Ficha do Proponente
Proponente
- Cid Nogueira Fidelis (UFMS)
Minicurrículo
- Profissional Audiovisual. Doutorando em Estudos de linguagens pela UFMS, Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2015). Especialista em Artes Visuais – Cultura e Criação pelo Senac 2010. Possui graduação em Radio e TV pela Universidade Católica Dom Bosco (2009). Atuou como professor Substituto no Programa de Artes Visuais UFMS (2016/2018) – Trabalhou como professor convocado pela SED/MS – Secretaria de Educação no ensino técnico.
Coautor
- Márcia Gomes Marques (UFMS)
Ficha do Trabalho
Título
- Filmes Ava Marandu: Linguagem e Construção.
Formato
- Presencial
Resumo
- O objetivo deste estudo – Filmes Ava Marandu: Linguagem e Construção, como parte da pesquisa em andamento, Cinema Guarani Kaiowá: um estudo de recepção sobre a construção de sentido em filmes autorais indígenas, é fazer uma analise técnica de conteúdo e forma dos trabalhos audiovisuais Brô Mcs e Jaguapiré, o filme, produzidos pela etnia Guarani-Kaiowá e idealizado através do projeto AVA MARANDU. Utilizando de teóricos como Casetti e Di Chio (1991), Jacques Aumont (1993) e Christian Metz (1972).
Resumo expandido
- Assim como a sociedade contemporânea reorganizou-se em rede no espaço virtual, os povos indígenas, aos poucos, também se inserem nessa atual lógica de produção. Diferentes grupos do território brasileiro estão se apropriando das tecnicidades (MARTÍN BARBERO, 2004) e ferramentas multimídia, como computadores portáteis, equipamentos de filmagem, câmera de vídeo e conexões via internet, viabilizando a realização e o compartilhamento de trabalhos independentes (CARELLI, 1993; TURNER, 1993; PELEGRINO, 2003; KLEIN, 2013; DI FELICE, 2018). Nesse cenário colaborativo e com produções de baixo orçamento, os indígenas tornam-se protagonistas de seus próprios filmes, deixam de ser objetos, passam a ser criadores e realizadores de suas narrativas. Mas qual o propósito das culturas originárias na utilização dessas tecnicidades? Será que ao aderirem à tecnologia eles correm o risco de extinguir de vez sua cultura? De acordo com Vattimo (1996, p. 12), “[…] esta multiplicação vertiginosa da comunicação, este “tomar a palavra” por parte crescente de subculturas, é o efeito mais evidente dos mass media”. Essas vicissitudes sociais fazem surgir o que Caclini (2008, p. 23) definiu como hibridismos culturais, “[…] se reestruturam em meio a conjuntos interétnicos, transclassistas e transnacionais”.
Durante o período de janeiro a junho de 2010, foi realizado o projeto Ava Marandu – os Guarani convidam no estado de Mato Grosso do Sul. Essa iniciativa cultural envolveu os povos indígenas Guarani como protagonistas de debates e diversas outras expressões artísticas. O evento foi resultado de um esforço conjunto entre o Pontão de Cultura Guaicuru, com apoio do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID/Minc), e o suporte de outros patrocinadores. O projeto contou com a participação tanto do governo quanto da sociedade civil, além do envolvimento das Nações Unidas, que se uniram em prol dos direitos humanos e da preservação da cultura indígena Guarani. De acordo com o Governo Federal através do Ministério da Cultura em seu ambiente virtual, comunicou que ,”o objetivo desse projeto cultural é sensibilizar a população em geral sobre as violações dos direitos humanos que afetam, principalmente, os Guarani Kaiowá e Ñandeva do Mato Grosso do Sul, uma população de mais de 40.000 pessoas”.
Dentre esse universo que compõe a filmografia do projeto Ava Marandu, e, que serão utilizados na análise técnica no tópico Caracteres do Cinema, os filmes Brô MCs e Jaguapiré: o filme foram selecionados para a análise de sua construção mais aprofundada. A seleção desses filmes se deu devido à sua importância dentro do contexto do cinema indígena autoral, de sua capacidade de capturar e expressar as vozes e experiências das comunidades Guarani Kaiowá. Ambos oferecem uma perspectiva autêntica e distinta entre si, enquanto auto-representação sobre vida, luta e aspirações dessas comunidades, abordando questões profundas como: identidade, hibridação, resistência, conexão com a terra e desafios enfrentados por essas comunidades.
Brô MCs possui um realismo social (BETTON, 1987), em que se percebe um registro da vida cotidiana e pelo discurso aberto (texto não decorado) dos personagens em sua aldeia. Assim, esse trabalho se destaca pela criatividade e resiliência dos jovens Guarani-Kaiowá na expressão de suas identidades por meio da música hip-hop. Em Jaguapiré, o filme explora-se uma narrativa estética, que trabalha com mais de um elemento narratológico contando a história, ou seja, descreve a produção do filme que reconstitui a violência e a retomada de suas terras ancestrais contadas através de vozes femininas. No entanto, apesar de distintos, as duas obras confrontam a estética hegemônica em prol de uma estética indígena mais realista, pois enquanto um explora a diversidade e a expansão cultural, o outro concentra-se na importância e preservação da sua ancestralidade.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. A imagem. Tradução: Estela dos Santos Abreu e Cláudio C. Santoro – Campinas, SP: Papirus, 1993.
BETTON, Gérard. Estética do cinema. Tradução: Marina Appenzeller. São Paulo, SP – Martins Fontes, 1987.
CANCLINI, Nestor. Estratégias para entrar e sair da modernidade; tradução Heloísa Pezza Cintrão – 4 ed. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo. 2008.
CASETTI, Francesco. DI CHIO, Federico. Como analizar un film. Traducción de Carlos Losilla. Barcelona, PAIDOS, 1991.
FELICE, M. D. Netativismo: novos aspectos da opinião pública em contextos digitais. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia [en linea]. 2012.
MARTIN-BARBERO, Jesus. Oficio de Cartógrafio, Travessias latino-americanas da comunicação na cultura. Tradução: Fidelina Gonçalves. ed. Loyola – São Paulo, SP. 2004.
METZ, Christian. A significação do cinema/ tradução e posfácio de Jean-Claude Bernadet / São Paulo, Perspectiva -1972.
VATTIMO, G. O fim da modernidade: hermenêutica e niilismo na cultura.