Ficha do Proponente
Proponente
- João Cláudio Simões de Oliveira (JC Oliveira) (UFF)
Minicurrículo
- JC Oliveira é cineasta e montador audiovisual. Doutorando em Cinema e Audiovisual na UFF (PPGCine), Mestre em Mídias Criativas pela ECO-UFRJ (PPGMC) e graduado em Cinema pela UFF. Pesquisa a realização e a montagem em cinema, TV e especialmente a realidade expandida (XR).
Ficha do Trabalho
Título
- Presenças e aproximações: possibilidades no documentário expandido
Mesa
- A montagem audiovisual contemporânea: entre telas e além das telas
Formato
- Presencial
Resumo
- Desde o início do cinema, a câmera foi instrumento de apreensão de outras realidades e a montagem da imagem e do som uma linguagem de aproximação. Atualmente, obras filmadas com a tecnologia de vídeo 360°, também conhecida como cinematic VR, contribuem para a criação de novas relações de aproximação, especialmente através do entendimento do espectador como presença corpórea. Ao trazer o público para dentro da obra, criam-se novas possibilidades de montagem e de aproximações.
Resumo expandido
- Desde o surgimento do cinematógrafo no final do século XIX, a tecnologia de captação de imagens em movimento tem sido usada como forma de registro de lugares, de pessoas e de situações muitas vezes distantes do público final. Formas hoje conhecidas como cinema documentário e cinema etnográfico se utilizaram ao longo dos anos de câmeras como instrumentos de apreensão de outras realidades e da montagem da imagem e do som como linguagem de aproximação.
“Nanook, o esquimó” (“Nanook of the North”), dirigido por Robert Flaherty em 1922, considerado o primeiro documentário da história, tinha como objetivo retratar a cultura do povo esquimó. Ainda que hoje o filme seja envolto de polêmicas, como o uso excessivo de situações ensaiadas, a obra se tornou um marco ao aproximar as pessoas de uma realidade distante. Com o tempo, tecnologias diversas foram trazendo novas possibilidades para essas narrativas, tanto em termos de qualidade como em termos de experiência. Imagens ganharam cores e a companhia de som direto, os formatos ganharam maior definição, o próprio aparato de captação foi se tornando mais compacto.
Um documentário como “Caverna dos Sonhos Esquecidos” (“Cave of Forgotten Dreams”), dirigido por Werner Herzog em 2010 é um exemplo do uso de uma tecnologia, no caso o 3D, como maneira de aproximar o público de uma determinada realidade, no caso inserir o espectador dentro da caverna Chauvet, no sul da França, cujo acesso é limitado. O filme pode até ser assistido de maneira tradicional, mas a experiência em 3D permite uma sensação de presença muito mais forte, quase permitindo ao público tocas as paredes milenares daquele local.
Atualmente, tecnologias do campo da realidade expandida (XR), como vídeo em 360° (também conhecido como cinematic VR ou realidade virtual cinemática), fotogrametria, realidade aumentada (AR) e outros apresentam novas possibilidades para a produção audiovisual documental, ao permitir novas aproximações. E cada uma dessas tecnologias demandam diferentes formas de se pensar a montagem das experiências.
Obras filmadas com a tecnologia de vídeo 360°, por exemplo, contribuem para a criação de novas relações de aproximação do conteúdo com o espectador, especialmente através do entendimento desse espectador, também chamado como interator ou usuário, como uma presença corpórea. “Meet the Soldier”, dirigido por Teddy Cherim em 2018, é um bom caso de um documentário em 360° que insere o público dentro da experiência e brinca com a própria linguagem virtual/real ao mostrar o conflito entre dois povos inimigos em Uganda.
Ao trazer o público para dentro da obra, cria-se novas possibilidades de montagem, com o usuário presente no centro das experiências, possibilitando novas formas de aproximações. Se antes o cinema documentário exibia uma realidade distinta em uma tela retangular, no cinema ou na TV, o vídeo 360° traz o espectador para dentro do documentário. Ele passa a ser não só testemunha, mas também personagem inserido naquele contexto. A tela passa a não possuir bordas.
A comunicação visa apresentar algumas experiências documentais em XR, analisando como a montagem audiovisual se transforma nessas obras, e como o uso de novas ferramentas tecnológicas lidam com a questão da apreensão da realidade e da presença, e da relação conteúdo e espectador.
Bibliografia
- BAIO, Cesar. Máquinas de Imagem: Arte, Tecnologia e Pós-Virtualidade. São Paulo: Annablume, 2015.
ELSAESSER, Thomas. Cinema como Arqueologia das Mídias. São Paulo: Edições Sesc, 2018.
HEETER, Carrie. Being there: The subjective experience of presence. Presence: Teleoperators & Virtual Environments 1(2): 262-271.1992
MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Cambridge: The MIT Press, 2001.
MATEER, John. Directing for Cinematic Virtual Reality: how the traditional film director’s craft applies to immersive environments and notions of presence, Journal of Media Practice, 18:1, 14-25, 2017.
NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. São Paulo: Papirus, 2007.
TEIXEIRA, Francisco Elinaldo. Cinemas “Não Narrativos” – Experimental e documentário – passagens. São Paulo: Alameda, 2012.