Ficha do Proponente
Proponente
- Fernanda Andrade Fachin (USP)
Minicurrículo
- Bacharel em Cinema pela UFSC e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA-USP, onde desenvolve pesquisa sobre Stan Brakhage e Andy Warhol.
Ficha do Trabalho
Título
- A visão de Brakhage e a visibilidade de Warhol
Formato
- Presencial
Resumo
- O que se propõe aqui é uma comparação entre os trabalhos de Stan Brakhage e Andy Warhol desde o início dos anos 1950 até 1963, quando Warhol começa a filmar. Num primeiro momento, a produção fílmica de Brakhage e a produção artística de Warhol serão discutidas em paralelo. Em seguida, apresentaremos uma análise comparada de “Sleep” (1963-1964) e “Dog Star Man” (1961-1964) – filmes muito contrastantes e finalizados no mesmo ano, que marcam o cruzamento dessas obras no cinema.
Resumo expandido
- Andy Warhol e Stan Brakhage foram duas figuras paradigmáticas da segunda metade do século XX. Suas obras formam um conjunto amplo de experimentações nas artes e no cinema, frequentemente testando os limites dessas expressões. Ao longo de cinquenta anos de trabalho (1952-2003), Brakhage realizou cerca de 400 filmes das mais diversas durações, em diferentes formatos e a partir de procedimentos técnicos variados. Warhol, em sua produção fílmica extremamente concentrada (1963-1969), não fica atrás, tendo sua produção dos “Screen Tests” estimada em cerca de 500 filmes. Do ponto de vista do volume da produção, portanto, falamos de figuras muito prolíficas, cujas obras tomam contornos monumentais – a contrapelo, muitas vezes, de seus temas.
Embora tenham emergido sob a influência de experiências radicais que lhes antecederam, tanto Brakhage como Warhol trabalharam em um momento de esgotamento de suas respectivas expressões. Os anos 1950 foram pouco produtivos para aqueles que desde a década anterior vinham alimentando o cinema de vanguarda americano, assim como o expressionismo abstrato já vinha perdendo seu fôlego e despertando reações contrárias ao seu movimento. Isso quer dizer que tanto em relação às tendências quanto aos modos de produção, Warhol e Brakhage tiveram que desenvolver novas formas de trabalhar com seus meios materiais – e consequentemente outras formas de pensá-los e pensar através deles.
Warhol questionou o estatuto da arte através da incorporação do cotidiano, Brakhage mostrou que um filme pode ser feito com asas de mariposa, pétalas de flores e folhas de grama pressionadas entre duas tiras de fita adesiva de 16 mm. Uma lata de sopa pode virar pintura, um filme pode ser feito sem câmera. Um filme pode ser feito apenas com um homem dormindo. Esses são exemplos pontuais mas representativos da amplitude e inovação material das obras desses artistas/cineastas.
É inclusive um ponto de debate a própria nomeação ou conceitualização dos termos “artista” e “cineasta” quando lidamos com Brakhage e Warhol. A princípio gostaríamos de salientar que objetivamente tratamos de um cineasta e um artista que fez filmes. Mas para além disso há uma discussão proeminente no que diz respeito ao entendimento dessas categorias após o tensionamento, por essas figuras, do mito do cineasta ou do artista. Tanto Warhol como Brakhage operam desmistificações e desnaturalizações em torno desses ofícios, assim como o soerguimento, por meio deles, da iconicidade e de novos mitos. O que é curioso porque o fazem de maneiras absolutamente contrastantes.
Warhol é muito conhecido e celebrado pelo seu estilo maquínico e impessoal, pela sua atuação superficial, pela configuração de um artista “do mesmo”: do banal, da repetição, dos retratos. Sua declarações costumam dar o tom de sua arte (“I want to be a machine”) – assim como acontece frequentemente com Brakhage (“How many colors are there in a field of grass to the crawling baby unaware of ‘Green’?”), conhecido e celebrado pelo seu estilo orgânico e subjetivo, pela abstração, pelas “aventuras da percepção” e pelas “metáforas da visão”. Mas não queremos aqui nos apoiar sobre o que eles nos dizem sobre si e suas obras. É imperioso que possamos interpretar o que construíram sob o exercício da análise – ainda que eventualmente tenhamos que nos confrontar com suas afirmações.
Tentaremos, portanto, apresentar um panorama geral brevemente e então nosso foco será a análise comparada de “Sleep” e “Dog Star Man”.
Alguns dos aspectos ressaltados a partir dessa comparação são: a rapidez e mobilidade do filme de Brakhage em contraposição à morosidade e fixidez do filme de Warhol. Os motivos banais e suas extrapolações, suas magnitudes. Superfícies e materialidades. Recortes do corpo e recortes da película. Sexo e erotismo. Tempo real e duração anacrônica. O “close” e a abstração. A repetição e o não-sistemático. A proposição de ciclos. Tradições românticas. Questões sobre o olhar e o ponto de vista.
Bibliografia
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