Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Laryssa Gabriele Moreira do Prado (Unicamp)

Minicurrículo

    Laryssa Moreira Prado é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Multimeios no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Mestra em Comunicação (PPGCOM/UFJF). Suas pesquisas centram-se no cinema de animação brasileiro a partir das categorias de diferença, em especial, o gênero. É fundadora do Projeto Brazilian Animation e integrante do Movimento Mulher Anima.

Ficha do Trabalho

Título

    Gênero e Raça: Mulheres Negras no Cinema de Animação Brasileiro

Formato

    Presencial

Resumo

    Considerando o cenário histórico de subalternização e discriminação da mulher negra no Brasil, o presente trabalho propõe uma investigação a partir da questão: quem é a mulher negra na animação nacional? De forma quali-quantitativa, a análise guia-se por três conceitos: representatividade, representação e categorias de diferença, avaliados junto à materialidade de dados recolhidos pelo Movimento Mulher Anima e curtas-metragens catalogados pelo projeto Brazilian Animation.

Resumo expandido

    Qual é o espaço das mulheres negras no cinema? Esse questionamento vem ganhando força na indústria audiovisual, principalmente no cinema live-action, fazendo com que, por estratégia de marketing ou real conscientização, elas ganhem (algum) protagonismo nas telas. Como exemplos da grande máquina norte-americana estão The Woman King (Gina Prince-Bythewood, 2022), no qual Nanisca (Viola Davis), comandante de um exército 100% feminino, e sua filha Nawi (Lupita Nyong’o), são guerreiras negras que lutaram contra os colonizadores franceses e seus planos de escravização; e a nova versão de Ariel, interpretada por Halle Bailey, atriz negra, em A Pequena Sereia (Rob Marshall, 2023).

    No Brasil, mulheres negras compõem a maioria da população, mas seus rostos, corpos e pautas ocupam um espaço ínfimo no cinema nacional. Além do racismo, machismo, sexismo e desigualdade social (FERREIRA; SOUZA, 2018), nos meios de comunicação e na produção audiovisual, quando representadas, as mulheres negras carregam marcas de subalternização, hipersexualização e imagens controladoras (COLLINS, 2000), estando ainda sob arquétipos como o da “mammy”, apresentado por Marlon Riggs, em Ethnic Notions (1987), entre outros.

    As mulheres pretas e pardas seguem sendo o grupo social menos representado em todas as principais funções do cinema brasileiro. Entre os 240 filmes analisados pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA, 2020) na pesquisa Raça e Gênero no Cinema Brasileiro (1995 – 2018): Desigualdades entre diretores(as), roteiristas e personagens de filmes nacionais de grande público, as mulheres negras não exerceram atividade de direção e roteiro em nenhuma das produções. A invisibilidade ainda persiste no elenco, onde elas compõem apenas 4% dos casts.

    De acordo com o GEMAA (2020), a academia brasileira também avançou pouco em pesquisas que relacionem as variáveis de gênero, raça e demais interseccionalidades. As investigações sobre a temática vêm sendo lideradas por vozes como Cleonice Elias da Silva, Gilberto Alexandre Sobrinho, Ceiça Ferreira, Edileuza Penha de Souza, entre outros autores e autoras. Mas, nestes casos, o que está em primeiro plano é o cinema live-action, deixando de lado as personagens que são construídas em sua totalidade, traços físicos e psicológicos, e que só existem na tela: as mulheres negras em suas versões animadas.

    Pensando nisso, esse artigo propõe uma investigação a partir da questão: quem são as mulheres negras na animação brasileira? A análise se norteia a partir dos conceitos de representatividade, representação e categorias de diferença. Em uma abordagem quantitativa, recorre a dados do Movimento Mulher Anima em seu registro das animações realizadas por mulheres no Brasil. Em seguida, para pensar na representação das mulheres negras de forma qualitativa, o projeto Brazilian Animation contribui para a construção do corpus de filmes a serem analisados, resultando em sete curtas-metragens animados realizados por homens e mulheres no período de 2001 a 2021. São eles: “O Lobisomem e o Coronel” (Elvis K. Figueiredo e Ítalo Cajueiro, 2002); “Sambatown” (Cadu Macedo, 2010); “Òrun Àiyé – A Criação do Mundo” (Cintia Maria e Jamile Coelho, 2015); “Tênis da Hora” (Thomate Larson, 2016); “Só sei que foi assim” (Giovanna Muzel, 2018); “EncruZilà – O poder da reza” (SnooTToonS Desenhos Animados, 2020) e “Carne” (Camila Kater, 2021). Por fim, associa-se as duas análises para entender de que modo as categorias de diferença, para além do gênero e raça, se interseccionam na produção animada nacional.

    Conclui-se que existem disputas pela criação de novos espaços e imaginários dentro da animação nacional, liderados principalmente pelas próprias mulheres, tanto dentro quanto fora das telas, mas o apagamento e o preconceito permanecem, ainda em ocasiões de interseccionalidade.

Bibliografia

    FERREIRA, Ceiça; SOUZA, Edileuza Penha de. Formas de visibilidade e (re)existência no cinema de mulheres negras. In: HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti. Feminino e Plural: Mulheres no cinema brasileiro. Campinas: Papirus, 2017.

    GEMAA. Raça e Gênero no Cinema Brasileiro (1995 – 2018): Desigualdades entre diretores(as), roteiristas e personagens de filmes nacionais de grande público. Disponível em https://tinyurl.com/gemma9. Acesso em 01 abr. 2024.

    SILVA, Cleonice Elias da. Mulheres negras no audiovisual brasileiro. DOC On-line – Revista Digital de Cinema Documentário, n. 23, p. 46-61, 2018. Disponível em: https://ojs.labcom-ifp.ubi.pt/index.php/doc/article/view/370. Acesso em 01 abr. 2024.

    SOUZA, Edileuza Penha de. Mulheres negras na construção de um cinema negro no feminino. Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, v. 7, n. 1, p. 171-188, 2020. Disponível em: https://aim.org.pt/ojs/index.php/revista/article/view/586. Acesso em 01 abr. 2024.