Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Yasmin Brigato de Angelis (UAM)

Minicurrículo

    Em 2012 obteve o título de Técnica em Design de Interiores pelo SENAC de São José do Rio Preto/SP. Conquistou a graduação em 2016, como Bacharela em Arquitetura e Urbanismo pela UNIFEV, na cidade de Votuporanga/SP. Em 2020 obteve o título de Mestra, pela UNESP de Bauru. Atualmente, se dedica às pesquisas relacionadas ao cinema de fluxo, com ênfase em filmes e cineastas do Leste Asiático e Ocidental, no Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi.

Ficha do Trabalho

Título

    (Re)encantamento das imagens em fluxo no Leste Asiático e Ocidente

Formato

    Presencial

Resumo

    Este estudo compara o cinema de fluxo no Leste Asiático e no Ocidente, destacando suas estéticas, narrativas e contextos culturais nos filmes “Memória” de Apichatpong Weerasethakul e “Bom Trabalho” de Claire Denis. Buscamos desmistificar um certo bloqueio ocidental em apreciar filmes de “não-ação”, promovendo um (re)encantamento em narrativas contemplativas e sensíveis. O Orientalismo, conceito de Said, é discutido para contextualizar a percepção do Oriente pelo Ocidente.

Resumo expandido

    Neste estudo, propomos uma análise comparativa entre o cinema de fluxo no Leste Asiático e no Ocidente, explorando suas respectivas estéticas, narrativas e contextos culturais. Buscamos investigar de que forma o cinema de fluxo é representado e praticado em ambos os contextos, destacando suas características distintivas e influências mútuas.
    No filme Memória (2022), do cineasta Tailandês Apichatpong Weerasethakul, a protagonista Jéssica ouve diariamente um barulho parecido com um estrondo. O som aparenta acontecer na consciência de Jéssica e inaudível para as outras pessoas. Na trama, a personagem se encontra em uma busca pessoal e metafísica de exploração sensorial tentando decifrar a origem do som e descrevê-lo a outras pessoas. A conexão com o inconsciente e a memória se faz muito presente na narrativa.
    Em Bom trabalho (1999), filme da cineasta Francesa Claire Denis, o enfoque são militares que passam os dias aperfeiçoando e fortalecendo seus corpos atléticos e monumentais, utilizando enquadramentos em contra-plongées, atribuindo um certo caráter divino a esses corpos. Denis valoriza a expressão emocional não-verbal, utilizando a linguagem corporal para transmitir sentimentos e conflitos internos. Muitas vezes, as emoções dos personagens são comunicadas através de gestos e olhares, em vez de diálogos explícitos.
    De um lado, somos afetados por uma estética do som. Por outro, somos afetados por uma estética das imagens. Em ambos os filmes, a linha narrativa se faz um tanto dispersa, mas nos afeta de uma forma como se esses elementos (sonoros e imagéticos) só existissem no universo particular de cada filme.
    O cinema de fluxo é caracterizado por uma ênfase na experiência sensorial, na imersão do espectador e na fluidez narrativa, desafiando as convenções tradicionais de enredo linear e estrutura narrativa. O cinema comparado, neste trabalho, faz parte de um processo metodológico para compreender, a partir das semelhanças e diferenças narrativas, estéticas e culturais, de que forma nós, ocidentais, recepcionamos filmes subjugados como parados ou de não-ação, como é o caso da grande maioria dos filmes inseridos na estética de fluxo do cinema asiático.
    Para o processo comparativo, contamos com a análise de montagem e edição, fotografia e cinematografia, som e trilha sonora, direção de arte e performance, evidenciando a cultura oriental e ocidental de modo geral, mas, especificamente sob a ótica cinematográfica e de vivências. De um lado, o leste asiático apresentando temáticas desde o simples do cotidiano até nos silêncios escondidos das relações interpessoais. Do outro lado, nosso modo ocidental, onde há um enraizamento sob a espetacularização, nos habituando a ter tudo muito nítido e amarrado aos olhos, trazendo narrativas que emergem de vidas ordinárias.
    O intuito é desmistificar um certo bloqueio ocidental em apreciar filmes que fogem de uma proposta narrativa de ação ou de narrativas mais lineares e propor um (re)encantamento das imagens em fluxo suscetíveis à temáticas marcadas pela contemplação da vida cotidiana, pela atenção aos detalhes sensoriais e pela representação poética do tempo e do espaço. Os cineastas do leste asiático são frequentemente caracterizados pelo uso da sensibilidade cultural que reflete as tradições, valores e aflições específicas de cada sociedade asiática.
    Quando falamos em bloqueio ocidental, ressaltamos a importância do Orientalismo, conceito discutido por Said (1990), na medida em que o Orientalismo emerge da posição de dominação do Ocidente sobre o Oriente. Said examina como os estudiosos, escritores, artistas e políticos ocidentais construíram uma imagem do Oriente como exótico, misterioso, atrasado e inferior em relação ao Ocidente. Essas representações não apenas moldaram a maneira como o Oriente foi percebido no mundo ocidental, mas também influenciaram as políticas coloniais e imperialistas implementadas nessas regiões.

Bibliografia

    AMIN, Samir. O eurocentrismo: crítica de uma ideologia. São Paulo: Lavrapalavra, 2021.

    BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

    CARVALHAL, Tania F. & COUTINHO, Eduardo F. (Org.). Literatura comparada – Textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

    MELLO, Cecília. Uma viagem pelos cinemas do leste asiático. Revista do centro de pesquisa e formação Sesc. São Paulo, n. 14, 2022. p. 191-212.

    FOUCAULT, Michel. “Os fatos comparativos”. In: ____. A arqueologia do saber. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013, p. 192-201.

    SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

    SOUTO, Mariana. Infiltrados e invasores – uma perspectiva comparada sobre as relações de classe no cinema brasileiro contemporâneo. Salvador: EDUFBA, 2019.

    TEO, Stephen. The asian cinema experience. Styles, spaces, theory. New York: Routledge, 2013.