Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Cid Nogueira Fidelis (UFMS)

Minicurrículo

    Profissional Audiovisual. Doutorando em Estudos de linguagens pela UFMS, Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2015). Especialista em Artes Visuais – Cultura e Criação pelo Senac 2010. Possui graduação em Radio e TV pela Universidade Católica Dom Bosco (2009). Atuou como professor Substituto no Programa de Artes Visuais UFMS (2016/2018) – Trabalhou como professor convocado pela SED/MS – Secretaria de Educação no ensino técnico.

Coautor

    Márcia Gomes Marques (UFMS)

Ficha do Trabalho

Título

    Filmes Ava Marandu: Linguagem e Construção.

Formato

    Presencial

Resumo

    O objetivo deste estudo – Filmes Ava Marandu: Linguagem e Construção, como parte da pesquisa em andamento, Cinema Guarani Kaiowá: um estudo de recepção sobre a construção de sentido em filmes autorais indígenas, é fazer uma analise técnica de conteúdo e forma dos trabalhos audiovisuais Brô Mcs e Jaguapiré, o filme, produzidos pela etnia Guarani-Kaiowá e idealizado através do projeto AVA MARANDU. Utilizando de teóricos como Casetti e Di Chio (1991), Jacques Aumont (1993) e Christian Metz (1972).

Resumo expandido

    Assim como a sociedade contemporânea reorganizou-se em rede no espaço virtual, os povos indígenas, aos poucos, também se inserem nessa atual lógica de produção. Diferentes grupos do território brasileiro estão se apropriando das tecnicidades (MARTÍN BARBERO, 2004) e ferramentas multimídia, como computadores portáteis, equipamentos de filmagem, câmera de vídeo e conexões via internet, viabilizando a realização e o compartilhamento de trabalhos independentes (CARELLI, 1993; TURNER, 1993; PELEGRINO, 2003; KLEIN, 2013; DI FELICE, 2018). Nesse cenário colaborativo e com produções de baixo orçamento, os indígenas tornam-se protagonistas de seus próprios filmes, deixam de ser objetos, passam a ser criadores e realizadores de suas narrativas. Mas qual o propósito das culturas originárias na utilização dessas tecnicidades? Será que ao aderirem à tecnologia eles correm o risco de extinguir de vez sua cultura? De acordo com Vattimo (1996, p. 12), “[…] esta multiplicação vertiginosa da comunicação, este “tomar a palavra” por parte crescente de subculturas, é o efeito mais evidente dos mass media”. Essas vicissitudes sociais fazem surgir o que Caclini (2008, p. 23) definiu como hibridismos culturais, “[…] se reestruturam em meio a conjuntos interétnicos, transclassistas e transnacionais”.
    Durante o período de janeiro a junho de 2010, foi realizado o projeto Ava Marandu – os Guarani convidam no estado de Mato Grosso do Sul. Essa iniciativa cultural envolveu os povos indígenas Guarani como protagonistas de debates e diversas outras expressões artísticas. O evento foi resultado de um esforço conjunto entre o Pontão de Cultura Guaicuru, com apoio do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID/Minc), e o suporte de outros patrocinadores. O projeto contou com a participação tanto do governo quanto da sociedade civil, além do envolvimento das Nações Unidas, que se uniram em prol dos direitos humanos e da preservação da cultura indígena Guarani. De acordo com o Governo Federal através do Ministério da Cultura em seu ambiente virtual, comunicou que ,”o objetivo desse projeto cultural é sensibilizar a população em geral sobre as violações dos direitos humanos que afetam, principalmente, os Guarani Kaiowá e Ñandeva do Mato Grosso do Sul, uma população de mais de 40.000 pessoas”.
    Dentre esse universo que compõe a filmografia do projeto Ava Marandu, e, que serão utilizados na análise técnica no tópico Caracteres do Cinema, os filmes Brô MCs e Jaguapiré: o filme foram selecionados para a análise de sua construção mais aprofundada. A seleção desses filmes se deu devido à sua importância dentro do contexto do cinema indígena autoral, de sua capacidade de capturar e expressar as vozes e experiências das comunidades Guarani Kaiowá. Ambos oferecem uma perspectiva autêntica e distinta entre si, enquanto auto-representação sobre vida, luta e aspirações dessas comunidades, abordando questões profundas como: identidade, hibridação, resistência, conexão com a terra e desafios enfrentados por essas comunidades.
    Brô MCs possui um realismo social (BETTON, 1987), em que se percebe um registro da vida cotidiana e pelo discurso aberto (texto não decorado) dos personagens em sua aldeia. Assim, esse trabalho se destaca pela criatividade e resiliência dos jovens Guarani-Kaiowá na expressão de suas identidades por meio da música hip-hop. Em Jaguapiré, o filme explora-se uma narrativa estética, que trabalha com mais de um elemento narratológico contando a história, ou seja, descreve a produção do filme que reconstitui a violência e a retomada de suas terras ancestrais contadas através de vozes femininas. No entanto, apesar de distintos, as duas obras confrontam a estética hegemônica em prol de uma estética indígena mais realista, pois enquanto um explora a diversidade e a expansão cultural, o outro concentra-se na importância e preservação da sua ancestralidade.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. A imagem. Tradução: Estela dos Santos Abreu e Cláudio C. Santoro – Campinas, SP: Papirus, 1993.
    BETTON, Gérard. Estética do cinema. Tradução: Marina Appenzeller. São Paulo, SP – Martins Fontes, 1987.
    CANCLINI, Nestor. Estratégias para entrar e sair da modernidade; tradução Heloísa Pezza Cintrão – 4 ed. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo. 2008.
    CASETTI, Francesco. DI CHIO, Federico. Como analizar un film. Traducción de Carlos Losilla. Barcelona, PAIDOS, 1991.
    FELICE, M. D. Netativismo: novos aspectos da opinião pública em contextos digitais. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia [en linea]. 2012.
    MARTIN-BARBERO, Jesus. Oficio de Cartógrafio, Travessias latino-americanas da comunicação na cultura. Tradução: Fidelina Gonçalves. ed. Loyola – São Paulo, SP. 2004.
    METZ, Christian. A significação do cinema/ tradução e posfácio de Jean-Claude Bernadet / São Paulo, Perspectiva -1972.
    VATTIMO, G. O fim da modernidade: hermenêutica e niilismo na cultura.