Ficha do Proponente
Proponente
- Flávia Seligman (UFRGS/IFRS)
Minicurrículo
- Jornalista pela PUC RS (1986), Doutora em Artes pela USP (2000). Professora da PUC RS (1993-2001), UFRGS (1999-2003), ESPM (2010-2016), Unisinos (2003-2020), UFPEL (2021 – 2023) e IFRS (2024 -). Realizando estágio de pós-doc no PPGCOM da UFRGS (2023-2025). Realizadora Audiovisual, sócia da Marina Filmes, de Porto Alegre. Parecerista de projetos culturais. Membro da Comissão de Avaliação e Seleção do Fumproarte, PMPA (2022-2024). Cadastrada como avaliadora de projetos culturais pelo MINc (2024).
Ficha do Trabalho
Título
- Nosso lado da história: Os cinejornais e o Governo Castelo Branco
Formato
- Presencial
Resumo
- Trabalho integrante da pesquisa de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS, aborda a questão da propaganda oficial, através dos cinejornais oficiais, nos primeiros anos da Ditadura Militar Brasileira, o Governo Castelo Branco (1964-1967). O estudo busca entender, através da análise estética e narrativa, como os cinejornais buscavam retificar a figura de Castelo como um presidente necessário para a segurança (livre da ameça comunista) e o desenvolvimento da nação.
Resumo expandido
- Na madrugada de primeiro de 31 de março para 01 de abril de 1964, as tropas do General Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Divisão de Infantaria em Juiz de Fora, MG, desceram para o Rio de Janeiro para dar início a um golpe que vinha sendo articulado por generais, empresários, e governadores de oposição, para depor o Governo João Goulart.
No Rio os comandados de Mourão uniram-se a outros rebeldes e, sem nenhuma resistência, depuseram o Presidente Goulart. Jango foi para Brasília, de lá rumou com a família para a sua fazenda em São Borja, no Rio Grande do Sul e, por fim, se exilou no Uruguai, de onde só voltou morto.
O golpe deu início a uma ditadura militar de 21 anos, que torturou, matou, censurou e exilou brasileiros, com o apoio de potências como os Estados Unidos e atuando em colaboração com outros países da América do Sul.
Durante todo o período os governos utilizaram a máquina de propaganda para falar bem de si mesmos, mostrar que estavam no caminho certo e trazer mensagens de ufanismo, como Brasil, ame-o ou deixei-o e Povo desenvolvido é povo limpo.
Este trabalho faz parte da pesquisa de pós-doutorado desenvolvida no programa de pós-graduação em comunicação, da universidade Federal do Rio Grande do Sul, “O Brasil é do Castelo”, que estuda os cinejornais oficiais durante o governo Castelo Branco (1964-1967).
Os cinejornais oficiais iniciaram governo de Getúlio Vargas, quando foi criado o DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda, em 1939, já sob o regime do Estado Novo. O DIP, entre seus feitos, além do controle e difusão da informação, encarregava-se da propaganda institucional.
Em 1938 foi exibida a primeira edição do Cine Jornal Brasileiro. Como o Departamento de Propaganda Nacional ainda não contava com uma estrutura técnica para lidar com a feitura dos filmes de atualidades, a Cinédia, produtora de Adhemar Gonzaga, amigo íntimo de Vargas, ficou encarregada de sua produção e, para resolver o problema da distribuição, foi constituída a Distribuidora de Filmes Brasileiros (DFB). Com o DIP equipado e a produção institucionalizada, a produção dos cinejornais ocupou um espaço como quase único informativo brasileiro.
Em 1945 a Agência Nacional surge como parte integrante do Departamento Nacional de Informações (DNI), que substituiu o DIP após a publicação do Decreto-Lei n. 7.582, de 25 de maio de 1945. Os filmes, a partir desta data, passam a ser produzidos pela Agência que substitui o DIP e funcionam como uma espécie de resumo dos principais acontecimentos da semana, podendo também trazer temas específicos, como a inauguração de obras públicas, visitas presidenciais e datas comemorativas.
A ditadura militar, em seus primeiros e até os anos 1970, utilizou os cinejornais oficiais (e a imprensa amiga, por certo) para consolidar a sua versão dos fatos e dos personagens, glorificando ações e discursos.
A imagem difundida pela produção da Agência Nacional representa apenas um lado da história, confiante e otimista nos rumos que a “revolução” poderia dar ao Brasil. Deste modo os filmes da AN publicizavam a ideia de que apenas um governo militar conseguiria encaminhar o Brasil para um futuro de ordem e desenvolvimento.
A propaganda política, per se, tem a função de referendar e legitimar os atos registrados, como que dando uma base de verdade para as ações governamentais. No cinema esse comentário fica mais forte pelo uso de imagem e som em movimento e o seu impacto frente ao espectador. Nos cinejornais, teoricamente, exibia-se a verdade, aquilo que realmente estava acontecendo, então essa referência aos fatos oficiais era de suma importância. Não cabia ao espectador duvidar das verdades estabelecidas.
Entendemos assim que a Agência Nacional teve papel preponderante na difusão e ratificação dos governos militares e são seus filmes, como instrumentos de publicidade que tencionamos abordar.
Bibliografia
- 1. FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginário social no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997.
2. FREITAS, Isadora Dutra de. Otimismo nas telas: a propaganda oficial da ditadura civil-militar nos cinejornais da agência nacional (1964-1979). Dissertação. Programa de Pós-Graduação em História. PUC, RS. Porto Alegre, 2020.
3. GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
4. LIRA NETO. Castelo: a marcha para a ditadura. São Paulo: Contexto, 2004.
5. LIRA NETO. Getúlio 1882-1930 dos Anos de Formação a Conquista do Poder. Companhia das Letras: São Paulo, 2012.
6. SANTOS NETO, Antonio Laurindo dos. Os cinejornais da Agência Nacional no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) e no Portal Zappiens: contribuições para análise, descrição e representação arquivística da informação. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – UFF/ IACS, 2014.