Ficha do Proponente
Proponente
- Tiago Bravo Pinheiro de Freitas Quintes (UFF)
Minicurrículo
- Tiago Quintes é pesquisador e técnico em audiovisual no Instituto Federal Fluminense, em Campos dos Goytacazes. Possui graduação em Cinema (Universidade Estácio de Sá – RJ) e especialização em Artes Visuais: Cultura e Criação (Senac – RJ). É Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCine – UFF), onde atualmente cursa o Doutorado.
Ficha do Trabalho
Título
- O monumento ao exibidor Arthur Rockert e sua função memorial
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente trabalho, a partir de um monumento em homenagem ao exibidor Arthur Rockert, falecido em 1910, em Campos dos Goytacazes – RJ, busca entender se permanece na memória coletiva campista traços das atividades exercidas nos primórdios do cinema. O objetivo é detectar a permanência, ou ausência, de informações sobre o ofício de Arthur Rockert e sua família (Empresas Rockert), para dessa forma analisar se a função primordial do monumento centenário ao Rockert permanece sendo cumprida.
Resumo expandido
- A EMPRESA ROCKERT
Arthur Rockert foi um empresário na cidade de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, que atuava em variados ramos: importação de máquinas de costura, comércio de varejo, representação de jornais do Brasil e do exterior, tipografia, e também no ramo das diversões. Em 1899, a Empresa Rockert (compreendidos assim os empreendimentos de Arthur Rockert em sociedade familiar) realizou duas temporadas de exibições cinematográficas em um salão na cidade de Campos dos Goytacazes. No mesmo ano, e no ano seguinte, Waldemar Rockert, irmão de Arthur, percorreu algumas cidades do sudeste brasileiro realizando exibições de cinematógrafo no padrão dos exibidores ambulantes (QUINTES, 2022).
Em 1901, no Moulin Rouge, uma loja-café-tabacaria que possuía com seus irmãos em Campos dos Goytacazes, Arthur Rockert já havia realizado testes de eletricidade. Em 1905 fez reformas no local, que passou a ter um pequeno palco e tela, oferecendo assim sessões híbridas de teatro e cinematógrafo. As sessões de cinema no Moulin Rouge ganharam força e constância a partir de 1907, quando Rockert assinou contrato com a empresa Marc Ferrez & Filhos para a exibição de filmes da Pathé Frères. O Moulin Rouge permaneceu em existência até 1912, mesmo após o falecimento de Arthur Rockert, que ocorreu em 1910 (QUINTES, 2022).
O MONUMENTO
Embora pouco comentado, em Campos dos Goytacazes há um busto do Rockert, com dedicatória. O monumento está localizado no Teatro Trianon, inaugurado em 1998 como uma solução à demolição do Cine Theatro Trianon, erguido em 1921 e demolido em 1975. O novo teatro preserva em suas paredes muitas placas do antigo Cine Theatro. O monumento, que não possui documento de registro, é uma placa de metal destinada a ser fixada na parede. Possui um recorte de bordas especial, e carrega em alto relevo o busto de Arthur Rockert. Há, abaixo do busto, uma dedicatória: “A ARTHUR ROCKERT, O INTRODUTOR DO CINEMA EM CAMPOS, O POVO”. Rockert não foi o primeiro a realizar uma exibição na cidade, mas sua atuação no ramo foi marcante principalmente devido ao investimento cinematográfico no Moulin Rouge, principal local de exibições em Campos dos Goytacazes no início do século XX (QUINTES, 2022).
Da demolição do antigo Cine Theatro Trianon, em 1975, até a inauguração do novo Teatro Trianon passaram 23 anos. A atitude de preservação dos monumentos, somada à instalação no novo espaço com acesso público, abriram possibilidades para que a placa em homenagem a Rockert permanecesse exercendo sua função social até a contemporaneidade. Compreendendo que a memória “é um fenômeno construído” (POLLAK, 1992, p.204) e que “a memória dos mortos é um recurso essencial para a identidade” (CANDAU, 2019, p.150), o monumento à Arthur Rockert poderia ganhar relevância pela sua função social e cultural. Arthur Rockert faleceu em 1910, onze anos antes da inauguração do antigo Cine Theatro Trianon. Dessa forma o motivo da criação de uma placa em sua homenagem se justifica no cine teatro erguido em 1921: seria um reconhecimento do pioneirismo de Rockert no ramo cinematográfico. A placa foi feita para que os habitantes da cidade não esquecessem do trabalho de Arthur Rockert, mantendo viva, assim, a memória cinematográfica local.
Existe a afirmação de que o monumento “é um legado à memória coletiva” (LE GOFF, 1990, p.536), porém, a preservação do monumento, por si só, não é o bastante para que sua função permaneça efetiva. Os vestígios do passado necessitam de ritos, liturgias, para serem transmitidos, e assim exercerem sua função social (CATROGA, 2015). Portanto, será que Arthur Rockert ainda habita a memória coletiva dos moradores da cidade? Traços de memória, detalhes sobre sua biografia, permaneceram vivos, passados mais de cem anos de seu falecimento? O que é preciso para se manter presente na memória coletiva? São perguntas que o atual trabalho suscita e busca responder.
Bibliografia
- CANDAU, J. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2019.
CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Rio de Janeiro: FGV, 2015.
LE GOFF, J. História e memória. Trad.: Bernardo Leitão et al. Campinas, SP: Unicamp, 1990.
POLLAK, Michel. Memória e identidade social. Revista de Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.5, n.10, 1992, p. 200-212.
RESGATE DO CINEMA CAMPISTA. Direção: Paulo Barreto. Brasil: Newtec Sound + Video Produções, 1998, arquivo digital. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=xszXMTB0C-Q (Último acesso em 01/04/2024).
QUINTES, Tiago B. P. F. Atrações visuais e os primórdios do cinema em Campos dos Goytacazes. Dissertação de Mestrado. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2022.