Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Crispim Santos Álvaro (ESAP)

Minicurrículo

    Pedro Crispim formou-se em teatro na ACE e licenciou-se em Cinema e Audiovisual na ESAP. Concluiu o mestrado em Comunicação Audiovisual na ESMAE e uma pós-graduação em Argumento pela ESMAD. Doutor em Ciências da Comunicação, na especialidade de Cinema e Televisão pela FCSH-UNL. Escreveu e realizou a curta-metragem “Palhaços” (2015), vencedora, entre outros, do Prémio Sophia Estudante e da Menção Honrosa do MotelX. É professor na licenciatura de Cinema e Audiovisual da ESAP, investigador no CEAA

Ficha do Trabalho

Título

    “Shoot it so they believe it!”: Guerra hoje a partir de Zeros and Ones

Formato

    Presencial

Resumo

    Este estudo parte de Zeros and Ones (2021) de Abel Ferrara para debater a questão da imagem na representação da guerra contemporânea. Zeros and Ones apresenta uma proposta que rejeita noções de género ou convenções narrativas, e recorre a imagens paranoicas de drones, câmaras de vigilância e visão noturna. Este formalismo converge com a mudança de paradigma político-tecnológico da guerra, onde a imagem é uma arma. Procura-se compreender como o filme opera formalmente esta “logística da perceção”

Resumo expandido

    Este estudo parte do filme Zeros and Ones (2021) de Abel Ferrara para debater alguns rumos das imagens em movimento (e particularmente do cinema), no que respeita à utilização da imagem na representação constantemente em mudança da guerra contemporânea.
    Se considerarmos que a máxima de Clausewitz – de que “a guerra nada mais é do que a continuação da política com outros meios” – ainda se mantém, as ações de outras problemáticas atuais de natureza tecnológica trazem mudanças cruciais nos métodos e na orgânica da guerra. Desde a aceleração e imediatismo dos atos à virtualização do meio, da indistinção dos intervenientes à ambiguidade dos princípios, este novo regime do bélico no século XXI apresenta também uma grande inquietação no que às imagens diz respeito. Zeros and Ones, o equívoco thriller de guerra de Abel Ferrara é um importante ponto de discussão sobre novas propostas formais que procuram dar resposta à realidade atual da guerra. Filmado sob fortes restrições sanitárias durante a pandemia de COVID-19 em Roma, o esboço narrativo do filme refere-se a um soldado incumbido de neutralizar um ataque terrorista, tentando no processo encontrar o seu irmão, um revolucionário que poderá ter informações sensíveis sobre o ataque.
    Ferrara quebra com noções de cinema de género e sobretudo com convenções narrativas (e, por consequência, formais), jogando com as espectativas da audiência, apresentando um filme de motivação ambígua e caraterizações psicológicas dúbias, criando um mundo de ruas desertas e pessoas anónimas de máscara, através de uma gama de imagens paranoicas de drones, câmaras de vigilância e visão noturna.
    No seu desconcertante aspeto formal, Zeros and Ones converge com várias vozes que identificaram a mudança de paradigma político-tecnológico da guerra, desde logo com o “modelo da guerra” de Paul Virilio, onde as possibilidades da imagem em movimento e, mais tarde, das tecnologias digitais, inscrevem-se nas práticas da guerra, concedendo à imagem o estatuto de arma. A imagem transforma-se em reconhecimento, moeda de troca, e em informação potencialmente letal.
    Assim, procuramos compreender como o filme de Ferrara explora esta “logística da perceção” e que ferramentas formais utiliza para propor uma matriz estética com a máxima da imagem como arma, quebrando com todas as convenções dominantes e que, por conseguinte, procurar alinhar-se no espírito da guerra contemporânea, na sua vertente mais utilitária, mas também mais abstracionista, fugidia e disforme que carateriza a evolução das práticas de guerra no mundo tecnológico do século XXI.

Bibliografia

    • Brenez, N. (2007) Abel Ferrara, Chicago: University of Illinois Press.
    • Deleuze, G. (2016) Cinema 1 – A Imagem-movimento, Trad. S. Dias, Lisboa: Sistema Solar.
    • Deleuze, G. (2015) Cinema 2 – A imagem-tempo, Trad. S. Dias, Lisboa: Sistema Solar.
    • Ferreira, C. M. (2004) As poéticas do cinema: A poética da terra e os rumos do humano na ordem do fílmico, Porto: Edições Afrontamento.
    • Han, B.-C. (2019) Topologia da Violência, Trad. M. S. Pereira, Lisboa: Relógio D’Água.
    • Virilio, P. (2000) From Modernism to Postmodernism, Armitage, J. (ed.), Londres: SAGE Publications.
    • Virilio, P. (2018) Guerra e Cinema: Logística da Percepção, Trad. L. Lima, Lisboa: Orfeu Negro.