Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Tomyo Costa Ito (ECA-USP)

Minicurrículo

    Pós-doutorando na ECA-USP (2024-), com bolsa FAPESP, conduzindo a análise fílmica e histórica das imagens de propaganda do Khmer Vermelho. Em 2023, atuou como Pesquisador Sr. na Cinemateca Brasileira. Doutor em Comunicação pela UFMG (2021), com a tese “A elaboração da memória em Rithy Panh”. Em 2019, em estágio no Camboja, conduziu pesquisa nos arquivos do Centro Bophana e realizou os documentários: Sob a sombra da palmeira (2020) e Poemas do Camboja (2020), em parceria com escritorxs locais

Ficha do Trabalho

Título

    A catalogação na Cinemateca Brasileira e a pesquisa em arquivos

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação aborda a catalogação a partir da perspectiva da pesquisa em arquivos, considerando minha experiência de trabalho na Cinemateca Brasileira, durante o ano de 2023. Darei um relato dos principais aspectos que envolveram as atividades de visionamento, pesquisa e catalogação dentro do projeto Nitratos da Cinemateca Brasileira. Por fim, abordarei como essa experiência está sendo aplicada na pesquisa de mais de 100 materiais que compõem os arquivos da propaganda do Khmer Vermelho.

Resumo expandido

    Abordarei minha experiência de trabalho de catalogação na Cinemateca Brasileira, no ano de 2023, dentro do projeto Nitratos, dando um relato das atividades desenvolvidas, mencionando seus aspectos principais e os aprendizados que hoje são colocados em prática no desenvolvimento de uma pesquisa de pós-doutorado sobre os arquivos da propaganda do Khmer Vermelho.
    Durante esse trabalho, realizei o visionamento, a pesquisa e catalogação na base Filmografia Brasileira de mais de 100 materiais que fazem parte do acervo de nitratos da instituição. A coleção corresponde a filmes realizados entre os anos 1910 e 1950 e boa parte dela permaneceu por anos sem a devida catalogação, em função das descontinuidades sofridas pela CB ao longo de sua história. Parte desses materiais não catalogados não possuía qualquer tipo de identificação ou estava nomeado com um título genérico, sem informações adicionais.
    Em alguns casos, a catalogação foi realizada do zero, tendo por objetivo principal a elaboração de uma sinopse e de palavras-chave (ou termos descritores) que dão conta do conteúdo do material, além de buscar a identificação da autoria, do local e do ano de produção dessas obras. O visionamento é ponto de partida, já que consideramos o filme como fonte primária e principal para o trabalho de catalogação. A partir dele são redigidas uma descrição de conteúdo e uma transcrição de letreiros (quando estes estão disponíveis). Considerando que se trata de material não identificado, buscamos pistas nas imagens, como pessoas, objetos, lugares, pontos geográficos que possam nos auxiliar na identificação do contexto, do local, do ano em que tal obra foi realizada. O contato direto com a película, também nos fornece indícios, já que cada laboratório possuía uma maneira de identificar um dado lote de material fílmico, assim é possível estimar a data de realização do mesmo.
    Na maior parte das vezes, era essencial que essa investigação iniciada no visionamento, fosse acompanhada de uma pesquisa que lança mão de uma série de documentos extrafílmicos. Entre eles, estão a documentação do acervo da biblioteca e aqueles produzidos no interior da própria Cinemateca que dizem respeito à história do material no interior da instituição. Também utilizamos com muita frequência a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Como recurso de investigação na identificação de pessoas, da arquitetura e de espaços geográficos, por exemplo, foi utilizado o Google Lens. As imagens ganham assim contexto a partir do cotejamento com essas outras fontes. As informações devidamente checadas são sistematizadas em fichas catalográficas dentro da base Filmografia Brasileira, com a citação das fontes.
    Também adotei métodos de organização para o trabalho de catalogação como a criação de um “fluxo de pesquisa”: trata-se de um documento em que são registrados os principais passos da investigação, garantindo que determinadas práticas sejam replicadas nas pesquisas posteriores, dando destaque para aquilo que funcionou e o que não. Outro método foi o uso de software em nuvem para o armazenamento de fotogramas coletados a partir do visionamento dos materiais. Dessa forma, as imagens das obras estavam organizadas por material, seguindo a ordem cronológica, e podiam ser acessadas facilmente.
    Destacamos que a catalogação é uma sistematização de informações essenciais de uma obra audiovisual que não apenas facilita o acesso aos dados de uma ou uma série de obras, mas gera demandas de pesquisas, apontando para caminhos e questões específicas, trazidos à luz por esse trabalho. O relato dessa experiência tem o intuito de apontar possíveis caminhos para casos particulares de investigação que podem ser adaptados segundo as exigências específicas do material fílmico analisado, tomando como exemplo, minha pesquisa sobre os arquivos da propaganda do Khmer Vermelho.

Bibliografia

    COSTA ITO, Tomyo. Os arquivos de propaganda do Khmer Vermelho: uma leitura de A imagem que falta, de Rithy Panh. Anais da Compós, PUC-SP, 2021.
    FAIRBAIRN, Natasha; PIMPINELLI, Maria A; ROSS, Thelma. The FIAF Moving Image Cataloguing Manual. Brussels: FIAF’s Cataloguing and Documentation Commission, 2016.
    MONDZAIN, Marie-José. Des images sans propriétaire : pour une déontologie des usages. Entretien avec Marie-José ‘, philosophe, spécialiste des images. In: LINDEPERG, Sylvie; SZCZEPANSKA, Ania. (Org.). À qui appartiennent les images ? Le paradoxe des archives, entre marchandisation, libre circulation et respect des oeuvres. Clamecy: Éditions Maison des sciences de l’homme, p. 111-124, 2017.