Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Iomana Rocha de Araújo Silva (UFPE)

Minicurrículo

    Professora do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE/CAA, doutora e mestre em comunicação pela UFPE, desenvolve pesquisa ligada à Direção de arte e ao cinema brasileiro contemporâneo. Diretora de arte e realizadora. Desenvolve trabalhos práticos na área de direção de arte e produção de arte para cinema desde 2007.

Ficha do Trabalho

Título

    Ressonâncias da matéria: Objetos e memória na imagem fílmica

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Proponho um olhar sobre a direção de arte de O Som ao Redor, Aquarius e Bacurau, filmes de Kleber Mendonça Filho, diretor que costuma explorar temáticas relativas a memórias individuais e coletivas e suas articulações com questões identitárias e de resistência.Observo, intermediada por Damazio (2006) e Baudrillard (2015), que dentro da construção da imagem destes filmes é explorada a dimensão afetiva e sensorial dos objetos, que regem as relações entre os personagens, os espaços e os tempos.

Resumo expandido

    Neste trabalho, proponho um olhar sobre a direção de arte dos filmes “O Som ao Redor” (2012), “Aquarius” (2016) e “Bacurau”(2019), filmes do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, que explora de forma recorrente em sua poética temáticas relativas a memórias individuais e coletivas e suas articulações com questões identitárias e de resistência. Focarei mais especificamente nos objetos que permeiam e contextualizam esses universos fílmicos. Cada momento histórico, em cada contexto geográfico, tem dinâmicas sociais próprias, modos, modas e objetos que acompanham cada especificidade cultural. Os objetos acompanham nossa existência, e em paralelo à sua utilidade e funcionalidade, existe também uma carga afetiva, uma ligação da ordem do sensível. Assim, podemos dizer que os objetos acumulam memórias, evocam sensações e sentimentos, são documentos históricos de um tempo, de um povo, de uma cultura. Apostando na ressonância da matéria como potência estética, pretendo explorar essa dimensão afetiva e sensorial dos objetos cotidianos, marcada pelo tempo e pelas relações sociais, e sua aplicabilidade na construção dos cenários e universos filmicos, na contextualização de personagens, na construção de mensagens simbólicas, como é possível observar, por exemplo, no museu da cidade do filme Bacurau, trazendo a memória da cidade como resistência, ou os objetos da protagonista Clara, de Aquários, marcando a construção de sua história pessoal, bem como os vestígios coloniais trazidos pelos objetos presentes nos cenários de O som ao redor, que evocam feridas de uma memória coletiva. Para direcionar esta análise, trago Damazio (2006) e sua definição de artefatos de memórias, que seriam os objetos que carregam memórias atribuídas afetivamente a momentos e pessoas e também Baudrillard (2015), que propõe que a organização dos objetos é motivada por questões intrínsecas relativas ao tempo, à cultura, a valores sociais e familiares. Nesse sentido, os objetos, no processo da concepção e construção da imagem fílmica, regem as relações entre personagens, espaços, memórias e temporalidades, trazendo narrativas visuais simbólicas que evidenciam a própria fortaleza material na mediação dessas relações sociais.

Bibliografia

    BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

    BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 2015.
    BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro : Bertrand, 2000.

    DAMAZIO, Vera. Design e emoção: alguns pensamentos sobre artefatos de memórias. In: 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design. Paraná, 2006.

    JUNQUEIRA, Thales. Direção de arte em cinema: leituras de um espaço. In: BUTRUCE, Debora; BOUILLET, Rodrigo (org.). A direção de arte no cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Mnemosine, 2017.