Ficha do Proponente
Proponente
- Isadora Tiemi Coelho Issagawa (UFMS)
Minicurrículo
- Graduada no curso de Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Possuiu vínculo como bolsista pela Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec), onde integrou como estagiária o Museu da Imagem e do Som de Mato Grosso do Sul (MIS-MS). Atualmente é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Ficha do Trabalho
Título
- AMOR MALDITO: SOCIEDADE E LESBIANIDADE NO CINEMA DA ABERTURA
Formato
- Presencial
Resumo
- A pesquisa se concentra na análise fílmica de Amor Maldito (1984) de Adélia Sampaio, que busca entender como as imagens e sons do filme testemunham as complexas relações entre moral, sociedade e lesbianidade no país, durante o período da abertura política (1979-1985). O estudo também se propõe a pensar o longa-metragem como um documento histórico, visando compreender o contexto de sua produção e exibição.
Resumo expandido
- O presente projeto propõe um estudo sobre o filme Amor Maldito (1984) de Adélia Sampaio, um dos primeiros longas-metragens brasileiros a ter duas mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente como protagonistas, tendo por diretora a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil. Por meio do método da análise fílmica, a pesquisa busca entender a relação entre moralidade cristã, sociedade brasileira e lesbianidade no país, no contexto histórico configurado pela abertura política (1979 – 1985).
A obra participa de discussões de sua época, configurando uma crítica à sociedade brasileira de seu tempo. Em entrevista, ao ser questionada sobre para quem fez o filme, afirmou: “Eu queria gritar aos sete ventos que existe uma minoria que precisa ser reconhecida.” (2023). O longa é baseado em um acontecimento real, onde a personagem Fernanda Maia (Monique Lafond) é acusada de ter assassinado sua ex-companheira, Sueli Oliveira (Wilma Dias). Porém, no tribunal, onde se passa a maior parte da narrativa, o julgamento assume contornos morais e a centralidade da discussão recai sobre o fato de Fernanda ser uma mulher homossexual. No filme, o tribunal funciona como um microcosmo da sociedade brasileira, por onde perpassam temas como moralidade cristã, questões sociais, de gênero, de sexualidade, de raça e deflagra a perspectiva jurídica da constituição de 1967, vigente no período representado.
O longa foi lançado quatro anos antes da promulgação da Constituição de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, que trouxe consigo uma série de mudanças e inovações significativas que propuseram balizas para mudanças e os direitos dos cidadãos. A constituição estabeleceu a cidadania e a dignidade humana como princípios fundamentais, garantindo em seu texto a previsão de uma série de direitos universais para a população, como educação, saúde, moradia e trabalho. Amor Maldito espelha essas mudanças nas personagens Fernanda, Sueli e seus amigos. O longo não é somente um retrato de uma época da sociedade e política brasileira, mas é, também, um documento histórico, já que o filme consegue apresentar importantes aspectos sobre a organização social brasileira daquele emblemático período. Portanto, a pesquisa tem o intuito de olhar para o filme como um documento histórico, a ser analisado, buscando entender as balizas temporais de seu contexto histórico de produção e exibição, além de contribuir para que o cinema de Adélia possa configurar com mais destaque dentro de uma perspectiva historiográfica do cinema brasileiro. Amor Maldito nos oferece um grande potencial para estudarmos sociedade, moralidade, lesbianidade, representatividade e memória no Brasil, na época de sua produção e exibição, também contribuindo para, por meio do cinema, aspectos do comportamento social brasileiro possa ser melhor compreendido dentro de uma perspectiva histórica.
A principal metodologia que será aplicada ao trabalho de pesquisa será a de análise fílmica, que tem se consolidado cada vez mais na perspectiva do filme como documento histórico. O trabalho seguirá os pressupostos apresentados por autores como Jean-Claude Bernardet (1985), Jean-Louis Leutrat (1995), Ismail Xavier (2007), Eduardo Morettin (2013) e Sylvie Lindeperg (2013), que compõem esta bibliografia. Procuraremos compreender assim, a obra como documento de uma época (FERRO, 1992). Também usaremos da pesquisa documental como método. Pesquisaremos o acervo pessoal de Adélia Sampaio, como documentação correlata ao filme, com o objetivo de desdobrar questões do contexto histórico no qual a obra está inserida. Essa metodologia também será aplicada sob acervos contidos em bibliotecas físicas e digitais e, acervos fílmicos, de instituições como a Hemeroteca Digital Brasileira, a Biblioteca Nacional e a Cinemateca Brasileira.
Bibliografia
- BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
LAURETIS, Teresa. Alicia ya no: feminismo, semiótica, cine. Universitat de València, 1992.
LEUTRAT, Jean-Louis. “Uma relação de diversos andares: Cinema & História”. Imagens. Cinema 100 anos, n. 5, 1995, p. 28-33.
LINDEPERG, Sylvie. O caminho das imagens: três histórias de filmagens na primavera-verão de 1944. Estudos Históricos (Rio de Janeiro), v. 26, p. 9-34, 2013.
MORETTIN, Eduardo Victorio. Humberto Mauro, cinema, história. São Paulo: Alameda, 2013.
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. Editora Contexto, 2014.
PERROT, Michele. As mulheres e os silêncios da história. Bauru: Edusc, 2005.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. Editora Companhia das Letras, 2015.
XAVIER, Ismael. Sertão Mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo, Brasiliense, 2007.