Ficha do Proponente
Proponente
- caroline montezi de castro chamusca (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutoranda em Educação no CINEAD/LECAV/UFRJ). É pedagoga e mestre em
Educação pela UFRJ. Seus trabalhos e pesquisas estão no campo da infância, cinema e
educação, divulgação científica e educação museal. Atualmente trabalha com oficinas de
cinema em escolas e consultorias para projetos educativos.
Ficha do Trabalho
Título
- EDUCAÇÃO DIGITAL MODO DE USAR
Mesa
Formato
- Presencial
Resumo
- Baseado em fatos reais e livremente inspirado no livro A Vida Modo de Usar de Georges
Perec (2009), esse trabalho busca levantar questões e proposições diante da Política
Nacional de Educação Digital. Aposta na artesania aliada à tecnologia como modo de
operar com a educação digital nas escolas, através de exercícios de cinema que propiciem
espaços de suspensão (RANCIERE, 2015) no processo de criação de um inventário
audiovisual realizado por estudantes.
Resumo expandido
- Diante da Era Digital, uma das alcunhas da atualidade, devido ao caráter ubíquo
do digital no cotidiano, que vaza (INGOLD, 2012) dos dispositivos tecnológicos, uma
Política Nacional de Educação Digital (PNED) foi sancionada no Brasil, no início de
2023. A Lei 14.533/23 tem como objetivo ampliar e aprimorar o acesso da população
brasileira a recursos, ferramentas e práticas digitais, com ênfase nas comunidades mais
vulneráveis. A iniciativa estabelece diretrizes para a inclusão digital, educação digital nas
escolas, treinamento e especialização em habilidades digitais, além de promover pesquisa
e desenvolvimento em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).
Não há dúvida sobre a importância de ampliar as possibilidades de inclusão
digital, porém o texto da lei revela uma concepção limitada do termo, agenciada à ideia
de modernidade e progresso. Diante desse cenário, este trabalho propõe pensar o cinema
na escola como possibilidade de promover uma educação digital para além do caráter
instrumentalista que essa política enuncia. É baseado em fatos reais e livremente inspirado
no livro A Vida Modo de Usar (2009), escrito pelo romancista e poeta Georges Perec
(1936-1982). Embora o nome do livro sugira abordar recomendações e indicações de
como usar a vida, soando como uma espécie de autoajuda, trata-se de um romance fractal,
um quebra-cabeça via ficção. O livro traz uma série de histórias inter-relacionadas de
pessoas que moram em um mesmo prédio. Em cada capítulo, Perec (2009) se impõe de
variadas regras e lógicas matemáticas para construir o texto orientado por uma série de
tabelas (cahier des charges) que indicam determinados critérios que serão utilizados na
configuração de cada apartamento. Perec foi integrante do movimento literário OULIPO,
sigla que do francês se traduz como oficina/atelier de literatura potencial. Assim como
Perec, os integrantes do OULIPO escrevem sob a imposição de regras que trazem alguns
desafios, um exercício literário que através de limites inventados pelos próprios autores
expandem as possibilidades de leitura e escrita.
Um texto que se constrói para ser desmontado por meio de enigmas que revelam
as suas vísceras. É essa operação que atua através de algoritmos analógicos que vão
compondo os personagens, os seus movimentos e toda materialidade que integra as
paisagens dos apartamentos, é o modo de usar que esse trabalho evoca. O modo de usar
a educação digital através de exercícios de cinema que acionam regras e limites como
dispositivo para criação de um inventário audiovisual das escolas. A ideia é propor
espaços de suspensão que tensionem a forma/escola e a forma/cinema convocando os
estudantes a desmontar esses modelos (RANCIERE, 2015) e diluir as amarras da
transparência (GLISSANT, 2021) que impregna o campo da educação.
É uma aposta na dimensão criadora do cinema, como uma possibilidade de engajar
os estudantes a não apenas refletir sobre o mundo, mas também a inventar mundos e
formas de vida. um movimento fundamental, principalmente em tempos de intensa
submissão a uma curadoria dos algoritmos. Investe na artesania aliada à tecnologia como
modo de operar com a educação digital de maneira inventiva através do cinema na escola.
(FRESQUET e ALVARENGA, 2023)
Assim como a entrada do cinema na escola pode tensionar as normas e deslocar
as conversas com a educação, a escola fazendo cinema também pode provocar o cinema
a se repensar enquanto cinema, desnaturalizando cânones e desmontando suas práticas
(PIPANO, 2019). Nesse sentido, esse trabalho convoca uma educação digital que
embaralhe as fronteiras de arquivo, cinema e escola, que atue na criação de um acervo
audiovisual realizado por estudantes. O que pode acontecer quando os estudantes se
apropriam de tecnologias digitais e analógicas na realização de filmes em suas escolas?
Bibliografia
- BRASIL. Lei 14.533, de 11 de janeiro de 2023. D. O. U. de 11 jan. 2023.
FRESQUET, A. e ALVARENGA, C. Política Nacional de Educação Digital: a educação
promovendo ética, possibilidades e cuidados versus o fim do mundo. Cinema e
Educação digital: a lei 14533. Belo Horizonte, Universo Produção, 2023.
GLISSANT, Édouard. Poéticas. In: Poética da relação. São Paulo: Bazar do Tempo,
2021.
INGOLD, T. Trazendo as coisas de volta à vida: Emaranhados criativos num mundo de
materiais. Horizontes Antropológicos, v. 18, n. 37, p. 25-44, 2012.
PEREC, G. A vida, modo de usar. Trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras,
2009.
PIPANO, I. Isso que não se vê: pistas para uma pedagogia das imagens. Niterói, 2019.
Tese (Doutorado em Cinema) -Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
RANCIÈRE, J. O mestre ignorante cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo
Horizonte. Autêntica Editora, 2015.