Ficha do Proponente
Proponente
- RENATO TREVIZANO DOS SANTOS (USP)
Minicurrículo
- Doutorando e Mestre pelo PPGMPA-ECA-USP, com pesquisa sobre monstruosidades, fantasmagorias e santidades no cinema queer. Bacharel em Audiovisual pela ECA-USP, foi curador/programador de mostras cinematográficas no CINUSP entre 2016 e 2018. Especialista em Ensino à Distância pela UNIVESP, onde atuou como Facilitador de Aprendizagem de 2019 a 2021, é também revisor de texto e autor do livro de poemas “Mágicas dores mínimas” (2022). Vencedor do I Prêmio SOCINE de Teses e Dissertações (2023).
Ficha do Trabalho
Título
- Realismo fantasmagórico e o fantástico cuir em Memoria, de Apichatpong
Formato
- Presencial
Resumo
- Memoria (2021), primeiro filme de Apichatpong a ser rodado fora da Tailândia, na Colômbia, realiza um deslocamento espacial que ecoa em seu conteúdo formal, narrativo, temporal, etc. A protagonista Jessica (Tilda Swinton) é acometida por uma estranha condição, que a faz escutar um som grave persistente vindo do centro da Terra. Seu gestual peculiar, cuir, é capturado de forma realista, mas agravada por elementos fantásticos e fantasmagóricos, tanto pela trilha quanto por outros personagens.
Resumo expandido
- Memoria (2021) é, dos longas-metragens do diretor tailandês Apichatpong Weerasetkahul, o primeiro a ser rodado fora da Tailândia, na Amazônia colombiana. A partir desse deslocamento espacial, materializado na gestualidade estranha (cuir) da protagonista Jessica (Tilda Swinton), vemos agravado o deslocamento temporal, que acomete a personagem com tonturas e com a persistente escuta de sons graves invulgares que, segundo ela, procedem do centro da Terra, sem que ninguém mais os escute. O filme combina elementos realistas de cunho baziniano (planos-sequência, profundidade de campo, locações reais, alguns atores não profissionais, atenção aos gestos cotidianos e à duração “real” do tempo das ações, etc.) com momentos de verdadeira estranheza, ou maravilha, ou fantasia, a emergirem no cotidiano, remetendo-nos diretamente ao realismo fantasmagórico do Sudeste Asiático (MELLO, 2015), bem como ao realismo fantástico latino-americano (CHIAMPI, 2008; CORTÁZAR, 2008), como bem sugerido pela professora Cecília Mello (2023). Alguns destaques específicos poderiam ser dados, como a memória de um passado violento ecoada nas pedras do vilarejo – rememoramento de “Pedro Páramo” (1955, de Juan Rulfo); ou o homem que dorme de olhos abertos, como em “Cem anos de solidão” (1965, de Gabriel García-Márquez); mas deixemos as comparações mais detalhadas para o momento oportuno. Nesse contexto, o pensamento cuir nos ajudará a reunir, sob um mesmo espírito contraditório e não binário, os aparentes paradoxos com que lidam o filme e os livros em questão.
Bibliografia
- BAZIN, A. O que é o cinema?. São Paulo: Ubu Editora, 2018.
______. O realismo impossível. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
CHIAMPI, I. O realismo maravilhoso. São Paulo: Perspectiva, 2008.
CORTÁZAR, J. Valise de cronópio. São Paulo: Perspectiva, 2008.
GARCÍA-MÁRQUEZ, G. Cem anos de solidão. São Paulo: Record, 2018.
MELLO, C. (org.). Realismo fantasmagórico. São Paulo: USP, 2015. (Coleção Cinusp). Disponível em: https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/816. Acesso em: 31 mar. 2024.
______. Phantasmagorical realism in Memoria (Apichatpong Weerasethakul 2021). Moving Image Review & Art Journal (MIRAJ), The, Volume 12, Issue Spectral Cinema and Contested Landscapes, dez. 2023, p. 171-188. Disponível em: https://intellectdiscover.com/content/journals/10.1386/miraj_00115_1. Acesso em: 31 mar. 2024.
RULFO, J. Pedro Páramo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2020.
TODOROV, T. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2017.