Ficha do Proponente
Proponente
- Luís Fellipe dos Santos (UERJ)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UERJ, sendo bolsista CAPES. Mestre pelo mesmo Programa, tendo sido bolsista CAPES no primeiro ano e bolsista do Programa Nota 10 – Mestrado – da FAPERJ no segundo ano. Graduado em Letras – Português e Literaturas pela UFRJ com dignidade acadêmica “Cum laude”.
Ficha do Trabalho
Título
- O ensaio no documentário – Uma análise de Incompatível com a vida
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação parte da obra Incompatível com a vida (2023), de Eliza Capai, que acompanha a gestação da realizadora até o momento em que interrompe a gravidez, por seu filho receber o diagnóstico de ser incompatível com a vida. A realizadora convoca outras seis mulheres que passaram pelo mesmo caso e, a partir dos cruzamentos, conduz a narrativa. A obra será analisada pela chave do filme ensaio, para tentar compreender o papel que o ensaio desempenha no documentário brasileiro contemporâneo.
Resumo expandido
- Esta comunicação surge como uma das diversas possibilidades de desdobramento da pesquisa que realizo em meu doutoramento, no qual busco investigar o filme ensaio brasileiro contemporâneo, partindo de produções participantes do festival internacional de documentários É tudo verdade, em um recorte dos dez últimos anos, de 2014 – 2023.
O objetivo da pesquisa é a compreensão do filme ensaio brasileiro contemporâneo, suas formas de inscrição da subjetividade e caracterizações enquanto forma. Como sendo um festival em atividade desde 1996, o É tudo verdade se mostra uma excelente fonte para a pesquisa, pois o mesmo acompanhou um aumento na produção de obras subjetivas, no momento nomeado como virada subjetiva, por Català (2014), que caracteriza o aumento das produções pessoais. Dada a uma não indexação do filme ensaio como um quarto domínio, como proposto por Teixeira (2015), muitos filmes ensaios participam do festival por poderem ser lidos na chave do documentário.
Para esta comunicação, será escolhida uma obra autobiográfica, em primeira pessoa, dentre as outras possibilidades existentes, como filmes diário, filmes carta e outros. Será feita uma análise de uma obra subjetiva participante do festival, com intuito de compreender como o ensaio se insere nas produções contemporâneas, partindo de estudos como de Corrigan (2016), que propõe uma gradação do ensaio no campo cinematográfico, separando em ensaio, ensaísmo e ensaístico. Dessa maneira, fugindo da ideia de uma “ensaificação” de tudo, ou seja, classificando todas as obras subjetivas como filmes ensaio.
A obra escolhida para a análise foi Incompatível com a vida (2023), da realizadora Eliza Capai, obra escolhida como melhor longa-metragem da edição passada do festival. Como consta na sinopse do filme, a partir do registro de sua gravidez, a diretora Eliza Capai conversa com outras mulheres que tiveram vivências parecidas à sua, criando um potente e tocante coral de vozes que refletem sobre temas universais: vida, morte, luto e políticas públicas que nos afetam.
A partir de uma experiência pessoal, o diagnóstico recebido de que seu filho seria “incompatível com a vida”, poderia falecer durante a gestação ou um pouco depois de seu nascimento, a realizadora decide registrar sua gestação até o momento de despedida de seu filho. Estando em Portugal, país no qual a interrupção da gravidez é permitida por lei, Capai pôde optar por ela, diferentemente do que ocorre no Brasil, onde o aborto é considerado crime, punido com pena de até 10 anos de reclusão, com base na Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Para compor essa narrativa, Capai convoca seis mulheres brasileiras que tiveram gestações com o mesmo diagnóstico que o seu: seus filhos também eram incompatíveis com a vida. A partir dos seus relatos dolorosos, mas diretos, as mulheres costuram suas histórias e apresentam a realidade ao espectador. Nesse sentido, apenas algumas conseguiram, por meio da justiça, interromper a gravidez, enquanto que as demais levaram as gestações até o fim. Com imagens de arquivo que acompanham todo o processo gestacional, Capai toma essas imagens como imagens-documento, pela chave de Didi-Huberman (2020), como uma tentativa de expor, mas sendo apenas fragmentos, incapazes de dizerem tudo, assim, sendo costurados com os relatos e silêncios.
Dessa maneira, partindo da obra em questão, amparando-me nos estudos acerca das obras em primeira pessoa e filmes ensaio, pretendo elaborar uma análise sobre o papel do ensaio, e o lugar que ocupa, em obras documentais contemporâneas. Para que não se caia na falsa ideia de que tudo se torna ensaio, já que o filme ensaio se firma como um dos formatos que possibilita a emergência dessas subjetividades.
Bibliografia
- CATALÀ, Josep Maria. Estética do ensaio: A forma ensaística, de Montaigne a Godard (Prismas nº 11) (Edição espanhola) Publicações da Universidade de Valência. Edição Kindle, 2014.
CORRIGAN, Timothy. Essayism and Contemporary Film Narrative. In: PAPAZIAN, E.; EADES, C. (orgs.). The Essay film:. New York, Columbia University Press, 2016. p. 15-27.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens apesar de tudo.São Paulo: Editora 34, 2020.
MONTERRUBIO, Lourdes. ‘Dispositivos de enunciación del film-ensayo español contemporáneo: Evolución de la subjetividad ensayística y su pensamiento en acto’. In: Studies in Spanish & Latin American Cinemas, 16:3, pp. 335–61, 2019.
RASCAROLI, Laura. ‘The Essay Film: Problems, Definitions, Textual Commitments”, In: The Journal of Cinema and Media. 49. 2 (2008), pp. 24-47.
VASSILIEVA, Julia; WILLIAMS, Deane. Beyond the Essay Film- Subjectivity, Textuality, and Technology. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2020.