Ficha do Proponente
Proponente
- Lívia Maria Gonçalves Cabrera (PPGCine/UFF)
Minicurrículo
- Bacharel em Ciências Sociais pela UFSCar (2010) e em Cinema e Audiovisual pela UFF (2017), mestre pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF (2020) e doutoranda no mesmo programa. Realiza pesquisa sobre Carmen Santos e a Brasil Vita Filmes. É servidora técnica administrativa federal desde 2010, com passagem pela UFSCar e ANCINE. Atualmente é chefe do Cine Arte UFF, sala de cinema com perfil universitário e comercial localizada em Niterói-RJ.
Ficha do Trabalho
Título
- Carmen Santos e o cinema brasileiro em Cinearte e A Cena Muda.
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- A proposta partirá das entrevistas e matérias com Carmen Santos nas revistas brasileiras Cinearte e A Cena Muda em que ela esboçou suas ideias, propostas e análises para o que considerava um projeto brasileiro de cinema. Procuraremos avançar no diálogo apontando as possíveis relações com as ideias difundidas por pensadores e trabalhadores do cinema no Brasil que são trabalhadas por Arthur Autran (2013) em torno da constituição de pensamento industrial cinematográfico brasileiro.
Resumo expandido
- A presente proposta partirá das entrevistas e matérias de Carmen Santos nas revistas brasileiras Cinearte (1926 – 1942) e A Cena Muda (1921 – 1955) em que ela esboçou suas ideias e propostas para o cinema brasileiro, quais eram seus sentimentos e perspectivas em relação ao que se produzia de cinema no país, os espaços de circulação, suas análises e apostas para o que considerava ser um projeto brasileiro de cinema. Procuraremos avançar no diálogo apontando as possíveis relações com as ideias difundidas por pensadores e trabalhadores do cinema no Brasil trabalhados por Arthur Autran (2013) em torno da constituição de um pensamento industrial cinematográfico brasileiro.
Cinearte e A Cena Muda foram as revistas que mais se destacaram no campo cultural brasileiro a partir da década de 1920 e trazem um excelente panorama das ideias e propostas de agentes intelectuais, culturais, empresários, em torno do cinema no Brasil (LUCAS, 2005). Destaca-se a importância de Cinearte, revista que tinha uma seção exclusiva voltada para o cinema brasileiro, publicando textos de diversos pioneiros da produção e da crítica de cinema, fortalecendo o amplo debate acerca da defesa do cinema brasileiro e sua industrialização (LUCAS, 2005). Importante ainda destacar que era através dessas revistas que realizadores de diversos cantos do Brasil sabiam das produções realizadas nos diferentes cantos do país, se aproximavam e trocavam informações. Nos anos 1920 e 1930, a imprensa conseguiu uma circulação nacional muito mais ampla que os filmes brasileiros, que circulavam muito restritamente.
A pioneira Carmen Santos, um dos grandes nomes femininos do cinema nessa época, desde muito nova demonstrava suas intenções de se tornar uma empresária de cinema no Brasil (PESSOA, 2002), produzindo histórias escolhidas por ela, com papéis que ela considerava serem os mais adequados aos seus anseios, construindo autonomia inédita para uma mulher naquela época. Ana Pessoa demonstra em seu livro como Carmen entendeu muito rapidamente a importância da imprensa para a construção de sua carreira e divulgação de seus projetos, utilizando-a massivamente enviando fotografias, fornecendo conteúdo seus filmes, procurando sempre estar em evidência. Assim, com esse intenso trabalho junto da imprensa, Carmen abriu espaço, muitas vezes, para emitir suas opiniões acerca da cinematografia nacional, sendo um das raras mulheres a conseguir essa abertura num meio repleto de homens em que, a maioria das mulheres, eram apenas atrizes, corpos e rostos bonitos que enfeitavam as telas de cinema e as revistas ilustradas.
Apesar de encontrar espaço para expor suas ideias, é importante ressaltar que a maioria dos textos raramente lhe davam a fala diretamente, apesar de ser possível encontrar algumas exceções. Nosso foco de análise estará nessas exceções, em que Carmen tem a palavra e opina sobre os tipos de filmes que têm sido feito no Brasil e os tipos que ela pretendia fazer, quais suas perspectivas em torno da consolidação do cinema enquanto indústria no país, o que ela pensava acerca do comportamento do mercado cinematográfico do período e suas propostas para possíveis ações governamentais de políticas públicas de incentivo e regulação do setor. Procuraremos refletir de que modo Carmen estava inserida nas discussões do período, principalmente as trabalhadas pelo pesquisador Arthur Autran em seu livro “O pensamento industrial cinematográfico brasileiro” (2013), em que ele irá analisar algumas das ideias desenvolvidas nestes primeiros anos,desde o período do cinema silencioso e que perpetuaram ao longo dos anos em nossa história. O autor procura traçar alguns pontos essenciais, sempre presentes nas discussões, e que foram constituindo uma “consciência cinematográfica” entre esses realizadores, apontando interesses similares ou em comum. A intenção é mostrar como Carmen interagia com essas discussões, analisando suas opiniões nessas duas importantes revistas.
Bibliografia
- AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.
CASTRO, Tatiana de Carvalho. Carmen Santos: autorepresentações e representações no cinema e nas revistas ilustradas. Dissertação de mestrado em História. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.
LUCAS, Taís Campelo. Cinearte: o cinema brasileiro em revista (1926 – 1942). Dissertação de mestrado em História. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
MELO, Luís Alberto Rocha. Cinema Independente: produção, distribuição e exibição no Rio de Janeiro (1948-1954). Tese (Doutorado em Comunicação). Niterói, Universidade Federal Fluminense, Instituto de Arte e Comunicação Social, 2011.
VIEIRA, João Luiz. “A chanchada e o cinema carioca (1930 – 1955)”. In: RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila (Org.). Nova História do cinema brasileiro (vol. 1º). São Paulo: Edições SESC, 2018, p. 392 – 431).
PESSOA, Ana. Carmen Santos: o cinema dos anos 20. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002.