Ficha do Proponente
Proponente
- Luís Alberto Rocha Melo (UFJF)
Minicurrículo
- Luís Alberto Rocha Melo é professor do Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cineasta e pesquisador. Dirigiu, entre outros trabalhos, os longas “O Cangaceiro da Moviola” (doc., 2022) e “Um homem e seu pecado” (fic., 2016), o média “O Galante rei da Boca” (doc., codir.: Alessandro Gamo, 2004), e os curtas “Cinebiogravura” (2017) e “5 X Sérgio” (2020). É autor do livro “Alinor Azevedo e o cinema carioca” (Belo Horizonte: UFMG, 2022).
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema brasileiro e TV educativa: a experiência do SRTV da Embrafilme
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta proposta tem como objetivo examinar alguns aspectos do encontro entre o SRTV (Setor de Rádio e Televisão) da Embrafilme e a TVE do Rio de Janeiro, entre os anos 1976-1980. Como situar historicamente essa experiência, no conjunto das complexas e contraditórias relações entre o cinema e a televisão no Brasil dos anos 1970, pensando tais relações não a partir do viés comercial e privado, mas dentro das diretrizes educacionais tuteladas por um Estado ditatorial?
Resumo expandido
- Em 20 de janeiro de 1970, no auge da ditadura militar pós-AI 5, o produtor e diretor Roberto Farias concedeu uma entrevista ao jornal “Correio da Manhã”, na qual afirmava, de forma otimista, que “pela primeira vez”, via “com alegria” o interesse “pela sorte e o progresso da nossa sétima arte”, por parte dos “homens que detêm nas mãos os destinos da nação”. Farias sublinha os muitos anos de “lutas, de pedidos, estudos e esclarecimentos, audiências, conferências, reuniões de sindicato, entrevistas, tudo para explicar, convencer que o cinema brasileiro precisava acontecer, que existia, que precisava existir.” Enfim, ele comemora, a classe cinematográfica foi ouvida: além do Instituto Nacional de Cinema e da Embrafilme, foram obtidas vitórias parciais na “luta pela reserva de mercado, obtendo 98 dos 112 dias que preconizávamos.” E o cineasta conclui sua avaliação positiva desta conjuntura política: “Temos a simpatia da Nação do nosso lado, porque a luta é justa: queremos igualdade de condições para concorrer com o cinema importado.” (“FILME…”, 1970, p. 7)
No ano seguinte, a “Revista de Informação Legislativa”, órgão oficial do Senado Federal, publicou na íntegra a conferência do jornalista e educador Gilson Amado, pronunciada no dia 11 de novembro de 1971, à Comissão de Educação e Cultura do Senado, intitulada “A televisão educativa no Brasil” (AMADO, 1971, p. 13-36). O pronunciamento fazia parte da “via-crucis” de Amado visando à implementação do que viria a ser, em 1972, o Telecentro da Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa, que a partir de 1975 passou a funcionar como emissora de sinal aberto, a TVE (Canal 2) do Rio de Janeiro. Em sua fala, Gilson Amado destacava, dentre alguns dos principais objetivos de uma televisão educativa no país, a formação e a recuperação educacionais visando a integração de milhões de adultos analfabetos ou semialfabetizados ao mercado de trabalho; a formação e o reforço educacionais de professores; os programas de interesse comunitário e aqueles dirigidos especialmente aos jovens. A não ser por uma breve menção à exibição de “filmes educativos”, dentre as atividades até aquele momento desenvolvidas pela Fundação, nenhuma palavra mais é dita sobre um possível papel do cinema na constituição dessa TV educativa.
A tradicional distância ou a ausência de diálogos entre o cinema e a televisão no Brasil ficam claras nesses dois episódios. Ainda que vinculados ao mesmo Ministério da Educação e Cultura e comungando dos pressupostos ideológicos de “integração nacional”, o INC-Embrafilme e a Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa, a julgar pelos pronunciamentos de Farias e Amado, pareciam ignorar-se mutuamente.
Em abril de 1976, contudo, o recém implementado SRTV (Setor de Rádio e Televisão) da Embrafilme, já sob a presidência de Roberto Farias, levou ao ar, através da TVE (Canal 2 do Rio), comandada por Gilson Amado, o programa “Cinemateca”, inteiramente voltado ao cinema brasileiro. Em julho de 1978 estreia “Coisas Nossas”, outro programa produzido pelo SRTV e também veiculado pela TVE, com exibição de curtas-metragens seguidos de debates e entrevistas com cineastas e, às vezes, com o público. Como situar historicamente, no conjunto das complexas e contraditórias relações entre cinema, televisão e Estado, esse encontro entre a Embrafilme e a TVE? Que perspectivas de análise podem se abrir quando pensamos nas relações entre o cinema e a televisão, no Brasil dos anos 1970, não a partir do viés comercial e privado, mas educativo e estatal?
A presente proposta está inserida no projeto “Subsídios para uma historiografia audiovisual: o acervo do Setor de Rádio e Televisão da Embrafilme (1976-1980)”, pesquisa financiada pela Fapemig e atualmente também desenvolvida no âmbito de um pós-doutorado realizado junto ao Departamento de Artes e Comunicação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Bibliografia
- AMADO, Gilson. “A televisão educativa no Brasil”. Revista de Informação Legislativa. Brasília: 1971, p. 13-36.
AMANCIO, Tunico. Artes e manhas da Embrafilme: cinema estatal brasileiro em sua época de ouro (1977-1981). Niterói: EdUFF, 2000.
AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec, 2013.
“COISAS Nossas”. Filme Cultura, nº 32. Rio de Janeiro: fev 1979, p. 67-68.
“FILME épico é bom para Farias que vê mercado”. Correio da Manhã. Rio de Janeiro: 20 jan 1970, p. 7
MILANEZ, Liana. TVE Brasil: cenas de uma história. Rio de Janeiro: TVE Brasil, 2007.
PONTES, Igor Andrade. “Investigação e catalogação da coleção SRTV do acervo do Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura”. Recine – Revista do Festival Internacional de Cinema de Arquivo, nº 10. Rio de Janeiro: nov 2013, p. 150-157.
TAVARES, Zulmira Ribeiro. “Seriados sem série e outros espantos.” Filme Cultura, nº 41-42. Rio de Janeiro: maio 1983, p. 11-19.