Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Damyler Ferreira Cunha (PPGCINE – UFS)

Minicurrículo

    Mestra e doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP. Atualmente é docente do curso de Cinema e Audiovisual, vinculada ao Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe. Ministra as disciplinas de Produção Audiovisual I e Produção Sonora I e II, é docente colaboradora vinculada ao PPGCINE-UFS com o projeto de pesquisa Ruídos, Silêncios e Repetições no Cinema Brasileiro Contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    A musicalização dos sons e das imagens no filme experimental

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Essa comunicação propõe uma reflexão sobre o uso do som e da música em filmes experimentais, com o interesse em rastrear as ideias e experiências sobre a criação de trilhas sonoras para filmes experimentais. Quais práticas de uso do som e da música em filmes experimentais podemos nos deter para demonstrar aquilo que se diferencia das trilhas sonoras de filmes comerciais ou de gênero? Existe experimentação sonora e musical em filmes experimentais?

Resumo expandido

    No livro The music and sound of Experimental Film (2017), Holly Rogers cita na introdução o fato de muitos cineastas experimentais nem sempre terem optado pelo uso criativo do som e da música em seus filmes. Mas em muitos filmes experimentais também existem práticas sonoras que apresentam elementos sônicos integrados à estratégia discursiva do filme sob a forma de sons radicais, propensos à causar rupturas e que agem poderosamente na criação de uma estética experimental. Aqui nos detemos sobre a relação entre música, som e imagem, a partir das indagações sobre qual papel a música exerce em ambientes estéticos muito distantes do formado pelo filme convencional. Ou ainda se existe alguma constância na prática sonora do filme experimental, ou se sua falta de constância é o que mais o caracteriza. Os filmes experimentais possuem trilhas sonoras inovadoras, ou existe uma textura vanguardista a partir da colocação distinta da música contra (ou com) uma imagem?
    A partir dessas perguntas, Holly Rogers (2017) apresenta um caminho para pensar as práticas sonoras e musicais realizadas em filmes experimentais, ao mesmo tempo em que se somam como novos elementos para a problematização e a fragmentação da definição de experimental como categoria cinematográfica. Nessa perspectiva, os textos publicados no livro citado enfatizam momentos nos quais as transformações no meio cinematográfico foram significativas, em particular ocasiões em que a música e o som foram usados de maneira subversiva por aqueles que operavam fora dos domínios artísticos e financeiros que impulsionam o cinema comercial. Na maioria dessas práticas descritas, podemos constatar que os cineastas que realizaram experimentações com o som ou a música trabalharam sozinhos ou em pequenos coletivos colaborativos.
    De um modo geral, elas também apontam para filmes que se destacaram pela sua materialidade, ao evitar uma adesão à tradicional “imersão” audiovisual proporcionada pelos filmes de ficção convencionais. Estratégia essa que, na maioria das vezes, teria como objetivo a manutenção de certo distanciamento crítico entre os espectadores e o filme (ROGERS, 2017, p. 5). Tal processo, segundo Rogers (2017), também pode ser explorado a um nível mais sonoro no filme, fato que ele demonstra, citando obras que se destacaram por esta oscilação entre a imersão do espectador na obra e seus momentos de distanciamento da mesma.
    Apesar da diversidade de estilos e práticas de filmes experimentais, o interessante do breve estudo apresentado em The music and sound of Experimental Film foi a identificação de temas recorrentes ao uso do som e da música no filme experimental na teoria cinematográfica. Entre os temas dicotômicos: a relação entre a música e o ruído, entre o espectador ativo e o passivo, entre o popular e a vanguarda e – o grande tema predominante – a oposição entre o sincronismo do som e da imagem e a dissonância audiovisual. Um dos livros escritos por Jean Mitry sobre cinema experimental traz questões relacionadas ao tema predominante apontado por Holly Rogers, a oposição entre sincronismo do som e da imagem e a dissonância audiovisual.
    Proponho nesta comunicação uma aproximação entre dois campos teóricos – cinema e música, para me acercar das ideias trazidas por Jean Mitry sobre uso da música no filme experimental. Vamos partir de um conceito dissidente da musicologia – a “musicalização dos sons” adotado por Douglas Kahn (2006, 2019) para nomear sons estetizados e organizados para serem percebidos como música colocado em relação a proposta de “musicalização das imagens” reivindicada no livro Le cinèma experimental, de Jean Mitry (1974). O eixo em comum entre estas distintas aproximações dos termos é, antes de tudo, o raro interesse em se pesquisar o tema da materialidade dos sons e das formas musicais em filmes experimentais.

Bibliografia

    KAHN, Douglas. “The Arts of sound art and music”. IOWA Review web, 2006. Acessado em 01/02/2019:

    ______. “Sound leads Elsewhere”. In: The Routledge Companion to Sounding Art. Edited by Marcel Cobussen, Vincent Meelberg and Barry Truax. Routledge: New York, 2017, p 41-51.

    ROGERS, Holly; BARHAM, Jeremy(ed.). The Music and the Sound of Experimental Film. Oxford University Press, 2017.

    ROGERS, Holly. Audiovisual noise in Transmedial Culture. XIII Simposio internacional “La creación musical en la banda sonora”, Oviedo, 25-26, junho, 2021. Acessado em 31/03/2024: https://vimeo.com/566670067

    MITRY, Jean. História en el cine experimental [Le cinèma experimental. Histoires et perspectives, 1974]. Valencia: Fernando Torres Editor, 1974.