Ficha do Proponente
Proponente
- Guilherme Perussolo (UTP)
Minicurrículo
- Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba e advogado registrado na Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraná. Também é cientista social/sociólogo e cientista político pela Universidade Federal do Paraná. É Mestre em Direito Internacional/Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É doutorando do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná, linha de pesquisa Estéticas e Tecnologias do Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- A obra multiautoral e suas reverberações acidentais
Mesa
- Eu penso o filme ou o filme me pensa? A (não) autoralidade no cinema
Formato
- Presencial
Resumo
- A autoria na obra cinematográfica é algo naturalmente problemático, tanto internamente, considerando as influências indiretas no momento criativo, em especial na adaptação de outras obras já existentes, quanto externamente, no caso de sujeitos que trabalharam numa obra e, mais tarde, colocam elementos da obra anterior na atual. Esse sistema complexo pode ser visto em várias ocasiões, mas torna-se especialmente singular no caso de Alejandro Jodorowsky com seu filme natimorto Duna.
Resumo expandido
- Ainda que se considere a obra cinematográfica em um aspecto interno, de sua realização, com sua miríade de partícipes e dificuldades daí oriundas para o estabelecimento da autoria da obra, torna-se bastante dificultoso o estabelecimento de um agente enquanto compositor de determinado aspecto ou característica apresentada, tendo, normalmente, a figura do diretor enquanto uma espécie de “regente” da obra. Deste aspecto surgem inúmeras questões dúbias sobre as possibilidades e definições da autoria de uma obra cinematográfica. Todavia, extrapolando os aspectos da obra fechada, é possível verificar marcas indeléveis de obras umas nas outras, especialmente quando seriam adaptações de um mesmo argumento. Impossível não estabelecer paralelos entre a obra literária Duna, de Frank Herbert, e o primeiro grande projeto de adaptação de Duna por Alejandro Jodorowsky, com a obra Duna de David Lynch, ou, contemporaneamente, com a dupla epopéia de Denis Villeneuve.
Para além da obviedade de uma análise centrada numa mesma obra geratriz, pretendemos complexificar ainda mais a abordagem com o aprofundamento da problematização da autoria internamente na obra para sua reverberação através de outros agentes que irão criar a obra sob a batuta do diretor, quando eles passam a colocar essas assinaturas (cuja dúvida acerca da autoria já pairava em apenas uma obra) em outras obras, com outros argumentos. Tomamos por base o projeto de filme de Duna elaborado por Jodorowsky e com o storyboard realizado por Moebius, para verificar as reverberações desse projeto em outros artistas e em outras obras bastante conhecidas, como o projeto da estética Harkonniana elaborada por Jodorowsky e H. R. Giger em Alien, no qual Giger trabalhou com Ridley Scott.
Assim restam questões: todo o design biomecânico presente em Alien é de autoria intelectual de Giger, de Jodorowsky – em sua concepcão do planeta Harkonnen –, ou de Scott que solicitou para que Giger criasse conforme sua concepção? Da mesma forma, boa parte dos veículos concebidos por Chris Foss (então ilustrador, em especial das obras de Isaac Asimov), os quais continham características únicas, conforme a estética de cada um dos personagens e de acordo com que Jodorowsky solicitava, posteriormente podem ser vistos em clássicos do sci-fi, como Star wars e Star trek. Enfim, quem são os responsáveis por essas concepções, Asimov (que teria inspirado Foss), Jodorowsky, o próprio Foss, Lucas ou mais algum partícipe das obras citadas (aquelas que vieram a ser finalizadas ou não)?
Passando para outros campos estéticos, o próprio storyboard de três mil páginas não foi totalmente perdido, muito dele foi utilizado por Moebius em sua obra em quadrinhos Incel, a qual teve a autoria compartilhada (de maneira objetiva, no título do livro) com Jodorowsky.
Podemos destacar algumas linhas comuns a toda essa complexa rede de autorias e co-autorias em constante interseção, entre elas a interconectividade entre os criadores das obras e suas participações na concepção da obra inicial; a adaptabilidade (NEWMAN, 2003, p. 2-3) de concepções inicialmente pensadas para outros cenários; e o surgimento de novos elementos nas obras novas que fagocitaram concepções da Duna original. Por último, a imprevisibilidade trazida para o local onde essas concepções podem levar, de maneira assimétrica àquilo imaginado por Jodorowsky e, de modo que, ao parecer que todo um universo sci-fi origina-se de uma concepção original de um diretor para criação de sua obra magna, essas concepções saem de seu controle, criam vida própria e de maneira autônoma (retroalimentada e auto organizada) e singular, criam sua própria rede de sistemas (LUKOSEVICIOUS, MARCHISOTTI, SOARES, 2016. p. 462-463). Concomitantemente à autoralidade fluida, pensamentos e ideias que migram de projeto em projeto.
Bibliografia
- ALIEN. Direção: Ridley Scott. Produção de Brandwyne Productions. EUA: 20th Century Fox, 1979.
DUNE. Direção: David Lynch. Produção de De Laurentiis. EUA: Universal Pictures, 1984.
DUNE parts 1 and 2. Direção: Denis Villeneuve. Produção de Legendary Entertainment. EUA: Warner Bros. Pictures, 2021/2024.
JODOROWSKY’S Dune. Direção: Frank Pavich. Produção de City Film. EUA: Sony Pictures Classics, 2013.
LUKOSEVICIUS, A. P., MARCHISOTTI, G. G., e SOARES, C. A. P. Panorama da complexidade: principais correntes, definições e constructos. Sistemas & Gestão, 11(4), 2017, 455–465.
NEWMAN, M. E. J. The Structure ans Function of Complex Network. In: Cornell University Papers, 2003. Disponível em: . Acesso em: 06 mar. 2024.
STAR Trek: The Motion Picture. Direção: Robert Wise. Produção de Paramount Pictures. EUA: Paramount Pictures, 1979.
STAR Wars. Direção: George Lucas. Produção de Lucasfilm Ltd. EUA: 20th Century Fox, 1977.