Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Luccas Pinheiro Lopes (uerj)

Minicurrículo

    Mestrando pelo programa de pós-graduação da UERJ. Membro do grupo de pesquisa “POPMID: Reflexões sobre Gêneros e Tendências em Produções Midiáticas” coordenado pelo prof. Yuri Garcia. Graduado no curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá (UNESA), Campus Tom Jobim – Barra. Realiza pesquisas sobre representatividade negra e questões raciais dentro de filmes de horror.

Ficha do Trabalho

Título

    CANDYMAN (2021), GENTRIFICAÇÃO E RECONFIGURAÇÃO DE IDENTIDADES

Formato

    Presencial

Resumo

    A pesquisa busca apresentar o impacto de uma idealização contra-hegemônica em Candyman (Nia DaCosta, 2021). O filme aborda o processo de gentrificação social nos Estados Unidos, marginalizando pessoas negras e suas moradias. Desse modo, uma entidade assume o papel de vingança contra o poder dominante. A partir de uma bibliografia sobre questões raciais – como nomes como Mbembe (2016), Kilomba (2019) e outros –, o trabalho examina a maneira pela qual a obra desenvolve tais temáticas.

Resumo expandido

    Candyman (2021) foi produzido, dirigido e roteirizado por Nia DaCosta, uma mulher negra. Jordan Peele, diretor de Get Out! (2018), Us (2019) e Nope (2022) que possuem temáticas de horror racial, assinala também a produção do filme. Silvio Almeida (2019) aponta que a representatividade pode ser avaliada como positiva quando existem pessoas contra-hegemônicas na idealização da obra e na projeção – algo que podemos perceber como um certo destaque nos casos acima.
    Nosso foco investigativo recai em uma questão central da narrativa: a gentrificação social na cidade de Chicago. A história se situa no projeto habitacional público Cabrini-Green Homes, que habitava, majoritariamente, pessoas negras, entre as décadas de 1960 e 1990. O governo estadunidense as demoliu em 1992 para construir prédios em busca de atrair mais pessoas de classe média.
    Com a valorização dos imóveis dessa região, o comércio também cresceu e tornou o espaço mais caro e protegido. Consequentemente, o custo de vida do local se elevou. O filme aborda esse fato histórico e apresenta a lenda de Candyman, um espírito assassino que é invocado ao dizer seu nome três vezes olhando para um espelho, dentro desse contexto. Como uma forma de justiça pelas pessoas que foram expulsas de suas casas, a entidade escolhe o protagonista, Anthony McCoy (interpretado por Yahya Abdul-Mateen II), que foi morador do projeto habitacional, para ser seu sucessor.
    Achille Mbembe (2016) aponta uma estruturação de poder hegemônico na sociedade em que a soberania, em busca de conforto, submete o restante da população à três categorias de violência. Dentre elas, a territorialização seria a determinação de espaços, onde seu local seria mais cuidado, protegido e valorizado, enquanto, o espaço do restante da população não teria esse mesmo tratamento, tornando-se marginalizado. Além do mais, a violência seria uma forma de manter determinadas pessoas à margem da sociedade, com o racismo imbricado na manutenção do poder hegemônico.
    O protagonista reside no prédio que é construído no lugar de Cabrini-Green Homes, o que o torna pertencente a uma classe social mais privilegiada, pois conseguiu ascender socialmente. Grada Kilomba (2019, p.77), através do conceito de racismo institucional, indica como o mercado de trabalho impede que pessoas negras ascendam socialmente, e conquistem condições melhores de vida. Portanto, o protagonista rompeu essa limitação e quando se vê confrontado pelo espírito de Candyman sente a necessidade de visitar os locais abandonados que sofreram com a gentrificação.
    Ao longo da obra são projetadas diversas imagens com abelhas e colmeias, por influência de Candyman. É possível perceber que a produção fílmica busca estabelecer uma conexão entre os conjuntos habitacionais e as colmeias de abelhas, pois, ambos trabalham com o conceito de coletivo para construir e proteger seu lar. Desse modo, Candyman, com seu figurino úmido de mel, sua pele perfurada por hexágonos e seu trânsito ao som de abelhas voando, personifica uma espécie de defensor de sua comunidade.
    Todo corpo fora do padrão hegemônico é considerado irracional como apontado por Fátima Régis (2003), assinalando-o dentro de uma configuração monstruosa pelos padrões normativos sociais. O protagonista, por ser um homem negro, sofre diversas discriminações decorrentes do racismo presente na sociedade, o que já o enquadraria como uma espécie de monstro no espectro sociopolítico. Entretanto, ao assumir sua identidade como Candyman, essa representação se explicita e se revolta, contra-atacando a esfera que o marginalizava.
    O trabalho busca analisar o impacto de uma idealização contra-hegemônica em um filme de horror racial, através de uma compreensão de o que seria uma boa representatividade em termos criativos e imagéticos. O foco narrativo aborda a gentrificação social como uma espécie de vilã na história. Dessa forma, procura uma reflexão sobre as questões identitárias que permeiam essa produção fílmica.

Bibliografia

    ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.

    KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

    MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política de morte. Arte & Ensiaos, n 32, dez. 2016.

    RÉGIS, Fátima. Do corpo monstruoso ao ciborgue: a construção de identidades e diferenças no Ocidente. Revista Contemporânea (UERJ. Online), v. 1, p.15-22, 2003.