Ficha do Proponente
Proponente
- Patrícia Sequeira Brás (FLUC-CEIS20)
Minicurrículo
- Patrícia Sequeira Brás concluiu a sua pesquisa de doutoramento em 2015, em Birkbeck, Universidade de Londres. Lecionou em Queen Mary e Birkbeck, na Universidade de Londres, e depois na Universidade de Exeter. Ocupou a posição de investigadora assistente na Universidade Lusófona de Lisboa, e atualmente ocupa o cargo de professora auxiliar convidada na Universidade de Coimbra. A sua primeira monografia The Political Gesture in Pedro Costa será publicada em 2024 pela editora Peter Lang.
Ficha do Trabalho
Título
- Problematizar o uso do arquivo fotográfico no cinema decolonial
Seminário
- Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas
Formato
- Presencial
Resumo
- Reconhecendo que a fotografia e o cinema são tecnologias inerentemente imperialistas, pretendo problematizar o recurso ao arquivo fotográfico colonial no cinema decolonial contemporâneo através da análise de dois filmes distintos: A embaixada (2011) de Filipa César e Constelações equatoriais (2021) de Silas Tiny.
Resumo expandido
- Ariella Aïsha Azoulay argumenta que “a fotografia foi construída conceitualmente a partir do saque imperial”, sugerindo assim que o advento da fotografia está entrelaçado com a história do colonialismo (2021: 78). A fotografia surgiu da necessidade colonial de documentar, registar e classificar o que já existia “para olhos imperiais” (Azoulay, 2021: 78). Podendo assim registar mas também replicar a extração de recursos naturais e de capital humano nos territórios colonizados. Como no caso da fotografia, o cinema também se tornou um instrumento de poder, (Stam, 2000), e o seu início coincide também com o auge do imperialismo (Shohat, 1991).
Assim sendo, e reconhecendo que a fotografia e o cinema são tecnologias inerentemente imperialistas, na minha comunicação proponho examinar o recurso ao arquivo fotográfico colonial no cinema decolonial contemporâneo através da análise de dois filmes distintos: A embaixada (2011) de Filipa César e Constelações equatoriais (2021) de Silas Tiny.
No primeiro filme, o arquivista guineense Armando Lona folheia as páginas de um álbum fotográfico que compila imagens coloniais de paisagens naturais, edifícios e infraestruturas, e locais de diferentes comunidades étnicas, bem como grupos constituídos por colonos e “assimilados” na tentativa de validar o suposto caráter multicultural e multirracial do colonialismo português, sustentado pelo mito do luso-tropicalismo. Assim defendo que o filme parece reproduzir a taxonomia colonial implícita nas imagens do arquivo. Pois, ao distanciar o espectador do que é visto, o duplo enquadramento da imagem realça, ao invés de apagar, a perspectiva do poder colonial. Em Constelações equatoriais (2021), Silas Tiny utiliza também imagens de arquivo e testemunhos sobre a ponte aérea em São Tomé e Príncipe destinada a resgatar crianças do conflito de Biafra. No entanto, Tiny usa o arquivo fotográfico com mais parcimônia do que César, recorrendo aos depoimentos das pessoas envolvidas no conflito para testemunhar a violência vivida por essas crianças, e recusando o uso de imagens amplamente divulgadas do conflito.
Bibliografia
- Azoulay, A. A. (2021). “Toward the abolition of photography’s imperial rights”. In K. Coleman & D. James (Eds.), Capitalism and the camera (pp. 72–128). Verso.
Hall, S. (2003). “The spectacle of the other”. In S. Hall (Ed.), Representation: Cultural representations and signifying practices (pp. 223–278). Sage Publications.
Oliveira, A. de B. (2016). “Descolonização em, de e através das imagens de arquivo ‘em movimento’ da práctica artística”. Comunicação e Sociedade, 29, 107–129. https://doi.org/10.17231/comsoc.29(2016).2412
Shohat, E. (1991). “Imaging terra incognita: The disciplinary gaze of empire”. Public Culture, 3(2), 41–70.
Stam, R. (2000). Film theory: An introduction. Blackwell Publishers.