Ficha do Proponente
Proponente
- Anna Claudia Soares (PPGCOM/UTP)
Minicurrículo
- Doutoranda e Mestra em Comunicação e Linguagens pelo Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, linha de pesquisa: Estéticas e Tecnologias do Audiovisual (PPGCom/UTP). Bolsista PROSUP/CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Kinosfera: Investigações sobre o Pensamento no Cinema e em Outras Formas da Audiovisualidade (PPGCom/UTP;CNPq). Coordenadora da Equipe Técnica da Revista INTERIN (ISSN: 1980-5276). E-mail: annacsoares95@gmail.com
Ficha do Trabalho
Título
- Pós-caligarismo e autoria: o legado do caligarismo no cinema atual
Mesa
- Eu penso o filme ou o filme me pensa? A (não) autoralidade no cinema
Formato
- Presencial
Resumo
- O termo caligarismo refere-se à influência do filme O Gabinete do Dr. Caligari (1920) em produções audiovisuais subsequentes. Mas observa-se que diretores contemporâneos como Robert Eggers, por exemplo, realizam filmes que apresentam características que vão além do caligarismo. Assim, apresentamos o conceito pós-caligarismo, identificando-o como uma pluralidade de elementos que permitiria a análise de como cineastas empregariam a estilística do filme de 1920 para criar seus caminhos autorais.
Resumo expandido
- Caligarismo é um termo utilizado para designar a influência de O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920, de Robert Wiene) nas produções cinematográficas lançadas posteriormente ao filme Caligari, e que apresentavam características visuais semelhantes ao filme de 1920. O caligarismo “[…] foi associado […] ao movimento expressionista alemão […], mas alguns críticos preocupados com a exatidão preferiram [, em vez do próprio expressionismo,] designar seu efeito e sua influência pelo termo mais limitado de ‘caligarismo’” (AUMONT; MARIE, 2003, p. 39).
Após um século do lançamento de Caligari, o filme continua sendo uma referência estilística para alguns diretores cinematográficos, como o cineasta Tim Burton. Porém, algumas produções audiovisuais, como é o caso do filme O Farol (The Lighthouse, 2019), uma realização do diretor Robert Eggers, apresentam características não-visuais além daquelas que encontramos circunscritas ao termo caligarismo.
Entre as características, destacamos, em primeiro lugar, certo distúrbio – interno e externo – nas personagens que desperta o olhar para uma sequência de produções audiovisuais que vão além de elementos visuais originários do caligarismo, como, por exemplo, o estilo do cenário, a presença do exagero teatral e o plot twist. Outra característica seria a forte influência do gênero fantástico na narrativa e nos distúrbios psicológicos das personagens. O fantástico ocorre quando há uma confusão mental na personagem sobre o que está acontecendo ser realidade ou um sonho. “Há um fenômeno estranho que se pode explicar de duas maneiras, por meio de causas do tipo natural e sobrenatural. A possibilidade de se hesitar entre os dois criou o efeito fantástico” (TODOROV, 2014, p. 31). Já o rosto como expressividade não seria mais uma herança do exagero teatral do cinema silencioso, mas, sim, uma forma de abordagem para transparecer o distúrbio que as personagens sentem.
Nesse contexto, a utilização de certos elementos do caligarismo se configura como uma estratégia do cineasta para estabelecer os traços autorais que o identificam, e diretores como Robert Eggers articulam sua marca autoral a partir de influências caligaristas no desenvolvimento do seu estilo.
Todavia, a noção de caligarismo por si só não se mostra suficiente para a delimitação das obras em questão, uma vez que estas, conforme supracitado, ultrapassam os limites das características próprias da tendência caligarista. Diante desta lacuna conceitual, surge a necessidade de cunhar um termo para definir tal estilo contemporâneo com influências caligaristas, e é neste contexto que trabalhamos com o possível conceito que chamamos de pós-caligarismo.
Para Gilles Deleuze e Félix Guattari “[…] todo conceito tem componentes, e se define por eles. Tem portanto uma cifra. É uma multiplicidade, embora nem toda multiplicidade seja conceitual” (1992, p. 27). E, justamente, o que chamamos de pós-caligarismo teria a necessária fluidez e se conectaria com outras ideias, apresentando a multiplicidade de possibilidades (virtuais) de definições e de composições. O pós-caligarismo teria sua origem no encontro das características de um movimento artístico, o expressionismo alemão no cinema, com os elementos visuais do Caligari.
Para esta comunicação, tomaremos o filme O Farol como um exemplo inicial do que seria o pós-caligarismo, o que nos permitiria projetá-lo como um conceito que, e esta é nossa hipótese, permitiria análises mais abrangentes e aprofundadas das produções audiovisuais contemporâneas influenciadas pelo Caligari, revelando conexões temáticas e estilísticas que não são plenamente contempladas pelo termo caligarismo. Portanto, ao examinarmos como um conceito como o de pós-caligarismo transcenderia as fronteiras do caligarismo original, seria possível identificarmos elementos autorais de cineastas do início do século XX em cineastas atuais, ressaltado pensamentos que fluem e que se reinventam.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. 2 ed. Campinas: Papirus, 2003.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
TODOROV, Tzvetan, 1939. Introdução à literatura fantástica. Tradução: Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2014.