Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    James Zortéa Gomes (unisinos)

Minicurrículo

    Doutor em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS; Mestre pelo mesmo programa. Atualmente é professor dos Cursos de Realização Audiovisual (CRAV), Jogos Digitais, Design na Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS.

Ficha do Trabalho

Título

    Trânsitos no espaço do ateliê – Bruce Nauman e Buky Schwartz

Formato

    Presencial

Resumo

    Filmes realizados em ateliê por artistas visuais, em particular aqueles interessados no registro dos próprios processos e performances, geralmente recorrem a construção de estratégias que configuram um campo gráfico para a câmera. As performances de artistas como Bruce Nauman e Buky Schwartz organizam um programa de ações para o corpo em confinamento no ateliê. Eles registram o próprio trânsito no espaço de trabalho, onde observamos os gestos cinegrafados destas performances solitárias.

Resumo expandido

    Filmes realizados por artistas visuais, em particular aqueles interessados no registro dos próprios processos e performances, geralmente recorrem a alguma estratégia para configurar um campo gráfico com a câmera, na qual se determina um plano de procedimentos. A câmera estática em longas tomadas dentro do ateliê, por exemplo, é possível relacionar com os famosos vídeos e filmes em 16mm de Bruce Nauman, ao final de 1960. Esses filmes exibem performances do artista como um programa de ações para o corpo em confinamento no ateliê. Ele registra o próprio trânsito no espaço de trabalho, absorto em caminhadas balizadas por desenhos no chão. Acessamos apenas os gestos cinegrafados destas performances solitárias no ateliê, onde o corpo e as ações repetidas tornam-se o assunto. Nauman organiza um campo no qual promove exercícios reiterados, jogos beckettinianos para a câmera. Se Molloy, personagem de BECKETT (2007), organiza um programa recursivo para chupar as pedras nos bolsos, de maneira semelhante, Bruce Nauman também transita como um enigma programático, porém concebido para a câmera.
    Após os anos 60, Com o fim do período moderno, diversos artistas exploram a ênfase da “arte como ideia”, que é caracterizada por uma desmaterialização da obra e pela documentação da experiência fenomenológica, aspectos do início da arte conceitual (WOOD, 2002). Na vídeo-performance “Dance or Exercise on the Perimeter of a Square”, realizada em 1968, Nauman apresenta uma repetição ritmada de passos sobre um quadro inscrito no solo, encontrando potência na justa austeridade dos meios em benefício da ideia de processo. William Kentridge, afirma este mesmo interesse na obra de Bruce Nauman, no qual “tanto o filme como o ateliê se transformam em uma metáfora sobre o pensamento, sobre o processo de se chegar a uma ideia” (KENTRIDGE apud CIPRIANO, 2013).
    Ideias de experiências gravadas no ateliê, também estão presentes na série Videoconstructions, 1978, do artista Buky Schwartz. Ele também configura um campo de ações em relação à perspectiva da câmera. No entanto, Schwartz articula um jogo de camadas ilusórias, com as quais cria formas geométricas visíveis apenas na perspectiva da câmera, semelhante ao que Georges Rousse vai explorar na fotografia a partir dos anos 80. As formas enganosas de Buky Schwartz somente são reveladas com a progressão das ações no ateliê. Como no início de Videoconstructions – Segment 2, 1978, onde observa-se um triângulo, com arestas semelhantes, no centro do quadro, ver figura 8. Logo em seguida, o artista transita do fundo para a objetiva da câmera, movimentando-se em relação a profundidade do espaço. A caminhada do artista transpassa propositalmente a forma, com gestos que carregam certa ironia, para desvelar ao espectador uma minuciosa articulação das partes que estruturam o triângulo. A forma triangular é visível apenas na exata justaposição das camadas organizadas para a objetiva da câmera.
    Bruce Nauman e Buky Schwartz são apontados aqui como exemplos de formulações performáticas para um campo gráfico, cada qual com a sua intenção programática. Porém, ambos partem de evidentes demarcações para exploração do espaço do ateliê, planejados para a perspectiva da câmera. A câmera é posicionada como uma perspectiva para a ação, que revela um desenho prévio da situação, uma estratégia projetiva da ordem do pensamento gráfico.
    O trânsito no espaço do ateliê, muitas vezes de passos vagantes, busca sentido entre as coisas, que podem determinar territórios fecundos, até mesmo, prover ideias para desdobramentos de outros processos. Este trânsito de especulação não precisa ficar restrito à ideia de ateliê como confinamento entre quatro paredes. Por vezes, é preciso vagar para despertar o fazer criativo. A valorização dos passos errantes, o passare, termo do Latim, “pisar, caminhar, passar”, que inscreve um percurso, uma duração, um leito aberto pelo córrego de um rio, um trajeto de desvio observado nos filmes de Nauman e Schwartz.

Bibliografia

    BECKETT, Samuel. Molloy (Trad. Ana Helena Souza). São Paulo: Globo, 2007.
    KENTRIDGE, Kentridge, Entrevista com o artista sul-africano William Kentridge por FABIO CYPRIANO 04/09/2013 para Ilustrada – Folha de SP, 2013.
    YOUNGBLOOD, Gene. Expanded cinema. Introduction by R. Buckminster Fuller. A Dutton Paperback. P. Dutton & Co., Inc. New York: ARTSCILAB, 2001.
    NAUMAN, Bruce. Dance or Exercise on the Perimeter of a Square (Square Dance), 1968.
    RUSH, Michael. Novas mídias na arte contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
    ZORTÉA, James. Transpasses: uma poética em desenho e animação experimental / James Zortéa Gomes. – Tese de Doutorado – UFRGS, Porto Alegre, 2023.
    WOOD, Paul. Arte Conceitual. Tradução, Betina Bischof. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.