Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Keiserman de Abreu (PUC Rio)

Minicurrículo

    Ana Abreu é graduada e mestre em Psicologia e doutoranda em Comunicação Social na PUC Rio, na linha de pesquisa Comunicação e Produção. Atua como roteirista de cinema e TV. Trabalhou em diversas séries documentais e longas documentários. Também é professora em cursos livres de roteiro, consultora e palestrante.

Ficha do Trabalho

Título

    Mulheres do jogo do bicho: construção de personagens em Vale o Escrito

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Muitas séries documentais contemporâneas apresentam características de narrativa ficcional: curvas dramáticas, viradas, ganchos e, principalmente, construção de personagens. Os personagens ocupam um lugar privilegiado nesse gênero: são, na maioria dos casos, quem conduz a narrativa. Nesse sentido- e considerando ainda que o audiovisual ocupa um lugar privilegiado de representações de gênero-, o trabalho analisa a construção de personagens femininas na série Vale o Escrito, do Globoplay.

Resumo expandido

    O mercado audiovisual brasileiro vem experimentando grandes e rápidas transformações, e parte delas se relaciona diretamente com a chegada (e permanência) das plataformas de streaming no país, que alterou a forma de se produzir e consumir conteúdos audiovisuais. Apesar de as séries de ficção ainda serem as maiores audiências das principais plataformas de streaming, não é possível negligenciar o aumento da produção de séries documentais, assim como seus números de audiência e repercussão na mídia. Tal gênero, para trazer audiência e engajamento, precisa apresentar características que muitas vezes o assemelha à narrativa ficcional: curvas dramáticas, viradas, ganchos e, principalmente, construção de personagens.
    Os personagens ocupam um lugar privilegiado nas séries documentais: são, na maioria dos casos, quem conduz a narrativa e com quem geramos conexão. De forma diferente da ficção, na linguagem documental os personagens precisam ser construídos a partir do que são: pessoas “comuns” e não atores. Nesse sentido, Guzmán (2017) cita o diretor e roteirista Rithy Panh quando este afirma que deve-se “filmar pessoas, não personagens, filmar a vida e encontrar a dramaturgia que se transforma em história, num filme”. O autor afirma que, na narrativa documental, os personagens são quase insubstituíveis, os agentes narrativos mais inevitáveis. No mesmo sentido, Nichols pondera que a afirmação mais precisa em relação ao documentário seria que os mesmos tratam de pessoas reais que não desempenham papéis, representando ou apresentando a si mesmas. Porém, assim como na ficção, os personagens precisam servir à narrativa: é importante que sejam complexas e multidimensionais.
    Ainda que a linguagem documental seriada contemporânea possua uma forma narrativa específica, é possível se apropriar do que coloca Spuldar (2006) quando postula que é prerrogativa exclusiva do documentário, quando colocado em contato com a ficção, é que “o público acredita na veracidade daquilo que vê, na ligação direta das imagens com seu mundo vivido” (p. 16). Assim, de forma diferente da ficção, a linguagem documental pressupõe a construção de personagens a partir de um recorte de realidade que é posta, e não completamente ficcionalizada.
    Nesse sentido- e considerando ainda que o audiovisual ocupa um lugar privilegiado de identificação, representações e reforço de estereótipos de gênero-, o presente trabalho analisa a construção de personagens femininas na série documental Vale o Escrito, do Globoplay.
    A série documental, que mostra o submundo essencialmente masculino e violento do jogo do bicho no Rio de Janeiro, teve grande audiência e repercussão na mídia, além de ter segunda temporada confirmada. A narrativa, apoiada na busca pela compreensão da complexa engrenagem da herança do jogo do bicho, traz algumas personagens femininas, como Sabrina Garcia, as irmãs gêmeas Shanna, Tamara Garcia, Denise Frossard e Ana Cláudia Soares. São mulheres que ocupam lugares de representação específicos e têm sua construção pensada a favor da narrativa. O trabalho analisa a função de cada uma delas dentro da curva dramática da série documental, a partir de elementos como montagem e falas, à luz das representações de gênero.

Bibliografia

    GUZMÁN, Patrício. Filmar o que não se vê: um modo de fazer documentários. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017.

    HELICH, Tatiana; MORATELLI, Vlamir; SICILIANO, Tatiana Oliveira. Era uma vez um crime: A linguagem documental e o gênero da ficção policial. Zanzalá, v. 7, p. 98-117, 2021.

    LINS, Consuelo; MESQUITA Claudia. Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. São Paulo: Papirus, 2016.

    PUCCINI, Sérgio. Roteiro de documentário: da pré-produção à pós- produção. Campinas: Papirus, 2012.

    SPULDAR, Rafael Pinto. Personagem e autoria no documentário de João Moreira Salles. 2006. 132 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade de Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2006.