Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Márcio Zanetti Negrini (PUCRS)

Minicurrículo

    Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde realizou Pós-doutorado Júnior com bolsa do CNPq. Integra o Kinepoliticom – Grupo de Pesquisa Cinema e Audiovisual: Comunicação, Estética e Política, e o Encruzilhadas – Grupo de Pesquisa em Cinema, Audiovisual, Tecnologias e Processos Formativos, ambos vinculados ao CNPq.

Ficha do Trabalho

Título

    Imagens do golpismo em documentários sobre o dia 8 de janeiro de 2023

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da tentativa de golpe bolsonarista, documentários abordaram imagens e personagens relacionados aos fatos de 8 de janeiro de 2023. O primeiro episódio da série “Ato 18 – O Golpe Contra Lula” é representativo sobre como os vídeos produzidos para mobilizar os ataques golpistas são deslocados de seus contextos de enunciação, revelando perspectivas críticas sobre o acontecimento histórico por meio da relação com as imagens que documentam o golpe civil-militar de 1964.

Resumo expandido

    O transcurso da experiência política e social brasileira ao longo da última década foi marcado pelo recrudescimento do autoritarismo histórico. Forças políticas regressivas tomaram de assalto o poder de Estado através do golpe parlamentar de 2016, anos depois consolidando-se com a eleição presidencial de Jair Bolsonaro. Diante disso, a linguagem bolsonarista da destruição (SARTLING; LAGO; BIGNOTTO, 2022) vocalizou-se no âmbito midiático, especialmente nas redes sociais digitais, espaço no qual o agora ex-presidente e seus aliados pautaram o desmonte do pacto democrático de 1988, segundo pressupostos persecutórios, armamentistas e punitivistas. O avanço da extrema direita e a consequente erosão da democracia brasileira foram amplamente registrados em imagens de documentários. São filmes com diferentes estratégias estéticas e narrativas, que demonstram perspectivas críticas sobre fatos que constituem o acontecimento histórico. Neste trabalho, focalizamos o recorte de análise na produção documentária audiovisual realizada diante das condições de tentativa de golpe de Estado perpetrada por apoiadores civis e militares de Jair Bolsonaro, que teve como fato emblemático o ataque às sedes do Governo Federal, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal, em 08 de janeiro de 2023. Localizamos cinco produções lançadas em plataformas de streaming, entre elas o curta-metragem Minidoc 8 de Janeiro (Agência Lupa, reportagem de Carol Macário, 2024), os longas-metragens 8 de Janeiro: O Dia que Abalou o Brasil (BBC News Brasil, direção de Caio Quero e Silvia Salek, 2023), 8/1 – A Democracia Resiste (GloboNews Doc., direção de Julia Duailibi e Rafael Norton, 2024), Anatomia de um Ataque Golpista (TV Folha, reportagem de Fabio Victor e outros, 2024) e a série documental em três episódios Ato 18 – O Golpe Contra Lula (Fórum Filmes, direção de Luiz Carlos Azenha, 2023). Os documentários em estilo de reportagem jornalística inferem sobre a realidade, segundo uma perspectiva informativa que elabora a materialidade visual a fim de produzir explicações sobre o ocorrido (PINEL, 2021; NINEY, 2020). Se os filmes prescindem da temporalidade reflexiva diante da imagem, por outro lado, atentam à organização dinâmica de múltiplas informações, sejam elas entrevistas sobre os bastidores políticos de resistência ao golpe, ou à recontextualização de imagens inicialmente produzidas e difundidas em redes sociais para mobilizar atos golpistas. No segundo caso, as imagens são deslocadas de seus contextos de enunciação e tornam-se arquivos (LINDEPERG, 2010) através da montagem dos filmes. Elencamos como representativo para análise o primeiro episódio da série Ato 18 – O Golpe Contra Lula, com 1 hora e 5 minutos de duração. A série é uma produção vinculada à Revista Fórum, que oferece perspectivas independentes em relação aos grandes grupos de mídia brasileiros. A construção visual da narrativa privilegia imagens que tiveram a finalidade de fomentar a adesão social ao acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, devido à vitória de Lula no segundo turno das eleições de 2022. O ódio, expressado pelo pânico moral contra a suposta hegemonia de esquerda na política, aparece em vídeos nos quais personagens efusivos recorrem a teorias da conspiração para, assim, celebrar a destruição de espaços institucionais simbólicos da vivência democrática e vociferar a intervenção das forças armadas contra a posse do futuro governante recém-eleito. Deslocados de seus propósitos originários, os vídeos tornados arquivos também são relacionados a imagens arquivísticas que documentam o golpe civil-militar de 1964. O encontro entre presente e passado, apresentado pelo episódio da série documental, expressa uma visualidade crítica (DIDI-HUBERMAN, 2017). Isso revela a atualidade do autoritarismo histórico no presente a fim de organizar a memória social sobre os acontecimentos e diante da reconstrução democrática.

Bibliografia

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tomam posição: o olho da história, I. Belo Horizonte: Editora. UFMG, 2017.

    LINDEPERG, Sylvie. (2010) Imagens de arquivos: imbricamento de olhares. Entrevistador: COMOLLI, Jean-Louis. In: Catálogo Forumdoc.BH. 2010, p. 318-345.

    NINEY, F. El documental y sus falsas apariencias. Cidade do México: Universidade Nacional Autônoma do México, 2015.

    PINEL, V. Los géneros cinematográficos: géneros, escuelas, movimentos y corrientes del cine. Barcelona: Ediciones Robinbook, 2008.

    SARTLING, Heloísa; LAGO, Miguel; BIGNOTTO, Newton. Linguagem da destruição: a democracia brasileira em crise. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.