Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Helena Albert Bachur (USP)

Minicurrículo

    Diretora, assistente de direção, produtora, atriz e dançarina. Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, em Produção Cultural pela Universidade Cruzeiro do Sul e formada em atuação pela SP Escola de Teatro. Suas videodanças “Cavalo” (2022) e “Arroz” (2024) estão, desde 2023, circulando em festivais no Brasil e na Europa. Atualmente, trabalha nas áreas de produção e direção audiovisual, além de ser mestranda no PPGAC da ECA – USP.

Ficha do Trabalho

Título

    Esse pequeno nada entre os limites: o extracampo em filmes de dança

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa se propõe ao estudo sobre o extracampo no cinema de dança, compreendendo tal aspecto formal como sendo da ordem de uma linguagem intermidiática que não deve ser concebida, nem analisada, a partir de parâmetros exclusivos da dança ou do cinema. Esse estudo relacionando dança e cinema partirá da noção japonesa “Ma”, referente ao espaço vazio que existe entre dois limites, e pode, portanto, tudo conter.

Resumo expandido

    Visando a realizar um estudo sobre o extracampo nos filmes de dança, nos apoiamos no conceito de “dança como cinema” (GREENFIELD, 1970), para pensar a videodança como uma manifestação artística marcada pelo hibridismo intermidiático – visto que ela acontece, como ação, interação e relação, no intervalo entre a dança e o cinema.
    Com o intuito de aprofundar tal discussão, trazemos à pesquisa um elemento cultural do Japão, o Ma, cujo ideograma (間) é a associação de dois caracteres que representam, respectivamente, o portão e o Sol (門 e 日). Esse elemento carrega, portanto, a semântica do intervalo, ressaltando o entre-espaço estabelecido pelas portinholas, através do qual podemos ver a estrela central do Sistema Solar. Sendo assim, Ma configura-se como um intervalo espaço-temporal disponível por essência, estabelecendo uma lógica de coexistência relacional, e não dual. Compreendemos, então, que a ideia engendrada por Ma é a contribuição mais importante desse elemento para a nossa reflexão sobre um objeto de criação intermidiático.
    Além disso, como nos mostra Okano (2007), ao romper com a dualidade da arquitetura ontológica aristotélica, base do sistema racional ocidental, a cultura japonesa acabou por gerar uma estética singular inerente a essa perspectiva. Damos, assim, à concretização da possibilidade Ma, o nome de espacialidade Ma, que pode ser utilizada, verificada e estudada em diferentes linguagens artísticas. Tal espacialidade implica, por exemplo, a valorização do espaço branco não desenhado no papel, do tempo de não ação de uma dança, do silêncio do tempo musical.
    Diante do exposto e entendendo o extracampo como um espaço vazio, intervalar e que pode tudo conter, nos propomos, nesta pesquisa, a observá-lo como uma espacialidade Ma, de modo que possamos, a partir da relação com esse elemento cultural japonês, pensar o “entre” tanto em sua dimensão conceitual (videodança como linguagem intermidiática), quanto estética (extracampo).

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O Olho Interminável. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
    BORGES, Cristian. Sobre a noção de três espaços no cinema. In: Ars (São Paulo), v. 17, n. 36, setembro de 2019, p. 135-143.
    BORGES, Cristian. A DANÇA COMO CINEMA: sua sobrevida na tela, entre corpórea e conceitual. In: ANAIS DO 31° ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS, 2022. Campinas: Galoá, 2022.
    BURCH, Noel. Nana ou ‘Os dois espaços’, em Práxis do cinema. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 37-52.
    GREENFIELD, Amy. Dance As Film. In : Filmmakers’ Newsletter, vol. 4, n. 1, novembro de 1970, p. 26-32.
    OKANO, Michiko. Ma: Entre-Espaço da Arte e Comunicação no Japão. São Paulo: Annablume, 2007.
    PILGRIM, Richard B. Ma: a cultural paradigm. Chanoyu quarterly, v. 46, p. 32-53, 1986.
    SNYDER, Allegra F. Three kinds of dance film: a welcome clarification. In : Dance Magazine, vol. 39, n. 9, setembro de 1965, p. 34-39.
    UNO, Kuniichi. A gênese de um corpo desconhecido. São Paulo: N-1, 2014.