Ficha do Proponente
Proponente
- Sylvia Beatriz Bezerra Furtado (UFC)
Minicurrículo
- Docente do Instituto de Cultura e Arte, da Universidade Federal do Ceará, atuando no curso de Cinema e Audiovisual e na Pós-Graduação em Comunicação. Publicou e/ou organizou com Philippe Dubois “Pós-Fotografia, Pós-Cinema e o devir das Imagens Contemporâneas na Arte “; Imagem e Liberdade”, com André Parente e André Brasil; organizou os volumes I e II de Imagem Contemporâneas”; “Fazendo Rizoma”, com Daniel. É autora de Imagens que Resistem” e “Imagens Eletrônicas e Espaço Urbano”.
Ficha do Trabalho
Título
- A fabulação das Imagens -uma conversa com Maurício Lissovsky
Formato
- Presencial
Resumo
- Neste artigo, tomamos a pergunta de Maurício Lissovsky (2009) sobre o que fazem as imagens quando não estamos a olhar para elas como uma provocação teórica. A pergunta, desde nossa perspectiva, se inscreve na leitura de que as imagens têm vida, são animadas e, portanto, têm uma independência em relação ao nosso olhar, ao que fazemos com elas, como produzimos sentido através delas. Dessa forma, à pergunta de Lissovsky, é respondemos com a proposição de uma a fabulação.
Resumo expandido
- Ao afirmar às imagens uma vida, Maurício Lissovsky integra um campo de trabalhos e de teóricos que ao longo dos anos vêm pensando a força vital das imagens, sobretudo ao Visual Studies, caso, por exemplo de W.J.T. Mitchel, cujo texto fundamental tem por título “O que as Imagens Realmente Querem?” (2015). Ressalte-se que Lissovsky se coloca numa posição de atenção ao que pode vir das imagens na sua pulsão vital. Leitor de Benjamin, põe-se na posição de um tipo específico de fotógrafo, aquele que aguarda que o acontecimento ocorra às imagens e se faça na dialética dos tempos perturbados em seus anacronismos, em busca dos vestígios de um tempo inscrito no agora. Há uma aposta, estética, ética, teórica, nesse agora (Jetztzeit) benjaminiano. Seria então esse o lugar de atuação das imagens? Em seus termos, a espera inscreve os sonhos nas imagens, essas que guardam vestígios de futuro.
“São vestígios de futuro que ela mantém armazenados, encobertos até um tempo preciso que é o nosso “agora”. Aí eles nos procuram, nos visam. É o tempo da sua “revelação” (da sua “redenção, diria Benjamin), em que o contínuo da história se rompe e a imagem ressurge como se houvesse sido destinada a nós, à nossa atualidade. Não há outro instrumento para “despertar” os sonhos de futuro adormecidos nas imagens do que nossos próprios sonhos do futuro. Esta faísca que se lança de imagem do passado até nós (em que nos reconhecemos como visados por ela) é seu índice de futuro”. (2009)
São as imagens que nos visam. São elas que saltam, que relampejam. Não como um destino das imagens, mas como lampejos, fenômenos visuais que ocorrem de forma rápida e passageira. Conhecemos esses lampejos nos vagalumes (ou pirilampos), que são insetos coleóptero, com bioluminescências -capacidade de determinados organismos de gerar luz fria, numa reação química que se deve a catalisação e oxidação de uma proteína chamada luciferina. Os relampejos são transformações de energia como as que ocorrem motivadas, em algumas espécies de vagalumes numa pulsão amorosa. É essa ação que Benjamin convoca para falar do tempo do agora que ocorre na imagem.
(…) não é que o passado lança sua luz sobre o presente ou que o presente lança sua luz sobre o passado; mas a imagem é aquilo em que o ocorrido encontra o agora num lampejo, formando uma constelação. Em outras palavras: a imagem é a dialética na imobilidade. Pois, enquanto a relação do presente com o passado é puramente temporal e contínua, a relação do ocorrido com o agora é dialética – não uma progressão, e sim uma imagem, que salta. (BENJAMIN, 2006, p. 504)
As imagens têm vida, pulsam, conformam, habitam o mundo, fazem crer, negam, têm existência própria. A pertinência em ver nas imagens objetos animados, cujos tempos se entrecruzam e arrastam visibilidades em suas inúmeras camadas, estão presentes nas muitas questões postas às imagens por curadores, pesquisadores, historiadores, teóricos das imagens, em cujo pensamento com as imagens não se consubstanciam em reproduções do mundo, mas como um trabalho incontornável com ele. As posições que as imagens tomam, como interrogam, o que fazem, que trabalho realizam, o que apagam e o que dão a ver, são alguns dos atributos que as fazem libertas e sujeitas de suas próprias vidas, as tornando anímicas, dessobjetivadas.
Seriam então pelas fabulações que as imagens ganham vida? Os brinquedos, as imagens, os objetos, se abrem as suas virtualidades, aos tempos, apenas se os humanos com eles fabularem? O que seria então fabular uma vida? Estariam as imagens num devir-fabulatório no qual só podemos entrar nos jogos dos tempos, das montagens? Teriam as imagens, guardas em suas vidas, aninhadas de tempos, as forças poéticas do enclausuramentos e, nesse sentido, estaríamos nós sob o domínio de imagens de tal sorte manipuladas que estão direcionadas para não fabulação? É com essa aposta, que é estética, ética e política, que nos debruçamos sobre o pensamento de Lissovsky nesse texto.
Bibliografia
- BENJAMIN, W, Imagem e Técnica. Brasiliense. São Paulo. 2006,
LISSOVSKY, Maurício. Imagem Contemporânea. vol. I, Hedra, São Paulo, 2009..
W.J.T. Mitchel, “O que as Imagens Realmente Querem?” . Autêntica; 2015.