Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Natacha Muriel López Gallucci (UFAL)

Minicurrículo

    Professora do Programa de Pós-graduação em Filosofia (PPGFIL) em Letras/Literatura (PPGLL) da UFAL. Professora do PROFARTES (URCA) e colaboradora do PPGArtes, ICA, UFC. Pós-doutora em Artes pelo ICA, PPGArtes, UFC. Doutora em Filosofia pelo IFCH, Unicamp e Doutora em Multimeios pelo IA, Unicamp. Diretora do Grupo FiloMove Filosofias, Artes e Estéticas da América Latina (ICHCA, UFAL) Portfólio www.natachalopezgallucci.com Email: natacha.gallucci@ichca.ufal.br

Ficha do Trabalho

Título

    Audiovisual expandido latino-americano: Puchometrajes de Rodolfo Kusch

Seminário

    Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Abordamos arquivos e fragmentos das experimentações audiovisuais realizadas por Rodolfo Kusch nos seus Puchometrajes (1968 – 1971). Sua exploração formal recai na experimentação intermidial e na montagem como manipulação do tempo em sessões ao vivo nas que se ressignificam, bordeiam-se e imbricam-se os limites entre poesia oral, colagem, ensaio fotográfico, música e radioteatro expressão de sua busca estética audiovisual expandida em chave latino-americana.

Resumo expandido

    Dentro do projeto de pesquisa Arquivo, memória, performance, aborda-se diversos arquivos públicos da America latina. Propomos nesta comunicação apresentar algumas reflexões sobre os fragmentos registrados das produções audiovisuais realizadas pelo filósofo, docente e dramaturgo Rodolfo Kusch (Argentina, 1922-1979) nos seus “Puchometrajes”, desenvolvidos aproximadamente, entre 1968 e 1971.
    Essas ações híbridas roteirizadas – com manipulação de diapositivos, textos lidos ao vivo, gravações e música -, demonstram o profundo interesse do filósofo pela expressão audiovisual ensaística (Adorno, 2003; Corrigan, 1995) em termos performáticos. Enquanto exploração formal descolonial, sua proposta recai na experimentação, fundamentalmente no uso de recursos de transposição textual de certas ideias desenvolvidas na sua estética americana e subjacentes na sua obra filosófica; nos jogos de montagem como o corte, o flashback ou na fotografia abstrata, dentro de um contexto estético relacional, envolvendo músicos e atores. Essas sessões ao vivo dialogam com as instalações da arte contemporânea e ressignificam, bordeiam, interpolam e superpõem os limites entre a poesia oral, a fotografia, a música, o teatro e o ensaio filosófico.
    Tentaremos abrir a malha da experimentação kuscheana em que as imagens não são inocentes, pois no contexto histórico argentino de fines da década de 1960, marcado por um forte questionamento em redor da relação arte e política, Kusch propõe uma estética da nossa américa na urbanidade portenha, no exercício de observação dos valores do popular como forma de luta contra o veloz desenvolvimentismo emergente de um capitalismo marcado pelo neocolonialismo de mercado.
    Nessas experiências públicas “que se projetavam” – segundo descrevia o próprio Kusch seus Puchometrajes (Soneira e Pérez, 2020, p. 253-266) –, expressam um exercício estético ao aproximar o público retroativamente dos ritos americanos latentes nas cidades, das filosofias da dança da zamba ou do tango, das vivências populares nas arenas circulares do circo criollo, da contemplação do tempo na mesa ´del café´, do ensaio fotográfico, das colagens das vanguardas e do radioteatro “costumbrista” rioplatense dos anos 1930 e 1940. Enquanto filosofia-performance (López Gallucci, 2023), vinculando o corpo do filósofo ao espaço audiovisual como dispositivo de instalação, essas projeções eram concebidas como forma comunicativa de uma experiência sensível e coletiva em relevo; antecipando certas discussões teóricas no campo do audiovisual expandido e em diálogo com a performances contemporâneas das artes de neovanguarda latino-americanas (Danto, 2006; Foster, 2009). Buscamos aprofundar neste campo proposto o lugar dos arquivos e da performance e indagar os recursos epistemológicos elencados pela experimentação kuscheana à luz da sua estética do americano (Kusch; Tasat, 2020).

Bibliografia

    ADORNO, T. O ensaio como forma. In: ADORNO, T. Notas de literatura I. Trad. J. Almeida. São Paulo: Duas Cidades/ Ed. 34, p.15-46.
    BENJAMIN, W. Pequena história da fotografia. Trad. S. P. Rouanet. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
    CORRIGAN, T. O filme- ensaio. Trad. L. C. Borges. Campinas: Papirus, 2015.
    DANTO, A. C. Após o fim da arte. São Paulo: Edusp, 2006.
    FOSTER, H. Arquivos da arte moderna Arte. Revista Arte & Ensaios, vol. 19 n. 19, RJ: UFRJ.
    KUSCH, R. América Profunda. In. KUSCH, R. Obras Completas II. Rosario: F. Ross, 2000.
    KUSCH, R. KUSCH, Rodolfo. Hacerse el oso. Monologo. Archivo Kusch, Unitref.
    RASCAROLI, L. How the essay film thinks. New York: Oxford University Press, 2017.
    SONEIRA, Ignacio; PEREZ, P. Hacerse el oso. Los “Puchometrajes” de R. Kusch. In: TASAT, J., PEREZ, J. P. & KUSCH, R. (eds.) Arte, estética, literatura y teatro en Rodolfo Kusch. Buenos Aires: Mónadanoma, 2020