Ficha do Proponente
Proponente
- Isabella Cristina Oliveira Lopes (UFSCar)
Minicurrículo
- Mestranda no Programa de Pós Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos com bolsa pela CNPq, Formada em Comércio Exterior pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo, Técnica em Audio e Video pela Escola Técnica Jornalista Roberto Marinho, Especialização Profissonal em Distribuição e Exibição Cinematográfica pelo Instituto de Cinema, atuou no mercado cinematográfico em cargos de Produção e Produção Executiva para canais como PrimeVideo, Netflix, Globoplay e Universal.
Ficha do Trabalho
Título
- Uma análise da transição de obras seriadas de streaming para TV
Formato
- Presencial
Resumo
- A pesquisa se propõe analisar o processo de flexão de uma obra seriada advinda de uma plataforma de streaming para a televisão aberta, a partir da recepção da obra Todas as Flores (2022) de João Emanuel Carneiro, lançada primeiro no Globoplay e posteriormente exibida na emissora Globo. A importância do modo melodramático nas obras seriadas, a relação do espectador com a programação teleficcional da emissora e a mediação dos meios de comunicação por quem assiste serão desenvolvidas neste trabalho
Resumo expandido
- No dia 19 de Outubro de 2022 a teleficção “Todas as Flores” era lançada como novo produto do Grupo Globo voltado exclusivamente para a plataforma Globoplay. A produção, que conta com o total de oitenta e cinco capítulos, foi disponibilizada semanalmente na plataforma de cinco em cinco capítulos, até chegar ao número de quarenta e cinco, passando por uma pausa de aproximadamente quatro meses até voltar a ser disponibilizada completamente em seu último capítulo no dia 01 de Junho de 2023. Ainda no mesmo ano de 2023, a produção foi anunciada como parte da programação do canal no horário das 23:00 horas. Se na plataforma a obra foi dividida em dois blocos, na televisão sua exibição foi ininterrupta dentro da programação da emissora em um compilado de apenas cinquenta e cinco capítulos.
O aproveitamento de um mesmo produto em diferentes plataformas abre discussões acerca dos modos de assistir uma obra, que pode estar relacionado ao seu formato propriamente dito. A obra seriada tem por característica ser um conglomerado de episódios interligados entre si com linearidade narrativa e personagens recorrentes (GUNNING, 2005). No início, era a estrutura narrativa melodramática combinada de propaganda massiva dos exibidores que mantinha um seriado em cartaz durante semanas (SINGER, 2001). A absorção das obras seriadas cinematográficas pela televisão, prioriza a exibição episódica e programada, encontrando espaço para a manutenção de um público recorrente, a ponto do melodrama por si só tornar-se alimento cotidiano da América Latina (BARBERO, 1997). Se o cotidiano é o cerne da programação teleficcional que garante sua audiência diária, este conceito é estremecido a partir do surgimento de repositórios online como Youtube e, posteriormente, as plataformas sob demanda que trazem consigo um novo formato de visualização, o binge-watch (assistir em maratona). Apesar do formato episódico programado se mostrar estremecido com a ascensão do VOD (video on demand) no Brasil, o Grupo Globo – reconhecido por sua emissora de TV constituída em 1965 produtora massiva de teleficções, também detentor de uma plataforma de streaming própria, o Globoplay – apresenta-se pioneiro na programação e aplicação prática de como uma mesma obra seriada pode flexionar em prol da audiência e das necessidades do exibidor, uma vez que promove o trânsito de suas obras em diferentes plataformas de exibição.
Este trabalho não tem por objetivo analisar o processo de transição de obras teleficionais para plataformas sob demanda. Tal assunto já é amplamente discutido, sobretudo acerca dos processos intermidiáticos que um produto pode sofrer. O enfoque aqui se dará no processo inverso, que não prioriza a liberdade do espectador colocando-o no papel de programador, mas apresenta-se como um fenômeno de consumo que converge o público para a programação diária de uma emissora. Em vista disso, quais são os parâmetros considerados pelo espectador ao assistir um produto? Quais fatores o influenciam a assistir na plataforma de streaming ou acompanhar o mesmo conteúdo pela televisão?
A abordagem metodológica busca conciliar estudos de recepção para teleficcionalidade (LOPES, BORELLI, RESENDE, 2002) com estudos culturais e da comunicação. A partir de uma análise quali-quantitativa embasada pelo modelo das mediações (BARBERO, 1997) o objeto de estudo – a teleficção Todas as Flores (2022) – vai balizar como se dá o uso social dos meios de comunicação (televisão ou plataforma de streaming), e evidenciar a interação do sujeito (espectador) e sua bagagem cultural de consumo como práticas de mediações.
Rompendo com a conjuntura mercadológica, que tem o ineditismo como principal moeda de troca entre quem produz e quem assiste, a hipótese aponta que a escolha do espectador também leva em conta fatores que ultrapassam o formato em si – fatores sociais, familiares e até mesmo econômicos – mas que não se distanciam completamente dos hábitos cotidianos do ato de assistir.
Bibliografia
- GUNNING, Tom “Detective films”, em R. Abel (org.), Encyclopedia of Early Cinema, Londres e Nova York: Routledge, 2005, p. 257.
MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações.UFRJ, 1997. pp 291 – 303
SINGER, Ben. Melodrama and Modernity: Early Sensational Cinema and Its Contexts, COLUMBIA UNIVERSITY PRESS, 2001 pp 189 – 288
IMMACOLATA, Maria BORELLI, Silvia RESENDE, Vera. Vivendo com a telenovela: mediações, recepção, teleficcionalidade Editora Afiliada, 2002, pp.24-50