Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    CIRO INACIO MARCONDES (UCB)

Minicurrículo

    Ciro Inácio Marcondes é professor universitário, crítico e pesquisador nas áreas de histórias em quadrinhos e cinema. É Doutor em Comunicação e Mestre em Literatura pela Universidade de Brasília, com passagem por Paris IV-Sorbonne (estágio de doutoramento) e Cambridge (visiting scholar). Professor do Mestrado Profissional Inovação em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília. Autor dos livros “ZIP – Quadrinhos e Cultura Pop” (2021) e “Mundo Míope” (2023).

Ficha do Trabalho

Título

    Alice de Cecil Hepworth e a cena britânica de cartoons no século XIX

Mesa

    Intersecções de linguagens no cinema, nos quadrinhos e na animação

Formato

    Presencial

Resumo

    O pioneiro do cinema britânico Cecil Hepworth realizou, em 1903, a primeira adaptação de Alice no País das Maravilhas para a então nova mídia. Realizado com ousadia para a época, em um formato tableau, este filme foi inovador em alguns sentidos. Este trabalho busca investigar como a influência do ilustrador John Tenniel (que ilustrou o “Alice” de Lewis Carrol) na obra de Hepworth nos ajuda a compreender as relações entre cartoons e quadrinhos no início da atividade cinematográfica no UK.

Resumo expandido

    O pioneiro do cinema britânico Cecil Hepworth realizou, em 1903, a primeira adaptação de Alice no País das Maravilhas para a então nova mídia. Realizado com ousadia para a época, em um formato tableau (com cenas mais ou menos autônomas conectadas por cortes em fusão), este filme foi inovador em alguns sentidos: na maneira engenhosa como utilizou determinadas técnicas narrativas como o stop-motion e as paradas para substitução; em sua duração, que contava que as plateias o vissem já conhecendo previamente a história escrita por Lewis Carrol; em algumas angulações e sofisticação no figurino. Por fim, o Alice de Hepworth teve forte influência das ilustrações que o famoso cartunista John Tenniel (da revista Punch) havia realizado originalmente para a publicação original da história. Os desenhos de Tenniel, publicados em ordem e posição específica em Alice nos País das Maravilhas (como um picture book), tiveram enorme influência no visual consagrado para esta história em outras mídias.
    Tenniel encabeçou, em meados do século XIX, um grande movimento de cartunistas, chargistas, ilustradores e quadrinistas, no contexto britânico, que afetaram a primeira era da produção cinematográfica. Da mesma forma, a chegada das mídias ópticas (e por consequência o cinema), especialmente a partir dos anos 1870, modificou a maneira como estes ilustradores passaram a representar relações como velocidade, movimento, fotorrealismo e a percepção em geral nos quadrinhos. Logo, trata-se de uma intensa relação de remedição entre quadrinhos e cinema ocorrida no período.
    A Punch Magazine (1841-2001) foi a mais proeminente publicação dentre as famosas “revistas ilustradas” britânicas do século XIX. Publicando não apenas textos críticos, crônicas e pequenos trabalhos de ficção literária (sempre com viés humorístico), mas também cartoons, charges, caricaturas, picture stories e quadrinhos, ela foi responsável por dar o tom da ácida crítica britânica aos costumes e eventos políticos dos século XIX, especialmente em sua primeira fase, até o século XX. Tornada instituição britânica, aos poucos ela vai se conformando ao establishment, retomando o teor crítico somente após a Segunda Guerra Mundial. Tenniel foi editor da Punch por vários anos e ajudou a consolidar a carreira de inúmeros artistas ingleses hoje considerados históricos, como John Leech e George du Maurier. Isso chamou a atenção do escritor Lewis Carrol, que convidou o editor da Punch para ilustrar a primeira edição de Alice no País das Maravilhas, consagrando o visual de Tenniel como uma referência básica para todo tipo de interpretação visual do livro de Carrol, incluindo inúmeras adaptações para o cinema.
    Este trabalho tem como intenção investigar a maneira como Tenniel e todo este contexto influenciaram o Alice no País das Maravilhas de Hepworth, buscando pensar relações históricas, estéticas e culturais. Uma destas abordagens consiste em comparar esse filme com as adaptações cinematográficas dos livros de Charles Dickens, feitas pelo também pioneiro Robert William Paul, baseadas por sua vez nas ilustrações de George Cruikshenk.

Bibliografia

    Barnes, John. 2014 [1976]. The Beginnings of the Cinema in England 1894 – 1901. Exeter: University of Exeter Press.
    Doran, Amanda-Jane (Org.). 1991. The Punch Cartoon Album: 150 Years of Classic Cartoons. London: Grafton.
    Gardner, Jared. 2012. Projections: Comics and the History of Twenty-First-Century Storytelling. Stanford: Stanford University Press.
    Higson, Andrew. 2002. “Alice in Wonderland and the Development of the Narrative Film”. In: Higson, Andrew (Org.). Young and Innocent? The Cinema in Britain 1896 – 1930. Exeter: University of Exeter Press, 2002.
    Lacassin, Francis. 1972. “The Comic Strip and Film Language”. Film Quarterly. Vol. 26. Número 1. Pp. 11-23.
    Muir, Percy. 1971. Victorian Illustrated Books. London: Portman Books.
    Walasek, Helen. 2008. The Best of Punch Cartoons. 2000 Classic Ilustrations. London: Prion.