Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Carolina Chaga (UAM)

Minicurrículo

    Graduada em Comunicação Social – Cinema e Audiovisual (UAM), Mestre e doutoranda em Comunicação (PPGCOM – UAM). Faz parte do corpo editorial da Insólita – Revista Brasileira de Estudos Interdisciplinares do Insólito, da Fantasia e do Imaginário. Temas de interesse de pesquisa: gêneros cinematográficos; ficção científica; cinema contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    Ex-Machina, ginoides e a representação da mulher no cinema

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho, resultado da dissertação de mestrado da autora, busca analisar Ex-Machina: Instinto Artificial (Reino Unido, 2014), de Alex Garland, com o objetivo de contextualizar esse filme no cinema contemporâneo, junto a um perfil de representações pontuais de mulheres artificiais no cinema, as ginoides, dentro de um recorte de obras com direção masculina. Pretende-se entender se Ex-Machina reforça (ou não) um processo de idealização/objetificação das mulheres em narrativas audiovisuais.

Resumo expandido

    Este trabalho, fruto da dissertação de mestrado da autora, busca analisar o longa-metragem Ex-Machina: Instinto Artificial (Reino Unido, 2014), escrito e dirigido por Alex Garland, focando em suas personagens femininas, especialmente a principal, Ava (Alicia Vikander). O longa conta a história de um jovem programador que recebe a oportunidade de visitar o recluso CEO da empresa em que trabalha e interagir com Ava, uma ginoide – termo feminino para androide – com inteligência artificial criada por este.
    Ao direcionar o foco para personagens femininas, é importante entender as mudanças constantes nos padrões da sociedade e o modo como a própria mulher mudou o olhar sobre si, e como isso contribuiu em relação aos arquétipos das ginoides. Julie Wosk destaca que: “As representações de mulheres artificiais frequentemente incorporam estereótipos de gênero, mas também são moldadas pela mudança de paradigmas sociais. O surgimento da nova mulher na América e na Europa no final do século XIX, o crescente movimento de mulheres na década de 60, a corrida espacial na América, tudo ajudou a moldar as representações de mulheres artificiais.” (WOSK, 2015)
    Essa representação feminina por meio de seres artificiais categoricamente é uma representação da mulher perante o olhar masculino. Laura Mulvey, em seu célebre ensaio Prazer Visual e Cinema Narrativo, já apontava a “mulher como imagem e o homem como o dono do olhar”, elucidando que, “num mundo governado por um desequilíbrio sexual, o prazer no olhar foi dividido entre ativo/masculino e passivo/feminino. (…) Em seu papel tradicional exibicionista, as mulheres são simultaneamente olhadas e exibidas, tendo sua aparência codificada no sentido de emitir um impacto erótico e visual de forma a que se possa dizer que conota a sua condição de ‘para-ser-olhada’.” (MULVEY, 1975, p. 444)
    Em síntese, esse tipo de representação que é mostrada na tela está relacionado ao olhar masculino sobre o corpo feminino e em como a sociedade aceita esse comportamento voyeurístico que é, na maior parte dos casos, inadequado e raramente lisonjeador. Ann Kaplan segue a linha de raciocínio de Mulvey ao dizer que “nossa cultura está profundamente comprometida com os mitos das diferenças sexuais demarcadas, chamadas de ‘masculina’ e ‘feminina’, que por sua vez giram em torno, em primeiro lugar, de um complexo aparato do olhar e depois de modelos de domínio-submissão. Tais posicionamentos assumidos pelos dois gêneros sexuais na representação privilegiam nitidamente o macho (através dos mecanismos de voyeurismo e fetichismo, que são operações masculinas e porque o seu desejo detém o poder/ação enquanto a mulher não).” (KAPLAN, 1995, p. 52)
    Para Teresa De Lauretis, o cinema como aparelho cinematográfico é uma tecnologia de gênero, apto a responder dois questionamentos chaves: “não apenas o modo pelo qual a representação de gênero é construída pela tecnologia específica, mas também como é subjetivamente absorvida pelas pessoas a que se dirige” (LAURETIS, 1987). Nesse caso, pensando na interpretação do público, para a teoria feminista isso é um conceito marcado pelo gênero, “o que equivale a dizer que as maneiras pelas quais cada pessoa é interpelada pelo filme, as maneiras pelas quais sua identificação é solicitada e estruturada no filme específico, estão íntima e intencionalmente relacionadas ao gênero do espectador.” (LAURETIS, 1987)
    A hipótese levantada – de que este longa é sintoma desse processo de idealização/objetificação das mulheres nas narrativas audiovisuais – acaba por se mostrar verdadeira, pois é possível identificar, dentro de Ex-Machina, perfis de projeção masculina junto com uma personagem feminina cujos gênero e sexualidade foram construídos de acordo com os objetivos de um personagem masculino que tem total dominação sobre ela. Todas as personagens femininas do longa são sempre observadas do ponto de vista masculino dentro da tela e controladas fora da tela por seu roteirista e diretor.

Bibliografia

    GRIMM, Joshua. Ex Machina (Constellations). Auteur Publishing, an imprint of Liverpool University Press, 2020.
    KAPLAN, Ann. A mulher e o cinema: os dois lados da câmera. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
    LAURETIS, Teresa De. A tecnologia de gênero. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). Pensamento Feminista: Conceitos Fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019, p. 121-155
    MULVEY, Laura. Prazer visual e cinema narrativo. In: XAVIER, Ismail (Org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal: Embrafilmes, 1983, p. 437-453.
    WOSK, Julie. My Fair Ladies: Female Robots, Androids, and Other Artificial Eves. Rutgers University Press, 2015. E-book Kindle.