Ficha do Proponente
Proponente
- Fernanda Pessoa de Barros (ECA/USP)
Minicurrículo
- Cineasta e artista visual, doutoranda na ECA/USP com pesquisa sobre o cinema experimental realizado por mulheres na América Latina, com orientação do Prof. Dr. Eduardo Morettin. Mestre em Audiovisual na Sorbonne Nouvelle, sob orientação de Philippe Dubois. Diretora dos longas “Histórias que nosso cinema (não) contava” (2017), “Zona Árida” (2019) e “Vai e Vem” (2022), seus trabalhos passaram em festivais como IDFA, DOC NYC, DocLisboa, DOKLeipzig, É Tudo Verdade, Festival de Brasília.
Ficha do Trabalho
Título
- Visto/Não-visto: a censura à pornochanchada na Ditadura Militar
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir do estudo de caso da videoinstalação Prazeres Proibidos (MIS-SP, 2016), realizada pela autora, a apresentação irá examinar a forma como a censura durante a Ditadura Militar operou nos chamados filmes de pornochanchada, os mais vistos e produzidos no período. Através da analise de documentos do Departamento de Censuras e Diversões Públicas e trechos cortados cópias lançadas em cinemas, revelam-se aspectos menos estudados da censura, notadamente seu viés moralizante e educador.
Resumo expandido
- A videoinstalação “Prazeres Proibidos” (exibida pela primeira vez no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, MIS-SP, em 2016) foi uma criação derivada do primeiro longa-metragem da autora intitulado “Histórias que nosso cinema (não) contava” (2017), que realizava uma releitura histórica da década de 1970 utilizando imagens e sons selecionados de filmes da pornochanchada, empregando a técnica do remploi, ou filme de montagem, para sua construção.
“Prazeres Proibidos” explorava o tema da censura cinematográfica imposta aos filmes brasileiros durante a ditadura militar, especialmente nos anos 1970, época em que o Serviço Federal de Censura de Diversões Públicas (S.C.D.P) e a Divisão de Censura de Diversões Públicas (D.C.D.P.) estavam ativos. O foco recai sobre a pornochanchada, o gênero mais prevalente e produzido no Brasil durante esse período. A pornochanchada, apesar do nome, não apresentava pornografia explícita, mas tratava-se de uma nomenclatura que fundia o prefixo “porno” (indicativo de conteúdo erótico e forma de categorizar a produção de forma pejorativa) com o sufixo “chanchada” (gênero de comédia popular dos anos 1940 e 1950).
Dentro do contexto dos sessenta anos do Golpe Militar cumpridos neste ano de 2024, o tema toma maior relevância.
A contextualização histórica da censura no Brasil remonta à chegada da corte portuguesa em 1808, quando foram nomeados “censores régios para supervisionar papéis e livros, zelando pela religião, governo e bons costumes” (ALBIN, 2002) . Ao longo do tempo, essa prática evoluiu com a criação de diversos órgãos censoriais, como a Censura das Casas de Diversão, criada pro Washington Luiz em 1928, e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) durante o Estado Novo. Durante a ditadura militar, a censura tornou-se mais intensa, com fases distintas de atuação, desde a moralização inicial até a distensão progressiva.
No período dos anos 1970, cada filme era submetido à análise de três censores, que determinavam os cortes necessários para sua liberação. Se os cortes exigidos comprometessem a compreensão do filme, recomendava-se sua interdição completa, resultando em prejuízos para os cineastas e produtores. Para evitar a interdição, os produtores muitas vezes concordavam em exibir versões retalhadas de seus filmes, negociando com os censores.
A análise das listas de cortes exigidas pela censura e a comparação com as versões dos filmes de pornochanchada revelou que algumas cenas censuradas encontravam-se nas cópias dos filmes, enquanto os originais permaneciam intactos. A videoinstalação “Prazeres Proibidos” estabelecia uma relação entre essas listas de cortes e a projeção dos trechos censurados, proporcionando uma reflexão sobre a prática censorial durante a ditadura militar.
Através do estudo de caso da videoinstalação Prazeres Proibidos, apresentada no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP) em 2016, a apresentação proposta examinará a operação da censura durante a Ditadura Militar, focando especificamente na pornochanchada, e buscará revelar aspectos menos explorados desse período histórico, como o viés moralizador e educativo da censura, através da análise de documentos do Departamento de Censuras e Diversões Públicas e trechos censurados das versões originais dos filmes.
Bibliografia
- A.DE LIMA, Venício. A censura disfarçada. In: Censura em debate. São Paulo: ECA/USP, 2014.
BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
COSTA, M. C. (Org.) A censura em debate. São Paulo: ECA/USP, 2014.
CRAVO ALBIN, Ricardo. Driblando a censura. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
SIMÕES, Inimá. Roteiro da Intolerância. São Paulo: SENAC, 1998.
ATTILA MARCELINO, Douglas. Subversivos e pornográficos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2011.
MATTOS, Sérgio. Mídia controlada: a história da censura no Brasil e no mundo. São Paulo: Paulus, 2005.
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.