Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Crispim Santos Álvaro (ESAP)
Minicurrículo
- Pedro Crispim formou-se em teatro na ACE e licenciou-se em Cinema e Audiovisual na ESAP. Concluiu o mestrado em Comunicação Audiovisual na ESMAE e uma pós-graduação em Argumento pela ESMAD. Doutor em Ciências da Comunicação, na especialidade de Cinema e Televisão pela FCSH-UNL. Escreveu e realizou a curta-metragem “Palhaços” (2015), vencedora, entre outros, do Prémio Sophia Estudante e da Menção Honrosa do MotelX. É professor na licenciatura de Cinema e Audiovisual da ESAP, investigador no CEAA
Ficha do Trabalho
Título
- “Shoot it so they believe it!”: Guerra hoje a partir de Zeros and Ones
Formato
- Presencial
Resumo
- Este estudo parte de Zeros and Ones (2021) de Abel Ferrara para debater a questão da imagem na representação da guerra contemporânea. Zeros and Ones apresenta uma proposta que rejeita noções de género ou convenções narrativas, e recorre a imagens paranoicas de drones, câmaras de vigilância e visão noturna. Este formalismo converge com a mudança de paradigma político-tecnológico da guerra, onde a imagem é uma arma. Procura-se compreender como o filme opera formalmente esta “logística da perceção”
Resumo expandido
- Este estudo parte do filme Zeros and Ones (2021) de Abel Ferrara para debater alguns rumos das imagens em movimento (e particularmente do cinema), no que respeita à utilização da imagem na representação constantemente em mudança da guerra contemporânea.
Se considerarmos que a máxima de Clausewitz – de que “a guerra nada mais é do que a continuação da política com outros meios” – ainda se mantém, as ações de outras problemáticas atuais de natureza tecnológica trazem mudanças cruciais nos métodos e na orgânica da guerra. Desde a aceleração e imediatismo dos atos à virtualização do meio, da indistinção dos intervenientes à ambiguidade dos princípios, este novo regime do bélico no século XXI apresenta também uma grande inquietação no que às imagens diz respeito. Zeros and Ones, o equívoco thriller de guerra de Abel Ferrara é um importante ponto de discussão sobre novas propostas formais que procuram dar resposta à realidade atual da guerra. Filmado sob fortes restrições sanitárias durante a pandemia de COVID-19 em Roma, o esboço narrativo do filme refere-se a um soldado incumbido de neutralizar um ataque terrorista, tentando no processo encontrar o seu irmão, um revolucionário que poderá ter informações sensíveis sobre o ataque.
Ferrara quebra com noções de cinema de género e sobretudo com convenções narrativas (e, por consequência, formais), jogando com as espectativas da audiência, apresentando um filme de motivação ambígua e caraterizações psicológicas dúbias, criando um mundo de ruas desertas e pessoas anónimas de máscara, através de uma gama de imagens paranoicas de drones, câmaras de vigilância e visão noturna.
No seu desconcertante aspeto formal, Zeros and Ones converge com várias vozes que identificaram a mudança de paradigma político-tecnológico da guerra, desde logo com o “modelo da guerra” de Paul Virilio, onde as possibilidades da imagem em movimento e, mais tarde, das tecnologias digitais, inscrevem-se nas práticas da guerra, concedendo à imagem o estatuto de arma. A imagem transforma-se em reconhecimento, moeda de troca, e em informação potencialmente letal.
Assim, procuramos compreender como o filme de Ferrara explora esta “logística da perceção” e que ferramentas formais utiliza para propor uma matriz estética com a máxima da imagem como arma, quebrando com todas as convenções dominantes e que, por conseguinte, procurar alinhar-se no espírito da guerra contemporânea, na sua vertente mais utilitária, mas também mais abstracionista, fugidia e disforme que carateriza a evolução das práticas de guerra no mundo tecnológico do século XXI.
Bibliografia
- • Brenez, N. (2007) Abel Ferrara, Chicago: University of Illinois Press.
• Deleuze, G. (2016) Cinema 1 – A Imagem-movimento, Trad. S. Dias, Lisboa: Sistema Solar.
• Deleuze, G. (2015) Cinema 2 – A imagem-tempo, Trad. S. Dias, Lisboa: Sistema Solar.
• Ferreira, C. M. (2004) As poéticas do cinema: A poética da terra e os rumos do humano na ordem do fílmico, Porto: Edições Afrontamento.
• Han, B.-C. (2019) Topologia da Violência, Trad. M. S. Pereira, Lisboa: Relógio D’Água.
• Virilio, P. (2000) From Modernism to Postmodernism, Armitage, J. (ed.), Londres: SAGE Publications.
• Virilio, P. (2018) Guerra e Cinema: Logística da Percepção, Trad. L. Lima, Lisboa: Orfeu Negro.