Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Wallace Cordeiro dos Santos (UFMG)

Minicurrículo

    Jornalista. Mestre em Comunicação, Cultura e Amazônia pelo PPGCOM-UFPA. Doutorando da linha Pragmáticas da Imagem no PPGCOM-UFMG.

Ficha do Trabalho

Título

    Memória Viva Guajajara: política da memória e câmera-arquivo

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho pretende tecer algumas análises sobre o documentário Memória Viva Guajajaja (2022), produzido por um grupo de cineastas do povo Guajajara, da Terra Indígena Caru, no estado do Maranhão. O documentário é um compilado de histórias contadas por sujeitos e sujeitas plurais e diversas que contam a história daquele território. Nossa hipótese se baseia na ideia de que o cinema guajajara se utiliza de uma câmera-aquivo, que além filmar, guarda e criauma política de memória dos Guajajara.

Resumo expandido

    A memória para os povos indígenas é registrada no território. Estas palavras com as quais iniciamos este texto foram proferidas pelo professor e pesquisador Eliel Benites, do povo Guarani-Kaiowá, no dia 5 de junho do ano 2023, durante a Semana Nacional de Arquivos, promovida pelo Arquivo Nacional, cuja temática de uma das mesas-redondas era Arquivos: territórios de vida. Essa frase nos toca no sentido de que ela reafirma uma ideia que para muitos não-indígenas ainda é de difícil compreensão e esse fato tem como consequência o preconceito e o desrespeito a outros modos de ser e viver e em muitas vezes a própria violência epistemicida contra os povos indígenas e seus territórios. Além disso, justifica expropriações territoriais, remoções e explorações de terras indígenas seja em nível de política pública, seja em ações privadas de invasão.
    Para os povos indígenas, o território é onde se materializam os seus modos de ser e viver, onde a cultura se instala, se renova e se mantém viva para as suas comunidades. O território é o que constitui a própria existência destes povos. E dada toda essa importância do território para a (re)existência dos povos indígenas, consequentemente é na terra que eles elaboram e colocam em circulação suas políticas de memória.
    No Brasil, a partir do último quarto do século XX e fortemente neste início de século XXI, os povos indígenas mobilizados e organizados começam a tomar para si a prerrogativa de contar suas próprias histórias e elaborar suas próprias memórias para o mundo não-indígena. E um dos meios e linguagem que tem sido utilizado com bastante incidência é o cinema e o audiovisual, que, ao ser apropriado, é indigenizado e reinventado (OLIVEIRA;SANTOS, 2022). Observando essa produção cinematográfica, especialmente a partir dos anos 2000, há uma verdadeira ebulição de produções audiovisuais realizadas por diversos coletivos indígenas espalhados pelo Brasil. E é sobre um destes coletivos e uma destas produções que pretendemos conversar neste trabalho.
    O documentário Memória Viva Guajajara foi lançado no ano de 2022, pelos Guardiões da Memória, do povo Guajajara, da Terra Indígena Caru, no estado do Maranhão. Os guardiões e guardiãs Jocy Guajajara, Milson Guajajara, Poliana Guajajara, Cleane Guajajara e Manoel Filho Guajajara elaboram através da câmera e do cinema uma verdadeira política da memória do povo Guajajara.
    As câmeras dos guardiões da memória Guajajara elaboram uma narrativa que, conforme apreendemos no documentário, foi dividida em quatro eixos principais: Como era antigamente, Proteção territorial, Caminhos da mata e Encantados da floresta. Em cada uma destas partes, os narradores e narradoras, grupo formado por por anciãos e anciãs e também por lideranças, nos relatam as suas memórias e as suas histórias que nos levam a um território que passou por transformações. O filme nos apresenta através das narrativas orais como eram aspectos da aldeia no passado, como a moradia, a disposição do espaço geográfico nas ruas, história dos enfrentamentos com invasores ocorridos no contexto da proteção territorial, história da relação com os encantados da floresta.
    O cinema Guajajara já foi objeto de análises importantes nos últimos anos. Como Caixeta de Queiroz (2019) que propôs pensarmos as imagens Guajajara sob a perspectiva de uma câmera-arma, que denuncia e enfrenta os embates cotidianos da proteção territorial. Também destacamos as premissas de Brasil (2022), que nos indica a câmera-guardiã, que além de filmar, guia os indígenas pela floresta e vai encontrando e enfrentando as ameaças. Esse percurso teórico-metodológico, além da narrativa fílmica ao qual somos envolvidos pelos cineastas, nos leva a uma hipótese de que estamos diante de uma câmera-arquivo, que filma, mas também organiza, guarda e difunde histórias que por resultado elaboram uma política da memória do povo Guajajara.

Bibliografia

    BENITES, Eliel. Mesa-redonda Arquivos: Territórios de vidas, promovida pelo Arquivo Nacional. Disponível em: https://www.youtube.com/live/MznXuiPZreE?feature=share
    BRASIL, André. Uma história dos cantos: levantes da floresta. In: LAGE, Leandro (org.). Imagens da resistência: dimensões estéticas e políticas. Salvador: Edufba, 2022.
    CAIXETA DE QUEIROZ, Ruben. Guardiões da Floresta: Câmeras em ação. Catálogo FórumDoc BH, 2019
    OLIVEIRA, Luciana de. SANTOS, Rodrigo. Cinema Guajajara para descolonizar olhares sobre as relações entre povos indígenas e Amazônia no documentário Zawxiperkwer Ka’a/Guardiões da Floresta. Congreso ALAIC 2022, 2022, Buenos Aires. Memorias Congreso ALAIC 2022, 2022. v. 1