Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    caroline montezi de castro chamusca (UFRJ)

Minicurrículo

    Doutoranda em Educação no CINEAD/LECAV/UFRJ). É pedagoga e mestre em
    Educação pela UFRJ. Seus trabalhos e pesquisas estão no campo da infância, cinema e
    educação, divulgação científica e educação museal. Atualmente trabalha com oficinas de
    cinema em escolas e consultorias para projetos educativos.

Ficha do Trabalho

Título

    EDUCAÇÃO DIGITAL MODO DE USAR

Mesa

    Formato

      Presencial

    Resumo

      Baseado em fatos reais e livremente inspirado no livro A Vida Modo de Usar de Georges
      Perec (2009), esse trabalho busca levantar questões e proposições diante da Política
      Nacional de Educação Digital. Aposta na artesania aliada à tecnologia como modo de
      operar com a educação digital nas escolas, através de exercícios de cinema que propiciem
      espaços de suspensão (RANCIERE, 2015) no processo de criação de um inventário
      audiovisual realizado por estudantes.

    Resumo expandido

      Diante da Era Digital, uma das alcunhas da atualidade, devido ao caráter ubíquo
      do digital no cotidiano, que vaza (INGOLD, 2012) dos dispositivos tecnológicos, uma
      Política Nacional de Educação Digital (PNED) foi sancionada no Brasil, no início de
      2023. A Lei 14.533/23 tem como objetivo ampliar e aprimorar o acesso da população
      brasileira a recursos, ferramentas e práticas digitais, com ênfase nas comunidades mais
      vulneráveis. A iniciativa estabelece diretrizes para a inclusão digital, educação digital nas
      escolas, treinamento e especialização em habilidades digitais, além de promover pesquisa
      e desenvolvimento em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).
      Não há dúvida sobre a importância de ampliar as possibilidades de inclusão
      digital, porém o texto da lei revela uma concepção limitada do termo, agenciada à ideia
      de modernidade e progresso. Diante desse cenário, este trabalho propõe pensar o cinema
      na escola como possibilidade de promover uma educação digital para além do caráter
      instrumentalista que essa política enuncia. É baseado em fatos reais e livremente inspirado
      no livro A Vida Modo de Usar (2009), escrito pelo romancista e poeta Georges Perec
      (1936-1982). Embora o nome do livro sugira abordar recomendações e indicações de
      como usar a vida, soando como uma espécie de autoajuda, trata-se de um romance fractal,
      um quebra-cabeça via ficção. O livro traz uma série de histórias inter-relacionadas de
      pessoas que moram em um mesmo prédio. Em cada capítulo, Perec (2009) se impõe de
      variadas regras e lógicas matemáticas para construir o texto orientado por uma série de
      tabelas (cahier des charges) que indicam determinados critérios que serão utilizados na
      configuração de cada apartamento. Perec foi integrante do movimento literário OULIPO,
      sigla que do francês se traduz como oficina/atelier de literatura potencial. Assim como
      Perec, os integrantes do OULIPO escrevem sob a imposição de regras que trazem alguns
      desafios, um exercício literário que através de limites inventados pelos próprios autores
      expandem as possibilidades de leitura e escrita.
      Um texto que se constrói para ser desmontado por meio de enigmas que revelam
      as suas vísceras. É essa operação que atua através de algoritmos analógicos que vão
      compondo os personagens, os seus movimentos e toda materialidade que integra as
      paisagens dos apartamentos, é o modo de usar que esse trabalho evoca. O modo de usar
      a educação digital através de exercícios de cinema que acionam regras e limites como
      dispositivo para criação de um inventário audiovisual das escolas. A ideia é propor
      espaços de suspensão que tensionem a forma/escola e a forma/cinema convocando os
      estudantes a desmontar esses modelos (RANCIERE, 2015) e diluir as amarras da
      transparência (GLISSANT, 2021) que impregna o campo da educação.
      É uma aposta na dimensão criadora do cinema, como uma possibilidade de engajar
      os estudantes a não apenas refletir sobre o mundo, mas também a inventar mundos e
      formas de vida. um movimento fundamental, principalmente em tempos de intensa
      submissão a uma curadoria dos algoritmos. Investe na artesania aliada à tecnologia como
      modo de operar com a educação digital de maneira inventiva através do cinema na escola.
      (FRESQUET e ALVARENGA, 2023)
      Assim como a entrada do cinema na escola pode tensionar as normas e deslocar
      as conversas com a educação, a escola fazendo cinema também pode provocar o cinema
      a se repensar enquanto cinema, desnaturalizando cânones e desmontando suas práticas
      (PIPANO, 2019). Nesse sentido, esse trabalho convoca uma educação digital que
      embaralhe as fronteiras de arquivo, cinema e escola, que atue na criação de um acervo
      audiovisual realizado por estudantes. O que pode acontecer quando os estudantes se
      apropriam de tecnologias digitais e analógicas na realização de filmes em suas escolas?

    Bibliografia

      BRASIL. Lei 14.533, de 11 de janeiro de 2023. D. O. U. de 11 jan. 2023.
      FRESQUET, A. e ALVARENGA, C. Política Nacional de Educação Digital: a educação
      promovendo ética, possibilidades e cuidados versus o fim do mundo. Cinema e
      Educação digital: a lei 14533. Belo Horizonte, Universo Produção, 2023.
      GLISSANT, Édouard. Poéticas. In: Poética da relação. São Paulo: Bazar do Tempo,
      2021.
      INGOLD, T. Trazendo as coisas de volta à vida: Emaranhados criativos num mundo de
      materiais. Horizontes Antropológicos, v. 18, n. 37, p. 25-44, 2012.
      PEREC, G. A vida, modo de usar. Trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras,
      2009.
      PIPANO, I. Isso que não se vê: pistas para uma pedagogia das imagens. Niterói, 2019.
      Tese (Doutorado em Cinema) -Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
      RANCIÈRE, J. O mestre ignorante cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo
      Horizonte. Autêntica Editora, 2015.