Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos (ECO UFRJ)
Minicurrículo
- Guiomar Ramos, professora associada de Graduação e de Pós-Graduação no PPGMC, ECO/UFRJ. Pós-doc: UFBAUL, “As herdeiras de abril” (2022). Publicou entre outros “Um cinema brasileiro antropofágico (1970-74)” (FAPESP, 2008) e “Fragmentos de uma história do Cinema Experimental Brasileiro” com Lucas Murari in Nova História do Cinema Brasileiro, vol.2. (2018) Documentarista, dirigiu os curtas Pixador (2000), Café com leite (água e azeite?) (2007) e o longa Por parte de Pai, (2018).
Ficha do Trabalho
Título
- Filipa César: intersecções artísticas e o pensamento Decolonial
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir “Spellreel” (2017) Filipa César e “Mangrove School” Filipa César e Sônia Vaz Borges (2022), analisar as intersecções existentes entre o audiovisual experimental e o pensamento Decolonial. Como prática artística que conexões essas obras podem suscitar para além dos limites e imposições do pensamento Decolonial? Como cinema político, os signos representativos da memória da luta anticolonial podem ecoar em nosso tempo presente/urgente?
Resumo expandido
- Desde 2008 a artista e cineasta portuguesa Filipa César trabalha sobre o espólio fílmico do acervo do Instituto Nacional de Cinema e Audiovisual da Guiné-Bissau (INCA), país escolhido pela diretora para representar a construção de um projeto transdisciplinar de cinema e audiovisual. César segue a tradição de outras diretoras portuguesas que após o 25 de abril se debruçam profundamente sobre o cinema dos países libertos do poder colonial nos anos 1970. A história da luta pela libertação desses países e a realização de filmes militantes, como no caso da Guiné Bissau, Angola e Moçambique, estão imbricadas. É Margarida Cardoso quem abre essa experiência no cinema português através da apropriação do espólio fílmico de Moçambique, produzindo o importante documentário Kuxa Kanema, o nascimento do cinema, 2003. César traz à tona, no campo experimental das relações entre documento e documentário, uma crítica radical ao poder colonial eurocêntrico representado pela Guiné-Bissau através da desconstrução fílmica. Para resgatar esse simbólico crítico existente na obra de César e apontar para os diálogos possíveis entre o Experimental e o Decolonial, escolhemos analisar: Spell Reel, 2016 e Mangroove School, 2022, com co-direção de Sônia Vaz Borges. Depois dos curtas Cacheu (11 min), Cuba (11 min), 2012 Conacry, 2013, da trilogia, A Luta Ca Caba Inda, mais os médias Mined Soil (2015) e Transmission from Liberated Zones (2016) (Paulo Cunha, Morgana Gama), Cesar produz seu primeiro longa-metragem, Spell Reel, dando continuidade à pesquisa com o material filmado por Sana Na N’Hada, Flora Gomes, José Bolama Cobumba e Josefina Crato. Reescreve esse cinema militante visto como imagens de arquivo, revelando sua pesquisa na moviola, traz à tona a transferência da película para o digital e os custos desse procedimento. Registros que testemunham o nascimento do cinema na Guiné-Bissau na visão descolonizadora do líder revolucionário Amílcar Cabral são exibidos e debatidos com a plateia. Em um telão ao ar-livre, vemos imagens antigas em um recorte pequeno que, quando substituídas pelo espaço da tela toda, transformam o passado no instante do presente. Em Mangrove School, 2022, a intertextualidade não é tão recorrente. Para representar o local que no tempo da guerra foi uma escola na selva, são utilizadas performances. Uma mulher sentada nesses troncos dentro da água costura manualmente um cesto, tendo um livro embaixo como apoio: “Primeiro livro de leitura”. Um homem vestido com calça e camisa social surge de dentro das águas do mangue. Esconderijo de guerra? Crianças andam e se dependuram entre árvores e troncos, no meio da água, no mangue, com imagens de mapas e desenhos de páginas das cartilhas de alfabetização. Contrapondo as performances, imagens das cartilhas, nelas o respeito à perspectiva do aluno, a ilustração de várias granadas surge como exemplo do aprendizado da soma matemática, destacam o cotidiano da guerra. A pesquisa de Sônia Vaz Borges traz o pensamento de Amilcar Cabral, que desde 1949, sua forma pioneira de educação política, a necessidade de produzir conhecimento a partir das realidades africanas, de construir escolas na floresta. Este filme é resultado dessa historiadora interdisciplinar militante, também portuguesa, co-diretora. Nos interessa aqui analisar a partir dessas obras as intersecções existentes entre o audiovisual experimental e o pensamento Decolonial. Como metodologia seus filmes são feitos de restos de filmes, de trechos de películas recuperadas, reapresentações de um passado de luta, emergem como potência de ressignificação. Que conexões a obra de César pode suscitar como prática artística para além dos limites e imposições do pensamento Decolonial? Como cinema político ou ativista como os signos representativos da memória da luta anticolonial ecoam em nosso tempo presente e urgente?
Bibliografia
- BORGES, S.V. A educação a política p libertação da Guiné Bissau 1963 1964. https://thetricontinental.org/pt-pt/estudos-1-libertacao-nacional-paigc-educacao/
BRANCO, S.C. Filipa César: Spell Reel (2017), Contemporânea, ed. 11, 2017.https://contemporanea.pt/edicoes/11-2017/spell-reel-2017-de-filipa-cesar
CESAR, F. Debate/lecture.“Irrelevant Archive.The struggle is not over yet.” https://vimeo.com/340635184
CUNHA, P. e GAMA, M. Memórias de luta, registros da guerra: potência política das imagens, Spell Reel Filipa César. Vazantes n3,01.2019
LIZ M. & OWEN H. Women’s Cinema in Contemporary Portugal. NY: Bloomsbury,2020
FANON, F. Os condenados da terra. RJ Civilização Brasileira,1979
MACDONALD, S.: Avant Doc: Intersections of Documentary and Avant Garde. NY: Oxford Press,2014
MIGNOLO, W. Decolonial challenges today.Duke University.2014
OLIVEIRA,M. Around Ruins: Notes on Feminist and Decolonial Conversations in Aesthetics
“Specters Freedom Cinema and Decolonization” Arsenal Institut Fur Film