Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Ivana Bentes (UFRJ)

Minicurrículo

    Professora Titular da UFRJ, doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professora e pesquisadora do Programa da Pós Graduação em Comunicação da UFRJ. Autora de Ecos do Cinema: de Lumière ao digital, Cartas ao Mundo . Glauber Rocha (Companhia das Letras), Avatar: o Futuro do Cinema e a Ecologia das Imagens Digitais, Mídia-multidão: Estéticas da Comunicação e Biopolíticas. É coordenadora do Pontão de Cultura Digital da ECO/UFRJ e do Laboratório de Inovação Cidadã da UFRJ

Ficha do Trabalho

Título

    Política do Simbólico.Experimental e decolonial na obra de Arthur Omar

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Como articular a tradição experimental no cinema e audiovisual com questões políticas contemporâneas, atravessando e desconstruindo os discursos coloniais a partir de formas que expressem essa desconstrução, para além dos clichês discursivos? As “formas que pensam” e a política do simbólico a partir das teorias e obras cinematográficas e fotográficas do cineasta e artista brasileiro Arthur Omar, que atravessam os anos 70 e chegam a trabalhos recentes e seus diálogos interculturais.

Resumo expandido

    Como articular a tradição experimental no cinema e audiovisual com questões políticas contemporâneas, atravessando e desconstruindo os discursos coloniais, a partir de formas que expressem essa desconstrução, para além dos clichês discursivos? As “formas que pensam” e a política do simbólico a partir das teorias e obras cinematográficas e fotográficas do cineasta e artista brasileiro Arthur Omar, que atravessam os anos 70 e chegam a trabalhos recentes (2022) com conceitos e figuras de linguagens que operam em seus textos, ensaios, filmes e séries fotográficas.
    Passando do cinema a fotografia e vice-versa, perseguindo as condições de possibilidade do ato fotográfico e cinematográfico, e da cognição, Arthur Omar constrói ao longo de mais de 40 anos objetos-experimentos: os anti-documentários e desmontagens que produzem narrativas decoloniais e colocam a cultura de matriz-africana e os corpos negros na centralidade de uma reversão material e simbólica.
    As tradições míticas indígenas, o carnaval das formas em Triste Trópicos; os rostos extáticos da Antropologia da Face Gloriosa; o pensamento do homem do rio conectado paisagens da Amazônia e os impasses do antropoceno em O Esplendor dos Contrários e por fim, a dissolução dos objetos no livro-ensaio Antes de Ver (2015).
    Se os processos de decolonização nos parecem intransponíveis, como essas obras de Arthur Omar trazem operações de linguagem e estéticas que já operam essa transmutação por meio de uma política do simbólico. Como imagens e os corpos em a Coroação de Uma Rainha e Sonhos e Histórias de Fantasmas, de Arthur Omar dialogam com os as noções de afrografias da memória e tempo espiralar da intelectual negra Leda Maria Martins?
    Quais as alianças possíveis entre o experimental e o decolonial para além de polarizações e segmentações e afirmando as lutas pela diversidade, contra desigualdades e assimetrias? Como as estéticas, imagens e corpos respondem as questões políticas do presente urgente?
    Fazendo uma releitura histórica podemos retomar a Antropofagia, de Oswald de Andrade que lança um olhar sobre o passado recente da América e encontra uma cultura original capaz de inspirar outras formas de criação artística e colocar em xeque os valores da tradição europeia.
    Nesse sentido temos um novo referencial para uma modernidade brasileira alternativa, como pensada por Homi Bhabha, que reintroduz e positiva os termos hibridismo, ambivalência, negociação na relação colonial
    Índios e negros tem seu legado e sua cultura ressignificados a partir de uma transvaloração radical. Enquanto as vanguardas europeias buscavam o novo no contexto industrial e urbano, Oswald olha para nosso passado mais remoto (nossa “Idade do Ouro”) e encontra na dança e música africanas, nas línguas indígenas, na cultura popular, em símbolos e práticas sociais ancestrais, elementos formais para a criação de uma vanguarda brasileira e americana.
    Esse trópico pelo avesso também é a proposta de “Triste Trópico” (1974), de Arthur Omar, que vai relacionar de forma singular personagens e ideários relacionados às vanguardas europeias, à antropofagia, ao messianismo indígena e ao carnaval carioca. O filme também é uma crítica estrutural da noção de trópico e tropicalidade, como pensamento dos colonizadores diante da alteridade, a América tropical, e como imagem simultaneamente produtiva e problemática, que tomamos na construção de uma América e de um Brasil imaginados.
    “Triste Trópico” se volta tanto para a desconstrução do olhar estrangeiro, do colonizador, da literatura dos navegantes, dos relatos de Levi-Strauss, quanto para os clichês de brasilidade, a identidade tropical para consumo interno e exportação.
    Nesta proposta buscamos avançar com as conexões dessas obras e pensamento como parte de um discurso intercultural e programa aberto aos novos sujeitos do discurso, alianças entre intelectuais e artistas negros e brancos e controvérsias decoloniais.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As Teorias dos Cineastas, SP: Papirus Editora. 2002
    BENTES, Ivana. Trópico pelo avesso. Antropofagia, Carnavalização e a relação do cinema brasileiro com o Modernismo. Cienc. Cult. [online]. 2022, vol.74, n.2, pp.1-9. ISSN 0009-6725.
    MARTINS, Leda Maria. Afrografias da Memória. O Reinado do Rosário no Jatobá. Belo Horizonte. Perspectiva.2021
    OMAR. Arthur. Antes de Ver: Fotografia, Antropologia e as Portas da Percepção. São Paulo. CosacNaify.2014
    RAMOS, Guiomar Um Cinema Brasileiro Antropofágico? 1970 – 1974. São Paulo. Annablume. 2008
    VIVEIROS DE CASTRO, E.Metafísicas Canibais CosacNaify.2015
    XAVIER, Ismail. O Avesso do Brasil in Folha de SP. 19/01/1997
    KAMINSKI, Rosane. Os filmes de Arthur Omar como “formas que pensam”. Intexto, Porto Alegre, UFRGS.n.48.2020
    QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (Org.)A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americana, Clacso.2005.