Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas Honorato Cordeiro Contreiras Teles (UFRJ)
Minicurrículo
- Graduado em Cinema de Animação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestre em Comunicação e Cultura no PPGCOM da UFRJ. Orientado pela Prof. Dra. Liv Sovik. Doutorando no PPGCOM da UFRJ. Curador freelancer, realizador audiovisual e pesquisador de cinema, comunicação, raça e etnicidade. Redator na revista Descompasso.
Ficha do Trabalho
Título
- Tendências curatoriais nos festivais de Cinema Negro na década de 2010
Seminário
- Festivais e mostras de cinema e audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta pesquisa faz parte da dissertação em comunicação e cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É uma investigação do percurso do Cinema Negro brasileiro, de suas tendencias e influências na sua constituição como um campo cultural, com ênfase na década de 2010. Para tatear esse percurso, utilizamos a curadoria dos eventos de Cinema Negro no intuito de analisar as tendências tomadas e as eclosões no desenvolvimento do campo e sua relação com o cinema brasileiro como um todo.
Resumo expandido
- Este trabalho é resultado da dissertação de mestrado entitulada “Tendências curatoriais nos festivais de Cinema Negro na década de 2010”, que buscou evidenciar as tendências que permaneceram e as que se dissolveram no percurso histórico do Cinema Negro brasileiro, projeto que se concretiza através da análise dos discursos curatoriais dos festivais específicos deste campo, assim como com o exame da própria materialidade da programação das sessões realizadas. Sob esse prisma, a pesquisa tem como objetivo adentrar o pensamento negro brasileiro por meio do Cinema Negro, como uma maneira de tatearmos o sistema simbólico de classificação estruturante do mesmo enquanto campo em questão.
A pesquisa aqui descrita pensa a constituição do Cinema Negro brasileiro enquanto um campo cultural, através do jogo interno que envolve o atrito entre a liquidificação e a solidificação do mesmo. Com isso em vista, utilizamos do conceito de Campo Cultural e da elaboração acerca da economia das trocas simbólicas de Pierre Bourdieu (2007), juntamente com o conceito de mediações culturais de Jesús Martín-Barbero (1997). Considerando que “a curadoria, de alguma maneira, configura um espaço cultural, social, que forja elementos que permitem uma construção de comunidade na mediação entre as obras e a recepção” (CESAR, 2020), é crucial entender o papel da curadoria na constituição do Cinema Negro para visualizá-la como campo. A partir desses aspectos, os termos Curadoria e Cinema Negro são acepcionados dentro do que Pierre Bourdieu caracteriza como um “Campo de produção cultural restrita, que é definido como aquele projetado especificamente para cumprir uma função de consagração, bem como para multiplicar produtores de um tipo determinado de bens culturais e o consumidor capaz de consumi-los” (BOURDIEU apud GARRETT, 2020, p. 81).
Também propõe-se pensar a curadoria como um dispositivo de mediação cultural recíproca entre discurso curatorial e produção cinematográfica, para ver as influências e constituições do Cinema Negro Brasileiro contemporâneo. Assimilamos aqui a ideia de dispositivo descrita em entrevista por Foucault, que se dá como “um conjunto heterogêneo, que inclui virtualmente qualquer coisa, linguístico e não linguístico no mesmo título: discursos, instituições, edifícios, leis, medidas de segurança, proposições filosóficas, etc” (apud AGAMBEN, 2005, p. 9). A pesquisa focaliza nas epistemes deste campo, a partir do mapa de difusão do Cinema Negro brasileiro, no site Negritude Infinita, por meio de uma análise de suas vertentes dissonantes e convergentes a partir dos discursos observados na seleção, pelos textos e modos de programação dos filmes.
Ao especificar a epistemologia para o recorte da pesquisa, isto é, a curadoria de festivais de Cinema Negro, relacionamos as epistemes desse dispositivo para dois pontos, o dos filmes e o das curadorias. O primeiro é a epistemologia dos discursos e das formas fílmicas que emergiram na centralidade dos festivais, prioritariamente de curtas-metragens. O segundo é o modo com que as curadorias articulam os programas, com a forma que os filmes são relacionados e como isso pode explicitar certos modos de pensar o Cinema Negro. Para isso, investigamos as tendências internas do Cinema Negro nesses festivais, ao longo da década de 2010. Assim, averiguamos quais foram as articulações curatoriais feitas, quais filmes, formas e discursos foram valorizados e quais foram preteridos, bem como compreendemos qual foi a relação construída com o campo do Cinema Negro num geral. Além disso, nos interessa as articulações externas do campo para o cinema brasileiro como um todo, suas eclosões e inflexões no campo, como na proliferação de eventos e os acontecimentos no Festival de Brasília em 2017.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. O QUE É UM DISPOSITIVO? Revista Outra Travessia Nº 5, p. 9 – 16. janeiro 2005;
BOSMA, Peter. Film Programming: Curating for Cinemas, Festivals, Archives. Londres; Nova York: Wallflower, 2015.
GARRETT, Adriano. A CURADORIA EM CINEMA NO BRASIL CONTEMPOR NEO: Festivais de Cinema e o Caso da Mostra Aurora (2008-2012). Dissertação (Mestrado em Comunicação) Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi. São Paulo. 2020;
BOURDIEU, Pierre. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio (Org.). Escritos de educação. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações. Belo Horizonte: editora UFMG, 2004;
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: editora UFRJ, 1997;
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014;
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. Buenos Aires: CLACSO, 2005.