Ficha do Proponente
Proponente
- Raisha Conceição Silva (UFMT)
Minicurrículo
- Raisha Conceição Silva é formada em Direito pelo Centro Universitário de Várzea Grande, em Mato Grosso, pós-graduada em Direito Digital e E-GOV e Direito Administrativo pela Universidade Federal de Mato Grosso. Graduada em Licenciatura em História e Mestranda em História pela Universidade Federal de Mato Grosso.
Ficha do Trabalho
Título
- Um estudo sobre Sebastião Prata, ou bem dizendo, Grande Otelo (1971)
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente trabalho visa meditar sobre a pessoa pública Grande Otelo e o indivíduo privado Sebastião Prata, duas instâncias de uma mesma entidade que atravessa a história do cinema brasileiro. A discussão será orientada pelo curta-metragem :Sebastião Prata, ou bem dizendo, Grande Otelo (1971), de Murilo Salles. Neste trabalho são justapostos aspectos da intimidade do intérprete e fragmentos de seu papel social, enquanto reconhecido ator cinematográfico.
Resumo expandido
- No início do curta Sebastião Prata, ou bem dizendo, Grande Otelo (1971), de Murilo Salles, temos Grande Otelo (ou, intimamente, Sebastião, conforme o ambiente doméstico revelado no filme parece nos sugerir) comentando sobre ter ouvido uma história de um amigo em que um professor leva para a sala de aula um quadro todo branco, bem largo, e com uma bola preta ao centro. Logo em seguida, pergunta para os alunos o que eles enxergam naquele quadro e a resposta unânime é a de que enxergam uma bola preta. Otelo diz que da mesma forma é com sua vida, um grande quadro em branco, no qual ninguém repara, composto também por algumas bolas pretas que se destacam. Dentro das interpretações que a história possibilita, a que salta os olhos é a literal, levando em conta sua negritude dentro de ambientes como o cinema, dominado por pessoas brancas e nos quais se via como exceção; e a outra possibilidade seria pensar em como as dificuldades pelas quais passou em sua carreira ditaram a qualidade de seu trabalho.
Suas faltas, atrasos e problemas com bebida foram fatores constantes. Pavimentaram acusações que lhe imputaram a pecha de mal profissional, sobre as quais rebate, observando que não duraram para sempre. O fim delas teria se dado com a veiculação de Macunaíma (1969), e a crescente fama que o seguiu durante os anos 1970. Otelo alega também a seu favor sua própria personalidade. Este teria sido um dos motivos pelos quais o ator fora considerado totalmente destruído depois do período das chanchadas – momento em que o modo boêmio de levar a vida não atrapalhava as gravações, mas se mesclava com o lado profissional e parecia não incomodar os colegas de trabalho. O próprio Otelo parece ter levado alguns anos para reconhecer essas questões como, de fato, um problema.
Mesmo assim, conforme relata no curta, afirmava ter parado de beber e de chegar atrasado às gravações por uma questão de consciência, dizendo ter tomado dimensão do que acontecia com o cinema brasileiro, consigo mesmo e de seu próprio papel dentro dele. Aqui, Otelo e o cinema dividem o espaço pessoal da reflexão do ator sobre a própria vida e o que estava sendo feito dela.
O curta, uma abordagem biográfica, engloba o período em que ele se percebeu notado pelas pessoas, pelo público, quando diz que naquele momento enxergavam o largo contorno branco do quadro de sua vida, fora de Grande Otelo.
Partindo do curta-metragem de Salles como estudo de caso, essa comunicação pretende fazer uma reflexão sobre a duplicidade entre Grande Otelo e Sebastião Prata. Para tal, será utilizado a divisão entre indivíduo e pessoa proposta por DaMatta (1997) e (2004) e tomando como base reflexões a partir da construção histórica em torno da biografia de Otelo a partir de Moura (1996), Cabral (2007) e Hirano (2019). O curta escolhido é a primeira biografia filmada sobre o ator, apontando a dualidade (ou união) entre Sebastião e Grande Otelo desde o título
Bibliografia
- CABRAL, Sérgio. Grande Otelo, uma biografia. São Paulo. Ed. 34, 2007, p. 134.
DAMATTA, R. Carnavais, Malandros e Heróis – Para uma Sociologia do Dilema Brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
DAMATTA, R. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
HIRANO, Luis Felipe Kojima. Grande Otelo: um intérprete do cinema e do racismo no Brasil (1917-1993). Belo Horizonte: UFMG, 2019.
MOURA, Roberto. Grande Othelo: um artista genial. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996.
RODRIGUES, João Carlos. O negro brasileiro e o cinema. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
SANTOS, Tadeu Pereira dos. Entre Grande Otelo e Sebastião: tramas, representações e memórias. 2016. 597 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2016. DOI https://doi.org/10.14393/ufu.te.2016.26