Ficha do Proponente
Proponente
- Isabella Regina Oliveira Goulart (USP)
Minicurrículo
- Doutora e Mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP, graduada em Comunicação Social – Cinema pela UFF, atualmente realiza pesquisa de pós-doutorado na EACH-USP. É coordenadora Acadêmica na FMU FIAM-FAAM. Possui mais de 10 anos de experiência nas áreas de Comunicação e Artes. Participou e participa de diversas associações nos campos das Ciências Humanas e das Ciências Sociais Aplicadas, como a HoMER Network, a SCMS, a LASA, a SBS, a INTERCOM e a SOCINE.
Ficha do Trabalho
Título
- Críticos de cinema e intelectuais públicos: uma proposta de análise
Formato
- Presencial
Resumo
- A comunicação propõe uma análise do pensamento social através da crítica cinematográfica durante os anos 1930 no Brasil, partindo da compreensão de que ela tem desempenhado um importante papel como mediadora intelectual para os públicos latino-americanos. Tendo como objeto a revista Cinearte, pretende-se avaliar se os críticos se engajaram em projetos de identidade nacional que convergiram com o pensamento social brasileiro em outras áreas e se podem ser considerados como intelectuais públicos.
Resumo expandido
- A comunicação propõe uma análise do pensamento social através da crítica cinematográfica durante a década de 1930 no Brasil, tendo como objeto a revista Cinearte. Há uma escassez de pesquisas sobre o papel que a crítica de cinema tem desempenhado como mediadora intelectual para os públicos latino-americanos. O caminho aqui proposto se aproxima das revistas e da elite intelectual associada à indústria cinematográfica no Brasil para avaliar se os críticos de cinema podem ser encarados como intelectuais. Mais do que isso, propõe examinar se tinham legitimidade para serem vistos como “intelectuais públicos”, cujo nível de conhecimento, expertise e participação ativa na esfera pública eram reconhecidos, tendo em vista que o estado da arte no campo de estudos do cinema brasileiro considera que os periodistas de Cinearte, através de seus artigos e ensaios, tiveram um papel importante na formação de ideias e padrões culturais associados ao cinema numa escala nacional. Por fim, pretende-se analisar se, em algum nível, os críticos que escreveram para a revista estavam engajados em projetos de identidade nacional que convergiram com o pensamento social brasileiro em outras áreas, como a arte, a cultura e a antropologia.
O crescimento do mercado e a organização dos negócios cinematográficos na América Latina impulsionaram o surgimento de revistas de cinema na década de 1920, que ganharam influência ideológica e presença social na indústria cinematográfica local. Elas contribuíram para a definição de nichos e do espaço dos produtos culturais em seus países, estabelecendo padrões estéticos para a produção cinematográfica, práticas culturais e ideias que estiveram presentes no imaginário popular. No Brasil, as novas práticas associadas ao cinema e à cultura de massa se popularizaram.
Naquele período, muitos países latino-americanos passavam por um processo de modernização baseado em projetos de identidade nacional que combatiam o intervencionismo, recuperavam a ideia de América Latina e seu modo próprio de vida, defendendo as tradições locais. Em contrapartida, no final da década de 1920, a América Latina era o mercado externo mais importante de Hollywood, enquanto as políticas nacionalistas europeias tentavam barrar o domínio dos filmes estadunidenses. A chegada do cinema falado na virada para a década de 1930 foi um elemento importante para a crítica cinematográfica na América Latina e no Brasil, levantando questões associadas aos padrões culturais nacionais, que apareceram nas páginas de Cinearte.
Os nomes de Adhemar Gonzaga e Mário Behring, editores-chefes da revista, se destacaram na organização de seu projeto editorial. Em 1929, Gonzaga fundou a Cinédia, tornando-se também diretor e produtor de filmes, enquanto Behring foi um exemplo do que Miceli (2001) chama de “intelectual polígrafo”: um homem de letras que exerceu diversas atividades relacionadas à intelectualidade (crítico de cinema, historiador, jornalista, autor e burocrata). Em seus percursos intelectuais, o grupo de críticos de Cinearte circulou em espaços políticos privilegiados pelo campo artístico-cultural e tal acesso ajudou a determinar as disposições que apareceram nas discussões da revista. Eles podem ser vistos como mediadores culturais, que conectavam grupos sociais distintos e inter-relacionavam diferentes visões de mundo (LUCAS, 2005).
A interseção com o pensamento social é uma abordagem relevante, pois confere uma dimensão multidisciplinar à pesquisa em cinema, incluindo os Estudos Culturais. Os estudos do pensamento cultural e social envolvem pesquisas focadas em uma gama de produtores e produções intelectuais e artísticas, juntamente com os sistemas de valores e formas de linguagem da própria cultura (SCHWARCZ; BOTELHO, 2011).
Bibliografia
- ADAMATTI, M. M. A crítica cinematográfica e o star system nas revistas de fãs: A Cena Muda e Cinelândia (1952-1955). Dissertação em Ciência da Comunicação, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 2008.
BORGE, J. Progress of Hollywood: Latinamerican cinematography criticism, 1915-1945. Rosario: Beatriz Vierbo Editora, 2005.
LUCAS, T. C. Cinearte: o cinema brasileiro em revista (1926-1942). Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
MICELI, S. Intelectuais à brasileira. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2001.
NAVITSKI, R.; POPPE, N. (org.). Cosmopolitan Film Cultures in Latin America, 1896-1960. Bloomington: Indiana University Press, 2017.
SCHWARCZ, L.; BOTELHO, A (org.). Dossiê Pensamento Social Brasileiro. Lua Nova, v. 26, n. 2, 2011.