Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Ludmila Moreira Macedo de Carvalho (UFRB)

Minicurrículo

    Mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas e Doutora em Literatura Comparada e Cinema pela Université de Montréal (Canadá). Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Coordenadora do projeto de pesquisa e extensão CineCecult nas Escolas, financiado pelo CNPq. Pesquisa na área do cinema, com ênfase em cinema, infância e educação; cinema infantil, autoria no cinema e na televisão.

Ficha do Trabalho

Título

    Brinquedos ópticos: entre a ludicidade, o pensamento e a experiência

Formato

    Presencial

Resumo

    Partindo do interesse em verificar as intersecções entre cinema e infância, propomos uma investigação a respeito dos brinquedos ópticos, situados numa encruzilhada entre ciência, pensamento e brincadeira. Nessa perspectiva, propomos um olhar sobre as propriedades que fizeram o cinema ser um brinquedo antes de se tornar uma linguagem. Nos interessa verificar como o uso da categoria brinquedo reforça o caráter de experimentação destes dispositivos através de sua mecânica interativa e repetitiva.

Resumo expandido

    A associação entre o início do cinema e a infância não é, em si, uma novidade. Ao contrário, é bastante comum lermos referências à infância enquanto metáfora para os primeiros anos da sétima arte. Esta metáfora, no entanto, costuma estar carregada de uma pressuposição de que tanto a infância quanto o cinema seriam marcados por uma “evolução” numa linha histórica linear; ou seja, do mesmo modo que uma criança seria uma versão latente, rudimentar, daquilo que viria a ser o adulto no futuro, também o pré-cinema e o cinema dos primeiros tempos seriam uma espécie de proto-cinema ou de cinema primitivo, versão precária do cinema maduro (e por isso entende-se o cinema narrativo) do século XX.
    Neste trabalho, não pretendemos tomar nem a criança e nem o cinema dos primeiros tempos como versões rudimentares de coisa alguma, mas sim, ao contrário, como experiências próprias, dotadas de características particulares que, a nosso ver, dialogam fortemente entre si. Partindo deste interesse em verificar as intersecções entre cinema e infância, propomos uma investigação a respeito dos aparatos ópticos que precederam a criação do cinematógrafo. Numa época fortemente marcada pelo desenvolvimento industrial e pelo fascínio com a reprodução mecânica da imagem, entre 1830 e 1900, diversos aparelhos ópticos foram criados antes do cinematógrafo, tais como a lanterna mágica, o folioscópio, o taumatrópio, o zootrópio, o fenaquitoscópio, o praxinoscópio, entre outros. Estes experimentos tecnológicos, cujo objetivo principal era demonstrar os princípios científicos de percepção e reprodução de imagens, situam-se numa intrigante encruzilhada entre experimentos científicos, objetos de entretenimento e brinquedos. Tais objetos eram, de fato, chamados de brinquedos ópticos ou brinquedos filosóficos (STRAUVEN, 2006).
    Gostaríamos de nos deter neste termo: brinquedo. É especialmente curioso perceber que, no vasto campo de estudos de história de cinema, pouca atenção tenha sido dada a esta denominação para os aparelhos ópticos. Por que eram brinquedos? Quem brincava com eles? Poucos autores se debruçam sobre a dimensão lúdica dos aparatos ópticos, mesmo no campo do cinema e educação. Um deles é Walter Benjamin, que em suas recordações diz que foi através de brinquedos como as câmeras ópticas, dioramas e panoramas que muitas crianças foram introduzidas “nos mistérios do mundo lúdico” (2009, p.84). Com esse olhar propomos uma investigação a respeito das potências e das propriedades lúdicas que fizeram o cinema de atrações ser um brinquedo antes de se tornar uma linguagem artística e uma instituição industrial, a partir de três categorias: o olhar, a manipulação e o pensamento. Podemos pensar o gesto de olhar dos aparelhos ópticos que deram início ao cinema como uma espécie de inscrição infantil no mundo das imagens em movimento? Podemos pensar na profusão de experiências de aparelhos óticos que geraram os primeiros dez a quinze anos do cinema como uma negociação constante entre olhar e ser objeto do olhar, entre experimentações, inovações e institucionalização, ou seja, entre ciência e brincadeira infantil? Como diz Benjamin, o ímpeto de brincar também faz parte do mundo adulto e, assim como para a criança, “brincar significa sempre libertação” (2009, p.85). Com efeito, o que nos interessa aqui é justamente como o uso do termo brinquedo reforça sobremaneira o caráter de experimentação lúdica destes dispositivos através de sua mecânica interativa e repetitiva.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
    BAK, Meredith A. The ludic archive: The work of playing with optical toys. Moving Image: The Journal of the Association of Moving Image Archivists, v. 16, n. 1, p. 1-16, 2016.
    BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades, Editora 34, 2009.
    CAILLOIS, Roger. Os jogos e os homens. A máscara e a vertigem. Petrópolis: Vozes, 2017.
    CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: On vision and modernity in the nineteenth century. MIT press, 1992.
    KOHAN, Walter Omar. Infância. Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
    LEBEAU, Vicky. Childhood and cinema. Reaktion Books, 2008.
    OUBIÑA, David. Una juguetería filosófica: Cine, cronofotografía y arte digital. Ediciones Manantial, 2022.
    STRAUVEN, Wanda (Ed.). The cinema of attractions reloaded. Amsterdam University Press, 2006.