Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Amanda de Luna Cavalcanti (UFPE)

Minicurrículo

    Amanda de Luna é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco. É graduada em Cinema e Audiovisual pela UNIAESO e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. É especialista em Escrita Criativa por meio da Pós-graduação lato sensu pela Universidade Católica de Pernambuco em conjunto com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Pesquisa sobre cinema, processos criativos, sound design e escrita cinematográfica.

Ficha do Trabalho

Título

    Compondo personagens: a música em “Pobres Criaturas”

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho apresenta uma análise da trilha musical do filme Pobres Criaturas (Poor Things, Yorgos Lanthimos, 2023), observando a articulação do som na composição de seus personagens. Detendo-se sobre a relação entre música, imagem e narratividade, pretende-se compreender o papel musical na constituição do eu e na representação de seus desejos e emoções.

Resumo expandido

    A partir de uma proposta estética que dialoga com o pitoresco, Pobres Criaturas (Poor Things, Yorgos Lanthimos, 2023) apresenta a composição de um mundo com notas de surrealismo. Um dos elementos que pode vir a enfatizar essa noção é a trilha musical constituída pela mistura entre o clássico e o eletrônico, que tangenciam um anacronismo e um desafio à razão próximo à percepção surrealista que se condensa não apenas na ambientação do universo, mas da própria subversão proposta na essência e motivação de seus personagens, sobretudo Bella Baxter, interpretada por Emma Stone.
    Composta pelo músico Jerskin Fendrix, a concepção da música em Pobres Criaturas teve como um dos objetivos conceber a vulnerabilidade emocional de seus personagens por meio do paradigma não-verbal (SHACHAT, 2023). Através do uso majoritário de instrumentos de sopro, de vozes sintetizadas e sussurros, a trilha de Fendrix, apesar de colocada diante de um cinema sonoro verbocêntrico, sugere promover uma percepção que se volta a favor de uma experiência que se apropria das emoções, exercendo um valor narrativo fundante na constituição de seus personagens.
    Com base nesse raciocínio, o presente trabalho propõe analisar a trilha musical do filme Pobres Criaturas (Poor Things, Yorgos Lanthimos, 2023), observando a articulação do som na composição de seus personagens. Detendo-se sobre a relação entre música, imagem e narratividade, pretendendo-se compreender o papel musical na constituição do eu e na representação de seus desejos e emoções.
    Para Claudia Gorbman, em conjunto com as contribuições de Buhler (2019, pg. 159), são sete os princípios que identifica como práticas gerais do sistema clássico na composição musical e mixagem de som em suas funções narrativas. De forma segmentada, basicamente tem-se como pressupostos: i. a submissão do som à narrativa; ii. a sincronização do som à narrativa; e iii. a vinculação de sons, mesmo díspares, à estrutura narrativa, constituindo a noção de unidade como fundamental para a formação narrativa.
    Para tanto, leva-se em conta a noção de som fora do quadro de Chion (2008), pretendendo-se observar como a música mesmo fora da diegese pode articular a narrativa acrescentando valor à camada emocional não apenas do espectador, mas do próprio personagem. Embora não conscientes dos órgãos de tubos e flautas de Fendrix, quer-se observar de que maneira os personagens compartilham ou emulam as experiências sonoras da trilha musical a partir das representações de seus desejos e emoções.
    Aplicando tal pretensão, propõe-se analisar cronologicamente os momentos em que as faixas musicais ecoam no filme, observando-se as gradações da estética sonora proposta em comparação ao desenvolvimento narrativo do eu do personagem. Considerando-se as peculiaridades do imaginário e tópicas comum ao gênero ficção científica (OLIVEIRA, 2018), na medida em que Bella Baxter evolui não apenas sua coordenação motora, mas amadurece enquanto sujeito, questiona-se como o acompanhamento musical traduz e significa a descoberta da identidade.

Bibliografia

    BUHLER, James. Theories of Soundtrack. New York: Oxford University Press, 2019.
    CHION, Michel. A audiovisão – som e imagem no cinema. Lisboa: Arman Colin, 2008.
    LABRADA, Jerônimo. El sentido del Sonido. Barcelona: Alba Editorial, 2009.
    LASTRA, James. Fidelity versus Intelligibility. In: STERNE, Jonathan (org.). The Sound Studies Reader. New York, Routledge, 2012.
    NEUMEYER, David. Meaning and Interpretation of Music in Cinema. – with contributions by James Buhler. Indiana University Press, 2015.
    OLIVEIRA, Juliano de. A significação na música de cinema. 1ª Edição. Jundiaí: Paco, 2018.
    OPOLSKI, Débora. SOUZA, João Baptista Godoy. CARREIRO, Rodrigo. O som do filme: uma introdução. Curitiba: Ed. UFPR; Ed. UFPE, 2018.
    PALMER, ELLE. Jerskin Fendrix and Yorgos Lanthimos are the perfect pairing. Far Out, 2023.
    SHACHAT, Sarah. Music for ‘Furious Jumpers’ — Preview the ‘Poor Things’ Soundtrack with an Exclusive Track. IndieWire, 2023.