Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Isadora Tiemi Coelho Issagawa (UFMS)

Minicurrículo

    Graduada no curso de Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Possuiu vínculo como bolsista pela Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec), onde integrou como estagiária o Museu da Imagem e do Som de Mato Grosso do Sul (MIS-MS). Atualmente é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Ficha do Trabalho

Título

    AMOR MALDITO: SOCIEDADE E LESBIANIDADE NO CINEMA DA ABERTURA

Formato

    Presencial

Resumo

    A pesquisa se concentra na análise fílmica de Amor Maldito (1984) de Adélia Sampaio, que busca entender como as imagens e sons do filme testemunham as complexas relações entre moral, sociedade e lesbianidade no país, durante o período da abertura política (1979-1985). O estudo também se propõe a pensar o longa-metragem como um documento histórico, visando compreender o contexto de sua produção e exibição.

Resumo expandido

    O presente projeto propõe um estudo sobre o filme Amor Maldito (1984) de Adélia Sampaio, um dos primeiros longas-metragens brasileiros a ter duas mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente como protagonistas, tendo por diretora a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil. Por meio do método da análise fílmica, a pesquisa busca entender a relação entre moralidade cristã, sociedade brasileira e lesbianidade no país, no contexto histórico configurado pela abertura política (1979 – 1985).
    A obra participa de discussões de sua época, configurando uma crítica à sociedade brasileira de seu tempo. Em entrevista, ao ser questionada sobre para quem fez o filme, afirmou: “Eu queria gritar aos sete ventos que existe uma minoria que precisa ser reconhecida.” (2023). O longa é baseado em um acontecimento real, onde a personagem Fernanda Maia (Monique Lafond) é acusada de ter assassinado sua ex-companheira, Sueli Oliveira (Wilma Dias). Porém, no tribunal, onde se passa a maior parte da narrativa, o julgamento assume contornos morais e a centralidade da discussão recai sobre o fato de Fernanda ser uma mulher homossexual. No filme, o tribunal funciona como um microcosmo da sociedade brasileira, por onde perpassam temas como moralidade cristã, questões sociais, de gênero, de sexualidade, de raça e deflagra a perspectiva jurídica da constituição de 1967, vigente no período representado.
    O longa foi lançado quatro anos antes da promulgação da Constituição de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, que trouxe consigo uma série de mudanças e inovações significativas que propuseram balizas para mudanças e os direitos dos cidadãos. A constituição estabeleceu a cidadania e a dignidade humana como princípios fundamentais, garantindo em seu texto a previsão de uma série de direitos universais para a população, como educação, saúde, moradia e trabalho. Amor Maldito espelha essas mudanças nas personagens Fernanda, Sueli e seus amigos. O longo não é somente um retrato de uma época da sociedade e política brasileira, mas é, também, um documento histórico, já que o filme consegue apresentar importantes aspectos sobre a organização social brasileira daquele emblemático período. Portanto, a pesquisa tem o intuito de olhar para o filme como um documento histórico, a ser analisado, buscando entender as balizas temporais de seu contexto histórico de produção e exibição, além de contribuir para que o cinema de Adélia possa configurar com mais destaque dentro de uma perspectiva historiográfica do cinema brasileiro. Amor Maldito nos oferece um grande potencial para estudarmos sociedade, moralidade, lesbianidade, representatividade e memória no Brasil, na época de sua produção e exibição, também contribuindo para, por meio do cinema, aspectos do comportamento social brasileiro possa ser melhor compreendido dentro de uma perspectiva histórica.
    A principal metodologia que será aplicada ao trabalho de pesquisa será a de análise fílmica, que tem se consolidado cada vez mais na perspectiva do filme como documento histórico. O trabalho seguirá os pressupostos apresentados por autores como Jean-Claude Bernardet (1985), Jean-Louis Leutrat (1995), Ismail Xavier (2007), Eduardo Morettin (2013) e Sylvie Lindeperg (2013), que compõem esta bibliografia. Procuraremos compreender assim, a obra como documento de uma época (FERRO, 1992). Também usaremos da pesquisa documental como método. Pesquisaremos o acervo pessoal de Adélia Sampaio, como documentação correlata ao filme, com o objetivo de desdobrar questões do contexto histórico no qual a obra está inserida. Essa metodologia também será aplicada sob acervos contidos em bibliotecas físicas e digitais e, acervos fílmicos, de instituições como a Hemeroteca Digital Brasileira, a Biblioteca Nacional e a Cinemateca Brasileira.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
    FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
    LAURETIS, Teresa. Alicia ya no: feminismo, semiótica, cine. Universitat de València, 1992.
    LEUTRAT, Jean-Louis. “Uma relação de diversos andares: Cinema & História”. Imagens. Cinema 100 anos, n. 5, 1995, p. 28-33.
    LINDEPERG, Sylvie. O caminho das imagens: três histórias de filmagens na primavera-verão de 1944. Estudos Históricos (Rio de Janeiro), v. 26, p. 9-34, 2013.
    MORETTIN, Eduardo Victorio. Humberto Mauro, cinema, história. São Paulo: Alameda, 2013.
    NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. Editora Contexto, 2014.
    PERROT, Michele. As mulheres e os silêncios da história. Bauru: Edusc, 2005.
    SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. Editora Companhia das Letras, 2015.
    XAVIER, Ismael. Sertão Mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo, Brasiliense, 2007.