Ficha do Proponente
Proponente
- ROBERTO RIBEIRO MIRANDA COTTA (UFPel)
Minicurrículo
- Professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde ministra disciplinas nas áreas de roteiro e direção, além de orientar trabalhos práticos e coordenar os projetos de extensão Zero4 Cineclube e Cine UFPel. Crítico e coeditor da revista Rocinante, é membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS) e da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE).
Ficha do Trabalho
Título
- A construção e destruição de Maria Braun: uma narrativa do pós-guerra
Seminário
- Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Segundo Elsaesser (1996), o cineasta Rainer Werner Fassbinder afirmava, de modo simbólico, que queria construir uma casa com seus filmes. Este artigo analisa a maneira como O casamento de Maria Braun (1979) sintetiza essa simbologia ao representar a construção (e destruição) de sua protagonista. Ao estudar cinco blocos narrativos da obra, investiga-se como a encenação ressalta aspectos do enredo para revelar vestígios deixados pela Segunda Guerra Mundial na trajetória da personagem.
Resumo expandido
- Rainer Werner Fassbinder nasceu na cidade bávara de Bad Wörishofen, em 31 de maio de 1945, semanas após a rendição da Alemanha nazista. Portanto, não pôde presenciar os bombardeios, explosões, torturas, massacres e extermínios causados pelos conflitos bélicos durante a Segunda Guerra Mundial. Em contrapartida, os rastros proporcionados pela barbárie acompanharam sua formação e acabaram refletidos em sua obra.
Simbolicamente, Fassbinder gostaria que seus filmes formassem uma casa. Alguns representariam o porão, outros as paredes, portas, janelas, e assim por diante. Ao final, esperava que sua obra tivesse uma estrutura sólida (ELSAESSER, 1996). Contudo, sua carreira foi interrompida de forma precoce, decorrente de uma overdose aos 36 anos. Em pouco mais de uma década como cineasta, realizou mais 40 filmes sobre temas diversos como a alienação política, a intolerância étnica, o terrorismo, a condição homossexual, a autonomia feminina, a masculinidade em crise, a exploração do proletariado etc.
Críticos e pesquisadores como Alpendre (2013) tentaram examinar as fundações dessa casa que representa a obra de Fassbinder, compreendendo o lugar que cada filme ocupa em seus cômodos. É difícil afirmar qual posição exata O Casamento de Maria Braun (1979) preenche na residência imaginária. Contudo, é possível cogitar que o filme sintetize toda essa construção.
Ambientado entre 1945 e 1954, acompanha os momentos derradeiros da guerra e os anos posteriores ao combate. A protagonista, interpretada por Hanna Schygulla, é uma mulher que perde o marido em meio aos escombros, passa por uma crise financeira e pessoal, busca alternativas para se reerguer, reencontra o cônjuge e, logo depois, destrói sua própria vida. Através da experiência da personagem principal, o longa-metragem também representa aspectos de um país desmoralizado que tenta se reconstruir diante de ruínas sociais, políticas e econômicas que parecem não indicar um horizonte harmônico.
Ao dividir o enredo em cinco partes (prólogo, 1º ato, 2º ato, 3º ato e epílogo), pretende-se examinar como a trajetória da protagonista Maria Braun revela os vestígios da Segunda Guerra Mundial, através da análise de elementos narrativos e estéticos. Para o estudo da narrativa, recorre-se a autores como Bordwell (1996), Gancho (2002) e Gaudreault & Jost (2009), que ajudam a pensar questões como a construção do tempo e do espaço, o desenvolvimento de ações e a subjetividade de personagens. Quanto à encenação (mise-en-scène), o artigo se ancora em estudiosos como Aumont (2006), Bordwell (2008) e Oliveira Jr. (2013), que contribuem com a discussão em torno do estilo cinematográfico, a partir de tópicos como plano, enquadramento, duração, movimentação de câmera, profundidade de campo, iluminação e cenário.
A hipótese da pesquisa é que a narrativa e a encenação do filme estabelecem uma perspectiva que aproxima a trajetória da protagonista aos aspectos históricos ao seu redor. Portanto, o problema instaurado é perceber como os elementos se conjugam para representar os rastros deixados pela Segunda Guerra Mundial nas vivências de Maria Braun.
Bibliografia
- ALPENDRE, Sérgio. Apontamentos para a filmografia comentada de Fassbinder. In: Dossiê
Fassbinder. Revista Interlúdio, 17/dez/2103, ,
acessado em 31/mar/2024.
AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa, Portugal: Texto & Grafia, 2006.
BORDWELL, David. La narración en el cine de ficción . Barcelona, Espanha: Paidós, 1996.
BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Campinas: Papirus,
2008.
ELSAESSER, Thomas. Fassbinder’s Germany: history, identity, subject. Amsterdam/Holanda: Amsterdam University Press, 1996.
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Editora Ática, 2002.
GAUDREAULT, André; JOST, François. A narrativa cinematográfica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009.
OLIVEIRA JR., Luis Carlos Gonçalves de. A mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo. Campinas: Papirus. 2013.