Ficha do Proponente
Proponente
- Joanise Levy (Jô Levy) (UEG)
Minicurrículo
- Doutora em Estudos Artísticos – Estudos Fílmicos e da Imagem, Universidade de Coimbra, e doutora em Literatura pela Universidade de Brasília (cotutela). Mestre em Educação e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás. Professora e pesquisadora no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás. É roteirista, consultora de roteiro, membro da Rede Docente de Roteiro do Forcine e da Screenwriting Research Network.
Ficha do Trabalho
Título
- O ensino de roteiro, o ChatGPT e algumas perguntas sem respostas
Seminário
- Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Apesar de ser uma presença, por vezes, incômoda, marginal, insidiosa, as IAs já estão implicadas no processo de formação de roteiristas. Frente a esse fato, esta comunicação expõe os primeiros resultados de uma experimentação no uso do ChatGPT para a escrita de roteiros, com o objetivo de identificar a concepção de escrita que se revela no modelo de roteiro que a IA propõe. Esse estudo almeja contribuir com o debate sobre o ensino de roteiro no contexto das inteligências artificiais generativas.
Resumo expandido
- O uso de inteligência artificial (IA) na escrita de roteiros, especificamente o ChatGPT, surge como um elemento que problematiza os saberes que historicamente têm sido mobilizados no ato de escrever, tais como autoria, memória e competência textual. Por extensão, essa tecnologia impacta o trabalho docente voltado à formação de roteiristas, sobretudo por tornar ainda mais complexa a noção de autonomia criativa. Dada a natureza preliminar e exploratória deste estudo, esta comunicação expõe os primeiros resultados de uma experimentação no uso do ChatGPT para a escrita de roteiros. Os apontamentos aqui expressos integram a pesquisa mais ampla Escrita criativa de roteiros: metodologias aplicadas na formação de roteiristas, ora em desenvolvimento no âmbito da Universidade Estadual de Goiás.
O ChatGPT é um modelo de inteligência artificial desenvolvido pela empresa norte-americana OpenAI. GPT é a sigla para Generative Pre-Trained Transformer, algo como transformador pré-treinado generativo. Para gerar textos, o ChatGPT se alimenta de informações que coleta na internet em bilhões de páginas. Baseado em padrões e no cruzamento das informações, a interface transforma as perguntas dos usuários em respostas. Contudo, diferentemente do que ocorre em um mecanismo de busca, que apenas retorna os resultados, o ChatGPT é capaz de contextualizar o assunto pesquisado e elaborar textos, letras de música, poesias, contos e, em questão, roteiros audiovisuais.
A despeito dos desafios das mais recentes inovações tecnológicas, convém destacar que a educação é uma prática social dialógica, movida pela reflexão sempre renovada sobre o que aprender e como ensinar. Essas são balizas que norteiam a elaboração dos currículos e orientam as práticas pedagógicas. Nesse sentido, estamos situando o ChatGPT como um ambiente informal de aprendizagem, uma vez que ao imitar modelos, essa interface também oferece modelos a serem seguidos. Neste estudo, a partir do modelo de roteiro que a IA propõe, buscamos identificar a concepção de escrita audiovisual que se revela na resposta do chat.
Em duas ocasiões demandamos a IA na criação de um roteiro, sem indicar tema, premissa ou gênero. Em 2023, usando o ChatGPT 3.5, versão gratuita, digitamos: “escreva um roteiro de 10 páginas no formato master scenes”. Ele respondeu com um roteiro em 10 cenas, intitulado O mistério da mansão abandonada. Em 2024, agora utilizando o Screenplay, um gerador de texto específico do ChatGPT, com acesso pago, solicitamos: “escreva o roteiro de um curta-metragem”. A resposta foi o roteiro A última fotografia. Nos dois casos, a IA recorreu a um repertório que privilegia o cinema hegemônico, marcado por um desenho narrativo clássico. O roteiro elaborado pelo Screenplay, em particular, utilizou o círculo da história de Dan Harmon (2018), que é uma variação da jornada do herói, reelaborada por Christopher Vogler (2006) a partir do monomito de Joseph Campbell (1997). A análise do roteiro revelou inconsistências dramáticas, incorreções no formato master scenes, pouca inventividade narrativa e precariedade no manejo estrutural do enredo. É, portanto, um material rico para ser explorado em suas fragilidades, o que significa a apropriação pedagógica do “anti-modelo”.
Por outro lado, os erros da IA são transitórios, pois a cada interação ela segue aprendendo. A lógica de funcionamento do sistema sugere que respostas inteligentes dependem de perguntas bem elaboradas. Nada mais humano do que fazer perguntas, esse que é o impulso de todo aprendizado, o princípio que leva a descobertas e à produção do conhecimento. De igual modo, é preciso interrogar as respostas, colocá-las de novo em questão, submetê-las ao escrutínio e à dúvida.
Por vezes uma presença incômoda, marginal, insidiosa, as IAs já estão implicadas no processo de formação de roteiristas. Desse modo, esperamos que essa comunicação contribua para o debate sobre o ensino de roteiro no contexto das inteligências artificiais generativas.
Bibliografia
- CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 1997.
STUDIO Binder. Dan Harmon Story Circle: 8 Proven Steps to Better Stories. YouTube, 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-XGUVkOmPTA
OPENAI. ChatGPT. Disponível em: http://www.openai.com/chatgpt
VOGLER, Christopher. A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.