Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz Andrade Stefano (USP)
Minicurrículo
- Formada em cinema e audiovisual pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) no ano de 2019, realizou o projeto de iniciação científica (PIBIC) durante 2018 e 2019, mestra em comunicação na linha de pesquisa estética e cultura da imagem e do som pela UFPE no ano de 2022, deu início ao doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) em 2024 no Programa de Meios e Processos Audiovisuais na linha de pesquisa poéticas e técnicas
Ficha do Trabalho
Título
- A performance das gasolineiras em Mato seco em chamas (2022)
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir da indeterminação entre as experiências vividas e as imaginadas (BRASIL, 2011) buscaremos empreender uma análise sobre a poética do longa-metragem Mato seco em chamas (Adirley Queirós e Joana Pimenta, 2022) a partir da construção das personagens, as gasolineiras de Ceilândia/DF, explorando o corpo que performa uma relação liminar entre o real e a ficção. Nossa hipótese é que a narrativa se organiza nos encontros e desencontros destes corpos construídos e performados.
Resumo expandido
- Mato seco em chamas (2022) conta a história das gasolineiras de Ceilândia, Lea, Chitara, Andrea e China, que extraem, refinam e comercializam gasolina no Sol Nascente, favela de Ceilândia/DF. Como comentam os diretores, Adirley Queirós e Joana Pimenta, o argumento do filme surge a partir de duas questões a primeira delas é fabular como seria se o petróleo chegasse até a população de baixa renda e a segunda é contar a história através das filhas das primeiras mulheres que chegaram em Ceilândia após o despejo do morro do Urubu (favela formada em Brasília pelos trabalhadores que construíram a cidade). Assim como os três longas anteriores do diretor, A cidade é uma só? (2011), Branco sai preto fica (2014), Era uma vez Brasília (2017), a encenação é feita por atores não profissionais a qual entrelaça as experiências vividas por eles com a fabulação criada pelo diretor e nesse último longa também pela diretora.
A análise será feita a fim de compreender a construção das personagens Lea, Chitara, China e Andrea, as gasolineiras de Ceilândia, a partir da performance entre a experiência vivida e a imaginada (BRASIL, 2011). A performance é construída através dessa indeterminação e é encarnada pelo corpo posto como um meio que cria uma representação vacilante entre esses dois domínios. Esse corpo colocado em cena estabelece uma troca entre a bagagem histórica e social que carrega e a ficcionalização de um mundo possível. Acreditamos que a narrativa se organiza nos encontros e desencontros destes corpos construídos e performados. Existem duas cenas na primeira parte do filme que nos chamam atenção por provocarem aproximações e distanciamentos entre o real e a ficção, entre um passado e um presente das personagens. A primeira delas, fala sobre a vigilância sofrida por Lea no Sol Nascente e a ameaça iminente de um cenário que indica a continuação e ampliação da vigilância, violência e aprisionamento nos corpos da favela de Ceilândia. A cena também indica uma reação a essa ameaça que é desenvolvida ao longo do filme.
Nessa cena, Lea chega até a casa do seu irmão Cocão e comenta sobre ter precisado cortar o sinal da sua tornozeleira eletrônica para ir ao encontro dele. Ela está recém saída da prisão depois de uma “tranca” de 8 anos e 11 meses. Eles vão para o lado de fora da casa e no horizonte em frente a eles está sendo construída uma prisão federal através da mão de obra dos presidiários. Durante o diálogo, Cocão entra na casa e entrega a Lea a arma que ele guardou para ela durante os anos de sua prisão. É uma espingarda de madeira que ela segura vestida com uma jaqueta de couro preta e aponta em direção ao terreno onde a prisão será construída.
A segunda cena traz o relato de Lea e Andrea no tempo que cumpriam a pena dentro da prisão enquanto preparam um churrasco, junto a Chitara e China, no terreno onde elas extraem o petróleo e produzem a gasolina. É um testemunho sobre o modo de sobrevivência dentro do cárcere onde a música e o relacionamento entre mulheres foi essencial para elas conseguirem viver na situação de aprisionamento durante anos. Percebemos que esse relato que aparece no início do filme é importante, pois ele fala sobre um corpo que está entre o prazer e o aprisionamento e essa experiência parece reaparecer durante a narrativa mesmo com as personagens fora dos muros da prisão.
Diante disso, usaremos essas duas cenas como guias para pensar a performance das gasolineiras de Ceilândia por acreditar que elas conjugam o problema levantado por essa pesquisa sobre o corpo ser um ponto central para a organização da narrativa. Apesar de dar foco a essas duas cenas é importante contextualizar o aparecimento delas na narrativa, portanto elas não serão vistas de forma isolada levaremos em conta os acontecimentos que antecedem e sucedem as cenas.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio; Meios sem fim: Notas sobre política. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
BRASIL, André. A performance: entre o vivido e o imaginado. In: ANAIS DO 20° ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS, 2011, Porto Alegre. Anais eletrônicos… Campinas, Galoá, 2011.
CAMPOS, João P. Caveiras-berrantes: performance e profecia em “Era uma vez Brasília” (2017). GIS – Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia, São Paulo, Brasil, v. 8, n. 1.
FISCHER-LICHTE, Erika. The transformative power of performance. London: Routledge, 2008.
MARTINS, Leda Maria. Performance do tempo espiralar. Rio de janeiro: Cobogó, 2021.
MESQUITA, Claudia. Memória contra utopia: Branco sai preto fica (Adirley Queirós, 2014). In: ANAIS DO 24° ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS, 2015, Brasília. Anais eletrônicos… Campinas, Galoá, 2015.
________________. Um drama documentário? Atualidade e história em A cidade é uma só?. Revista Negativo, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 70–85, 2015.