Ficha do Proponente
Proponente
- Alex Ferreira Damasceno (UFPA)
Minicurrículo
- Professor do Programa de Pós-Graduação em Artes e do Curso de Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutor em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenador do Projeto de Pesquisa intitulado Laboratório de Análise Neoformalista do Cinema e Audiovisual: LAB NeoCine.
Ficha do Trabalho
Título
- Os princípios teórico-metodológicos de David Bordwell
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho elabora uma revisão crítica do pensamento de Bordwell e das apropriações contemporâneas dos estudos de cinema do Brasil. Constatou-se, com base num conjunto de dados, o pouco interesse da pesquisa brasileira na abordagem metodológica do autor. Desse modo, o trabalho tem o objetivo de discorrer sobre os princípios teórico-metodológicos que constituem o seu pensamento, centrados na investigação da relação entre a forma fílmica, o contexto histórico e as atividades mentais do espectador.
Resumo expandido
- O presente trabalho elabora uma revisão crítica do pensamento de David Bordwell e das apropriações contemporâneas realizadas pelos estudos de cinema do Brasil. Estabeleço como foco da revisão os princípios metodológicos que nortearam as pesquisas do autor ao longo de sua vasta obra, que, como demonstro a seguir, não foram propriamente incorporados ao diverso panorama teórico-metodológico da pesquisa brasileira. O ponto de partida é um levantamento que realizei nos anais do Congresso da Socine dos últimos dez anos (de 2012 a 2022) das citações da obra de Bordwell. Como primeiro diagnóstico, foi possível verificar que Bordwell é regularmente acionado pela pesquisa brasileira: cerca de 7% dos artigos da Socine desse período citam o autor, o que me parece um percentual bastante demonstrativo da sua relevância.
Após analisar o conjunto de citações, foi possível perceber algumas tendências de apropriação. Primeiramente, o que era previsível, a maioria das citações é proveniente de obras traduzidas para o português (Bordwell, 2008; Bordwell e Thompson, 2014). Em segundo lugar, a grande maioria das apropriações se interessa pelos resultados das análises de Bordwell, principalmente em uma teorização voltada à identificação de convenções e à construção de categorias, como os estilos de encenação (Bordwell, 2008), os modos de narração (Bordwell, 1996a), as normas do cinema clássico e as transformações da montagem no cinema contemporâneo (Bordwell, 2006). Assim, boa parte dos artigos utiliza a obra de Bordwell por um viés informacional, como conhecimento estabelecido, e não como um marco conceitual, base de um desenho metodológico de investigação. Poucos trabalhos da Socine assumem uma explícita vinculação metodológica à perspectiva de Bordwell.
É verdade que Bordwell sempre negou que seu pensamento configurava um método. Por outro lado, suas pesquisas ofereceram várias contribuições metodológicas, principalmente na sua prolífica produção teórica dos anos de 1980 e 90. Os seus textos desse período (Bordwell, 1989a, 1989b, 1991, 1996a, 1996b) são marcados pelas críticas às abordagens teórico-metodológicas dos estudos de cinema e pela proposição de princípios metodológicos e arranjos conceituais de investigação. É importante notar que esse conjunto de textos segue sem tradução. Fica evidente que não houve interesse em traduzir os trabalhos de cunho teórico-metodológico de Bordwell, assim como não há um interesse da pesquisa brasileira atual em debater e se apropriar da abordagem do autor. Parece-me contraditório que um pensamento que gerou resultados tão estabelecidos e constantemente recuperados tenha a sua metodologia ignorada.
Após a revisão das apropriações, este trabalho busca promover uma discussão sobre os princípios teórico-metodológicos do autor. Primeiramente, recupero as críticas de Bordwell às correntes da Psicanálise e da Semiologia da teoria do cinema, centradas especialmente no caráter hermenêutico das análises. Em seguida, discorro sobre como a abordagem metodológica de Bordwell foi construída em dois movimentos. Em primeiro lugar, ele elabora uma teoria sobre o funcionamento da forma fílmica, na articulação entre conceitos do Formalismo Russo, da Poética Aristotélica e da perspectiva baziniana da história do cinema. A partir desse arranjo, Bordwell nomeia sua abordagem com as expressões Neoformalismo e Poética Histórica. O segundo movimento se dá em direção à Psicologia Cognitiva, na construção de uma teoria das atividades mentais do espectador no processo de compreensão de um filme. Por isso, Bordwell nomeia sua abordagem também como Cognitivismo. As pesquisas de Bordwell se baseiam na articulação desses marcos conceituais, na problematização, análise e teorização da relação entre a forma fílmica (seus princípios, normas, dispositivos e funções), o contexto histórico (os diferentes agentes, modos de produção e estilos dominantes) e os efeitos no espectador (atividades fisiológicas, cognitivas e interpretativas).
Bibliografia
- BORDWELL, D. Historical poetics of cinema. In: PALMER, Barton (org.). The cinematic text: methods and approaches. Atlanta: Georgia State Literary Studies, 1989a.
BORDWELL, D. A case for cognitivism. Íris: a journal of theory of image and sound. Iowa, n. 9, p. 11-40, 1989b.
BORDWELL, D. Making meaning: inference and rhetoric in the interpretation of cinema. Cambridge: Harvard University Press, 1991.
BORDWELL, D. La narración en el cine de ficción. Barcelona: Paidós, 1996a.
BORDWELL, D. Convention, construction, and cinematic vision. In: BORDWELL, David; CARROL, Noël. Post-theory: reconstructing film studies. Madison: The University of Wisconsin Press, 1996b.
BORDWELL, D. The way Hollywood tells it: story and style in modern movies. University of California Press, 2006.
BORDWELL, D. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Campinas: Papirus, 2008.
BORDWELL, D. THOMPSON, K. A arte do cinema: uma introdução. Campinas: Editora da Unicamp; São Paulo: Editora da USP, 2014.