Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Raisha Conceição Silva (UFMT)

Minicurrículo

    Raisha Conceição Silva é formada em Direito pelo Centro Universitário de Várzea Grande, em Mato Grosso, pós-graduada em Direito Digital e E-GOV e Direito Administrativo pela Universidade Federal de Mato Grosso. Graduada em Licenciatura em História e Mestranda em História pela Universidade Federal de Mato Grosso.

Ficha do Trabalho

Título

    Um estudo sobre Sebastião Prata, ou bem dizendo, Grande Otelo (1971)

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho visa meditar sobre a pessoa pública Grande Otelo e o indivíduo privado Sebastião Prata, duas instâncias de uma mesma entidade que atravessa a história do cinema brasileiro. A discussão será orientada pelo curta-metragem :Sebastião Prata, ou bem dizendo, Grande Otelo (1971), de Murilo Salles. Neste trabalho são justapostos aspectos da intimidade do intérprete e fragmentos de seu papel social, enquanto reconhecido ator cinematográfico.

Resumo expandido

    No início do curta Sebastião Prata, ou bem dizendo, Grande Otelo (1971), de Murilo Salles, temos Grande Otelo (ou, intimamente, Sebastião, conforme o ambiente doméstico revelado no filme parece nos sugerir) comentando sobre ter ouvido uma história de um amigo em que um professor leva para a sala de aula um quadro todo branco, bem largo, e com uma bola preta ao centro. Logo em seguida, pergunta para os alunos o que eles enxergam naquele quadro e a resposta unânime é a de que enxergam uma bola preta. Otelo diz que da mesma forma é com sua vida, um grande quadro em branco, no qual ninguém repara, composto também por algumas bolas pretas que se destacam. Dentro das interpretações que a história possibilita, a que salta os olhos é a literal, levando em conta sua negritude dentro de ambientes como o cinema, dominado por pessoas brancas e nos quais se via como exceção; e a outra possibilidade seria pensar em como as dificuldades pelas quais passou em sua carreira ditaram a qualidade de seu trabalho.
    Suas faltas, atrasos e problemas com bebida foram fatores constantes. Pavimentaram acusações que lhe imputaram a pecha de mal profissional, sobre as quais rebate, observando que não duraram para sempre. O fim delas teria se dado com a veiculação de Macunaíma (1969), e a crescente fama que o seguiu durante os anos 1970. Otelo alega também a seu favor sua própria personalidade. Este teria sido um dos motivos pelos quais o ator fora considerado totalmente destruído depois do período das chanchadas – momento em que o modo boêmio de levar a vida não atrapalhava as gravações, mas se mesclava com o lado profissional e parecia não incomodar os colegas de trabalho. O próprio Otelo parece ter levado alguns anos para reconhecer essas questões como, de fato, um problema.
    Mesmo assim, conforme relata no curta, afirmava ter parado de beber e de chegar atrasado às gravações por uma questão de consciência, dizendo ter tomado dimensão do que acontecia com o cinema brasileiro, consigo mesmo e de seu próprio papel dentro dele. Aqui, Otelo e o cinema dividem o espaço pessoal da reflexão do ator sobre a própria vida e o que estava sendo feito dela.
    O curta, uma abordagem biográfica, engloba o período em que ele se percebeu notado pelas pessoas, pelo público, quando diz que naquele momento enxergavam o largo contorno branco do quadro de sua vida, fora de Grande Otelo.
    Partindo do curta-metragem de Salles como estudo de caso, essa comunicação pretende fazer uma reflexão sobre a duplicidade entre Grande Otelo e Sebastião Prata. Para tal, será utilizado a divisão entre indivíduo e pessoa proposta por DaMatta (1997) e (2004) e tomando como base reflexões a partir da construção histórica em torno da biografia de Otelo a partir de Moura (1996), Cabral (2007) e Hirano (2019). O curta escolhido é a primeira biografia filmada sobre o ator, apontando a dualidade (ou união) entre Sebastião e Grande Otelo desde o título

Bibliografia

    CABRAL, Sérgio. Grande Otelo, uma biografia. São Paulo. Ed. 34, 2007, p. 134.
    DAMATTA, R. Carnavais, Malandros e Heróis – Para uma Sociologia do Dilema Brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
    DAMATTA, R. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
    HIRANO, Luis Felipe Kojima. Grande Otelo: um intérprete do cinema e do racismo no Brasil (1917-1993). Belo Horizonte: UFMG, 2019.
    MOURA, Roberto. Grande Othelo: um artista genial. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996.
    RODRIGUES, João Carlos. O negro brasileiro e o cinema. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
    SANTOS, Tadeu Pereira dos. Entre Grande Otelo e Sebastião: tramas, representações e memórias. 2016. 597 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2016. DOI https://doi.org/10.14393/ufu.te.2016.26