Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    MAURICIO VASSALI (PUCRS)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde desenvolveu pesquisa sobre imagens de operários no cinema brasileiro. É bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e, atualmente, é professor substituto no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).

Ficha do Trabalho

Título

    Estrada e trabalho: deslocamentos de operários no cinema brasileiro

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho é um recorte de uma pesquisa de doutorado que analisa imagens do operário no cinema brasileiro em dois períodos: 1978-1983 e 2015-2020. Entre outras recorrências, a estrada e os deslocamentos dos trabalhadores surgem representando tanto o trajeto casa-trabalho, quanto o lazer e a busca por novas oportunidades. Propõe-se, então, uma reflexão sobre como tais representações imaginam formas políticas e reinventam olhares sobre a realidade social e laboral.

Resumo expandido

    Este trabalho é um recorte de uma pesquisa de doutorado em que se buscou analisar imagens recorrentes do operário no cinema brasileiro. Especificamente, buscamos narrativas protagonizadas por trabalhadores urbanos em obras de ficção e documentário realizadas em dois períodos distintos da cinematografia nacional (e da realidade do trabalhador): os anos de 1978-1983, durante a ditadura militar e as grandes greves de trabalhadores, e os anos recentes 2015-2020, já num contexto de reforma trabalhista e evidente precarização das condições de trabalho de maneira generalizada. A metodologia consistiu em aproximar imagens pertencentes a tempos distintos a partir de suas temáticas e gestos, propondo montagens de recorrências. Como base para as montagens de aproximações, o entendimento da imagem dialética, segundo Walter Benjamin (2009) foi fundamental, assim como o de imagem sobrevivente em acordo com Georges Didi-Huberman (2011; 2013). Conceitos como os de duração e cristalização do tempo a partir do choque entre as imagens, foram mais bem entendidos à luz de Henri Bergson (2006; 2010) e Gilles Deleuze (2012). A partir do gesto de desmontagem e proposta de nova montagem através da apropriação que se fez das imagens dos filmes analisados, diferentes categorias de recorrências foram levantadas. Entre elas, as imagens em que os trabalhadores se deslocam no espaço-tempo narrativo renderam análises que observam as personagens para além dos ambientes laborais. Neste caso específico, ao considerar obas como Arábia (2016), Pela Janela (2017), Eles não usam black-tie (1981), Estou me guardando para quando o carnaval chegar (2018), Ruim é ter que trabalhar (2015) e Braços cruzados, máquinas paradas (1978), notou-se, além do trajeto casa x trabalho, o deslocamento dos trabalhadores em função do lazer e também em retirada, em busca de novas oportunidades, atualizando, de certa forma, a figura do retirante. A análise das imagens apresentadas revela a estrada como um elemento de forte presença, representando tanto o caminho em busca de trabalho quanto o lazer e a jornada rumo ao desconhecido. Enquanto alguns personagens enfrentam desafios diversos em suas jornadas, experimentando transformações pessoais e sociais, outros vivenciam o deslocamento árduo e solitário para o trabalho, destacando a precariedade das condições e o tempo perdido no trajeto. A presença recorrente de ambientes como botequins e praias, assim como atividades como o futebol, apresenta expressões do lazer e da sociabilidade dos trabalhadores, revelando também as disputas políticas e as transformações históricas nas formas de vivenciar o tempo livre. Ao propor uma montagem da recorrência da estrada nas narrativas de trabalhadores urbanos (a ser exibida na ocasião da apresentação do trabalho), entramos em acordo com Rancière (2012), para quem as imagens e as histórias de trajetos, viagens e caminhantes imaginam formas políticas que se reinventam em múltiplas maneiras ao inventarem olhares, disporem corpos nos espaços e transformarem os lugares nos quais percorrem.

Bibliografia

    BENJAMIN, W. Passagens. Belo Horizonte: Ed. UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
    BERGSON, H. Duração e simultaneidade. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
    BERGSON, H. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
    DELEUZE, G. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 2012.
    DIDI-HUBERMAN, G. A imagem sobrevivente – História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2013.
    DIDI-HUBERMAN, G. Ante el tiempo – Historia del arte y anacronismo de las imágenes. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2011.
    RANCIÈRE, J. As distâncias do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012
    RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.