nesse momento vamos restringir a nossa base de dados bibliográficos a artigos, monografias, teses e dissertações depositadas nos repositórios Scopus, Scielo, Web of Science, Portal de Periódicos e Banco de Teses e Dissertações da Capes. Os dados coletados serão cruzados e sistematizados com o uso do software MAXQDA, com o qual faremos mapas visuais de palavras-chave, termos reincidentes e autores recorrentes. Com isso, acreditamos oferecer uma relevante contribuição para a pesquisa sobre o roteiro audiovisual no Brasil, enfatizando as suas particularidades e contribuindo assim para a sua consolidação.
Bibliografia
- BANKS, M. J. The Writers: A History of American Screenwriters and Their Guild. New Brunswick, New Jersey, London: Rutgers University Press, 2015.
CALDWELL, J. T. Production Culture: Industrial Reflexivity and Critical Practice in film and television. Durham: Duke University Press, 2008.
CAPELATO, M. H. et al. História e cinema: dimensões históricas do audiovisual. . São Paulo: Alameda.
GONÇALO, P. . Hollywood de papel: Roteiros não filmados de Ben Hecht, Billy Wilder e Francis Marion. Rio de Janeiro, Zazie: 2022.
HEFFNER, H. Contribuição a uma história do roteiro. In: GONÇALO, P.; MONTEIRO, L. (Orgs.). Dossiê Estudos de roteiro: histórias e poéticas entre a palavra e a imagem. Esferas, ano 11, v. 2, n.21, mai./ago.2021. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/esf/issue/view/677.
MARAS, S. . Screenwriting: History, Theory, Practice. New York: Wallflower Press, 2009.
PRICE, S. A History of the Screenplay. London: Palgrave MacMillan, 2013.