Ficha do Proponente
Proponente
- Leticia Machado Santinon (UFRB)
Minicurrículo
- Leticia Santinon é distribuidora, pesquisadora, curadora e programadora audiovisual. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) com a pesquisa sobre a circulação de Sarah Maldoror no Brasil. Em 2023 fundou a Cajuína Audiovisual, distribuidora sediada em Salvador, Bahia, com foco em campanhas de impacto.
Ficha do Trabalho
Título
- A CIRCULAÇÃO DE SARAH MALDOROR NO BRASIL
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Formato
- Presencial
Resumo
- O cinema de Sarah Maldoror surge em um contexto de lutas pela independência dos países africanos, demonstrando o engajamento da diretora por meio da expressão audiovisual e da utilização de sua arte como uma ferramenta de combate ao colonialismo e à opressão. Apresentamos um panorama da circulação de sua obra no Brasil, contribuindo com outras pesquisas sobre a realizadora e ampliando o debate sobre a recepção dos cinemas africanos no Brasil.
Resumo expandido
- Ao examinar a circulação da obra de Sarah Maldoror no Brasil, esta pesquisa revela um duplo movimento: a) no que se refere ao estilo singular de Maldoror na criação de imagens, construído em um cinema de reparação que narra as histórias das pessoas subjugadas pelo colonialismo e o racismo. A opção de Sarah por tornar visível o povo africano, especialmente as mulheres, comunidades e trabalhadores, reflete sua personalidade como diretora; b) em relação à circulação de suas imagens no Brasil, que representam, através de sua estética da reparação, o colonialismo e suas consequências, trazendo ao visível o povo negro africano que vive, luta e resiste por sua liberdade. Em um país com a maioria da população de origem negra, como o Brasil, e que cada vez mais produz e busca investimentos no cinema negro, as imagens de Sarah encontram eco no cinema brasileiro que busca reparação a partir de sua estética. A pesquisa teve como objetivo mapear e analisar a circulação da obra de Sarah Maldoror no Brasil entre os anos de 2016 e 2023, com foco na produção crítica dos eventos que exibiram seus filmes. Através da análise das imagens de Sarah, foi possível identificar o direito à imagem, presente nos cinemas africanos, conforme mencionado por Bamba. Este estudo estabeleceu um diálogo com as reflexões do autor acerca da relação entre a obra e seu público na recepção cinematográfica, buscando entender como os filmes de Maldoror foram recebidos e interpretados pelo público brasileiro. Embasada nas análises e contribuições de Ranciére e Bamba, a investigação se insere no campo dos estudos de Mídias e Sensibilidades. No exame das imagens de Sarah, buscando uma compreensão ampliada de sua recepção no Brasil, sem deixar de considerar os fatores históricos e políticos. A pesquisa também identificou a poética do encarceramento em seus filmes, bem como suas imagens de reparação, que retratam os países e povos africanos em sua ativa busca por autodeterminação. A análise de duas obras que propõem uma visão abolicionista é particularmente relevante no Brasil do século XXI, uma nação com uma taxa alarmante de encarceramento e mortalidade da população negra através de ações do Estado. As imagens de reparação concebidas sob a direção de Sarah “encontram eco” em nossa reflexão sobre o cinema, audiovisual, arte e cultura em geral. Destacamos aqui o longa metragem por ser o filme mais comentado no corpus empírico de nossa pesquisa. O acesso aos seus filmes aumentou consideravelmente em decorrência de dois eventos de grande impacto já mencionados – seu falecimento e a pandemia de COVID-19, ambos aliados a uma infraestrutura tecnológica que facilitou essa ampla circulação. Mostras e festivais, tanto dentro quanto fora do Brasil, desempenharam um papel crucial nesse processo, de modo que esse conjunto de fatores se mostrou essencial para a realização da nossa pesquisa. A partir do contexto apresentado, concluímos nosso estudo reiterando a importância do cinema de Maldoror como uma lente através da qual podemos vislumbrar as lutas anticolonialistas e abolicionistas. O esforço para mapear e analisar as mostras e festivais onde suas obras foram exibidas, ressaltam a relevância de sua contribuição para a cinematografia mundial e para a conscientização social. O valor das suas obras transcende as telas, promovendo discussões críticas e reflexões pertinentes à sociedade brasileira contemporânea. Nosso objetivo foi contribuir para o resgate da memória e legado de Sarah, dando continuidade a esse trabalho que acreditamos ser fundamental para a valorização do cinema como veículo de resistência e questionamento a partir de uma ética e estética de reparação. Em um país que tem passado por um turbilhão de crises e golpes, a obra de Sarah Maldoror emerge como um farol, iluminando questões silenciadas. A recuperação e a difusão do seu cinema não apenas honram a memória da cineasta, mas também reafirmam a urgência de um questionamento crítico e do compromisso com a justiça social
Bibliografia
- BAMBA, Mahomed. A Recepção dos filmes africanos no Brasil. São Paulo. Estudos de Cinema SOCINE. Editora Annablume, 2006.
BAMBA, Mahomed. A Recepção Cinematográfica. Teoria e estudos de caso. Salvador. EDUFBA, 2013.
BAMBA, Mahomed. Filmes da África e da diáspora. Salvador. EDUFBA, 2012.
HOLANDA, Karla (Org.). Mulheres de cinema. Rio de Janeiro. Numa Editora, 2019.
HOOKS, Bell. Olhares negros: Raça e representação. São Paulo. Editora Elefante, 2019.
PIÇARRA, Maria do Carmo. Olhar de Maldoror: Singularidades de um cinema político. Coleção 12catorzebold 37, Edições Humus. Vila Nova de Famalicão (Portugal). 2022.
PRICE, Yasmina. Woman With a Weapon-Camera: On the work of Sarah Maldoror. The New Inquiry, 2020.
RANCIÈRE, Jacques. O trabalho das imagens: Conversações com Andrea Soto Calderón. Belo Horizonte: Chão de Feira, 2021.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.