Ficha do Proponente
Proponente
- Roderick Steel (USP)
Minicurrículo
- Formado em cinema nos EUA, com Mestrado e Doutorado em Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP), Roderick Steel tem participado de exposições e festivais de cinema, videoarte, antropologia visual e arte contemporânea, aliando a pesquisa sobre o pensar e fazer a imagem com dispositivos que atravessam linguagens e fronteiras artísticas, abordando temáticas que versam sobre o corpo performático e seu poder de intervenção, infiltração e agenciamento.
Ficha do Trabalho
Título
- CORPO-LUZ: Figurino e Montagem de um corpo-luz
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta proposta baseada na prática tem como objetivo discutir a relação entre a arte da performance e um dispositivo audiovisual experimental. Pretende delinear como corpos performáticos iluminados por figurinos brilhantes são expressivos de uma paisagem sonora em espaços e tempos distintos, e como estes arranjos corporais se potencializam na construção de artefatos audiovisuais concebidos para cinema, vídeo-instalação ou vídeo-performance, tendo como base uma obra em vídeo “OUVI-LAS”
Resumo expandido
- Apoiado na criação autoral de dispositivos experimentais irei explorar a relação entre o corpo performativo, a performance audiovisual e a paisagem sonora, para examinar como estes criam montagens entre espaços e tempos distintos Corpo-luz é um termo aqui sugerido e defendido dentro de uma experiência artística autoral executada em conjunto com Malu Hatoum, criadora de uma paisagem sonora entitulado “No Soy Branca” com o intuito de ampliar a atuação de áreas díspares como: Desenho de Performance, uma nova disciplina que se configura atualmente entre a performance e o desenho de cena; o termo “agenciamento” usado por Deleuze e Guattari que nos possibilita pensar na montagem, ou assemblage, como algo que se faz entre linguagens e dispositivos; a tradução de uma paisagem sonora de 25 minutos para uma linguagem audiovisual híbrida.
Se um corpo performático-sonoro intervém no mundo, “montando” relações entre sons e imagens através de uma intervenção corporizada, o cinema se apoia de um método similar para intervir conceitualmente nas imagens do mundo através da montagem entre imagens e sons. Pode ser que este é justamente o desafio principal do corpo na performance, de fazer em tempo real e ao vivo “cortes secos”, “elipses”, montagens dialéticas, paratáticas e afins, criando relações entre tempos, espaços, objetos, sons e imagens. A performatividade audiovisual não difere muito disso: constrói uma peça audiovisual como se fosse uma performance também, porém dentro de outro tipo de corpo visual e sonoro. É um dos desafios dessa apresentação determinar alinhamentos entre a montagem-intervenção corporizada da performance com a montagem-intervenção conceitual audiovisual. Especificamente, esta apresentação irá construir um olhar sobre o processo de construção do filme “OUVI-LAS” (https://vimeo.com/rodericksteel/hearthem) que partiu de uma paisagem sonora de 25 minutos criada pela artista e cantora Luiza Hatoum, que problematiza a construção da hidrelétrica de Belo Monte. O filme (financiado em parte pelo PROAC e lançado em 2022) parte da documentação audiovisual de uma série de performances feitas com indumentárias iluminadas em Garça, no interior paulista. Essas ações corporais materializam “seres híbridos” que contestam o efeito dessa barragem sobre as terras indígenas. O conceito de “perspectivismo” do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, que ele desenvolveu com base em seu trabalho de campo com grupos indígenas na Amazônia, desafia as noções ocidentais de natureza e cultura, sugerindo que diferentes seres, sejam humanos ou não humanos, percebem o mundo a partir de perspectivas ontológicas distintas. Ele argumenta que as fronteiras entre espécies, humanos e espíritos são fluidas e certas entidades podem incorporar uma multiplicidade de formas. Esta perspectiva desafia a dicotomia ocidental entre natureza e cultura, humano e não humano, sugerindo uma compreensão mais complexa e interligada do mundo. Ademais, nas culturas indígenas brasileiras, inclusive entre as tribos Yanomami e Xingu, a percepção e a interpretação da luz pelos xamãs costumam ter um significado simbólico e espiritual. Nestes estados alterados de consciência, eles podem perceber fenômenos luminosos ou radiantes que interpretam como manifestações de energia espiritual ou a presença de seres de outro mundo. A luz pode ser vista como um símbolo de iluminação espiritual, orientação ou transformação.
A obra experimental “OUVI-LAS”, portanto, transpõe uma paisagem sonora que problematiza as relações conturbadas entre a barragem, os seres-híbridos, os fenômenos luminosos e cantos indígenas para o universo poético audiovisual, a partir da documentação de corpos iluminados performáticos na cidade de Garça. Para experimentar potências entre o corpo na performance, o aparato cinematográfico e a montagem conceitual.
Bibliografia
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