Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Jusciele Conceição Almeida de Oliveira (CIAC/UAGL-PT)

Minicurrículo

    Possui graduação em Letras Vernáculas (UFBA/2006). Mestre em Literatura e Cultura (UFBA/2013). Doutora em Comunicação, Cultura e Artes (UALG-PT/2018; CAPES Doutorado Pleno no Exterior). Tem textos publicados nacional e internacionalmente sobre literatura e cinemas africanos. Coeditou o e-book Cinemas Africanos Contemporâneos – Abordagens Críticas (Sesc São Paulo, 2020). Atualmente, é investigadora colaboradora CIAC/UALG e pesquisadora do Laboratório de Análise Fílmica (FACOM/UFBA).

Ficha do Trabalho

Título

    Musicalidades pós-coloniais: um estudo sobre os musicais africanos

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente texto propõe realizar uma pesquisa na área dos cinemas africanos, partindo do conceito de musical (modelo hollywoodiano), discutindo algumas exigências surgidas no reconhecimento da classificação “musical” dos filmes africanos, nos quais buscamos perceber como estes se aproximam ou se distanciam das características e dos critérios do gênero, bem como compreender como são utilizados e negociados pelos(as) cineastas, a partir da discussão teórica, procurando destacar suas musicalidades.

Resumo expandido

    Você escolhe o filme pelo gênero? Qual o gênero do último filme que você assistiu? Foi importante ou necessário saber o gênero do filme? Consciente ou inconscientemente somos guiados e orientados na escolha dos filmes que assistimos pelas respostas destes questionamentos, visto que as películas premiadas nos grandes festivais do “mundo”, na América, Europa ou na África, normalmente, são classificadas como “drama” ou “aventura”. Raramente um musical ou uma comédia ganha o prêmio principal de um festival, principalmente, quando se trata de filmes africanos.
    Neste sentido, os filmes africanos foram apresentados, inicialmente, a partir de textos, teorias, olhares e contextos que ressaltam suas funções ideológicas, educacionais e moralistas, sobretudo nas produções dos anos de 1960 e 1970, construindo a ideia de que os(as) realizadores(as) do continente não podem fazer filmes de entretenimento – são proibidos, por exemplo, de fabular, de explorar o musical, o western, a comédia e a sátira (enfim o “cinema de gênero”), e de provocar o riso por serem engraçados e divertidos, uma vez que as obras poderiam ser entendidas como fúteis e irresponsáveis, já que o(a) cineasta africano(a) deve (como obrigação) sempre encorajar a reflexão política e ética nas suas produções.
    No entanto, estes(as) cineastas nas suas produções deslocaram os gêneros, descolonizaram olhares, mobilizaram o cômico nas suas narrativas, desde a escrita do roteiro e a construção das personagens até a recepção do público local e global – seja explorando a quebra de categorias e oposições binárias (política e prazer, comédia e tragédia, entretenimento e política, ética e educação) de realidades entrelaçadas; seja ultrapassando as fronteiras dos modelos de gênero preestabelecidos, propiciando a saída da caixa canônica de suas classificações. Com isto, quero dizer que os filmes africanos, por vezes, podem não se encaixam nos modelos e padrões de gênero preestabelecidos, que deveriam seguir uma tendência contemporânea, fluida e intertextual de que gêneros existem e servem de código de compreensão e orientação, que está em constante mudança; para que o espectador constitua uma espécie de repertório, como se a cada novo filme, convoquem-se formas diversas e múltiplas de “Musicalidades”. Nas fichas técnicas de muitas películas africanas, constam uma dupla, tripla ou múltipla classificação, com as seguintes combinações: docuficção e drama histórico, etnoficção e filme de guerra, comédia dramática e melodrama romântico; filme ambientalista e etnografia, comédia musical dramática; musical cômico político, drama de guerra e ação, aventura e fantasia, filme africano.
    Assim, diante do cenário diverso de catalogação de gêneros, para o texto Musicalidades pós-coloniais: um estudo sobre os musicais africanos, os filmes foram selecionados a partir de pelo menos uma menção aos termos “musical” e/ou “música” nas fichas técnicas e/ou em sites especializados de crítica, dos quais inicialmente destaco: West Indies ou Les Négres Marrons de la Liberté (1979); La Vie est Belle (1987); Tableau Ferraille (1997); Karmen Geï (2001); L’extraordinaire destin de Madame Brouette (2002) Nha fala (2002); U-Carmen eKhayelitsha (2005); Un Transport en Commun (2009).
    Neste momento cabe destacar que “musicalidades” não nomeia somente o que é específico da música, mas um conjunto de elementos que englobam as melodias subjacentes aos diálogos e aos ruídos; os ritmos da montagem, da narrativa, da dança da câmera, dos corpos e das coisas nas telas; a música dos sotaques, das línguas, das maneiras de falar; o modo como o silenciamento de vozes e de outros elementos da banda sonora nos afetam. É importante observar também o modo como todas essas musicalidades operam, nos filmes, como marcadores de raça, gênero (gender), identidades e gestos de resistência contra a (des)(de)colonização.

Bibliografia

    BAMBA, Mahomed; MELEIRO, Alessandra (orgs). Filmes da África e da diáspora: objetos de discursos. Salvador: EDUFBA, 2012.
    ESTEVES, Ana Camila; OLIVEIRA, Jusciele. Cinemas africanos contemporâneos: abordagens críticas. São Paulo: Sesc, 2020.
    FERREIRA, Carolin Overhoff (org). África: um continente no cinema. São Paulo: Editora Unifesp, 2014.
    GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.
    MURPHY, David; WILLIAMS, Patrick. Postcolonial african cinema: ten directors. Manchester and New York: Manchester University Press, 2007.
    OLIVEIRA, Jusciele. “A musicalidade africana narra vida de Vita na comédia-musical Nha fala, do cineasta Flora Gomes”. In. Mulemba, v.1, n.9,.2013, p. 84-103.
    OLIVEIRA, Jusciele. “Precisamos vestirmo-nos com a luz negra”: uma análise autoral nos cinemas africanos – o caso flora gomes. TESE (Doutorado). Faro/PT: Universidade do Algarve, Centro de Investigação em Comunicação e Cultura, 2018.