Ficha do Proponente
Proponente
- Emiliano d’Avila (UFF)
Minicurrículo
- Bacharel em Artes Cênicas, Especialista em Roteiro, mestrando em Cinema.
TV: atuou na série Clandestinos e novela Avenida Brasil (Globo); e no sitcom Vai Que Cola (Multishow), também roteirizando 10 episódios do programa.
Cinema: atuou nos longas Vai Que Cola; Ninguém Entra, Ninguém Sai e Vai Que Cola 2. Roteirizou, dirigiu e produziu o curta Um Dia de Cachorra, vencedor de 7 prêmios internacionais, incluindo um de Melhor Roteiro.
Teatro: produziu, dirigiu e atuou em inúmeras peças.
Ficha do Trabalho
Título
- O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO DE VAL E SUA JORNADA ARQUETÍPICA FEMININA
Seminário
- Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho examina o arco interno da protagonista de “Que horas ela volta?” – roteiro de Anna Muylaert – e suas implicações. Inicialmente, são pontuadas críticas às estruturas narrativas baseadas na Jornada do Herói e apresentadas estruturas relacionadas a aspectos “femininos”. Depois, relacionam-se o arco interno de personagem, as jornadas arquetípicas femininas e o conceito de individuação, de Jung. Então, o roteiro de Anna Muylaert é analisado, a partir da estrutura da Promessa da Virgem.
Resumo expandido
- Este trabalho se propõe a examinar o arco interno da personagem Val, protagonista de “Que horas ela volta?”, roteiro de Anna Muylaert. Antes disso, ressalta-se a importância da estruturação narrativa de um roteiro e revela-se a divisão estrutural presente no roteiro cedido pela própria autora. Contextualizam-se o surgimento e a ascensão dos modelos de estrutura narrativa baseados na Jornada do Herói e são apresentadas críticas feministas a tais modelos, relacionando-os com a cultura patriarcal e expondo a incapacidade desses modelos de contemplar o desenvolvimento “feminino” em sua completude. Então, são pontuados dois modelos de estrutura narrativa associados aos aspectos arquetipicamente femininos: a Jornada da Heroína e a Promessa da Virgem, respectivamente das autoras Maurren Murdock e Kim Hudson. Em seguida, é defendida a importância pessoal, cultural e artística destes modelos e expõe-se a falha dos modelos baseados na Jornada do Herói em não fornecerem ferramentas para a construção do arco interno de nenhum gênero de personagem.
Conceitua-se então o arco interno de personagem, bem como sua origem ligada aos conflitos internos, e é mostrada sua intrínseca associação com uma necessidade mais profunda da personagem, para além daquele desejo (ou objetivo) que impulsiona a trama e desenha o arco externo da história. Depois, é resgatado o conceito de individuação – proposto por Jung, criador da psicologia analítica – e o movimento vetorial desse processo, que é voltado para dentro, para si (“Self”). Em seguida, evidenciam-se, na Jornada da Heroína e na Promessa da Virgem, suas características também voltadas para aspectos internos. Dessa forma, é revelada a estreita relação entre o arco interno de personagem, as jornadas arquetípicas femininas e o conceito de individuação, concluindo-se que: do ponto de vista da narrativa, os modelos de estrutura baseados nas trajetórias arquetípicas femininas seriam mais eficientes na construção de um arco interno de personagem do que os modelos baseados na jornada do herói; e, do ponto de vista psicológico, a mulher seria arquetipicamente mais predisposta a realizar seu processo de individuação do que o homem.
Adentrando propriamente o estudo de caso, é feito um panorama do roteiro de Anna Muylaert, expondo-se brevemente sua premissa, suas tramas, seus conflitos principais, as personagens centrais do conflito, alguns símbolos importantes e os temas que se articulam na história: o classismo e o patriarcado. Em seguida, são apresentadas mais características do paradigma da Promessa da Virgem e é feita uma análise do roteiro “Que horas ela volta?”, a partir desse modelo de estrutura, em um processo de engenharia reversa, isto é, a análise estrutural de uma história já escrita. Todas as etapas narrativas do modelo são correlacionadas com cenas do roteiro, bem como são comparadas cenas do roteiro que foram modificadas no filme homônimo. Na sequência, o processo de individuação de Val é examinado e classificado, tendo como base os diferentes tipos de arco quanto à sua carga de valor (positivo, negativo ou neutro) e ao principal elemento narrativo da forma de sua trama (fortuna, caráter e pensamento). Por fim, demonstram-se as implicações do arco interno da personagem com o tema central e com o argumento moral da história.
Bibliografia
- ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. Revista Estudos Feministas, v. 8, n. 01, p. 229-236, 2000.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1997.
FRIEDMAN, Norman. Form and meaning in fiction. Athens: University of Georgia Press, 1975.
HUDSON, Kim. The virgin’s promisse: writing stories of feminine creative, spiritual and sexual awakening. Los Angeles: Michael Wiese, 2010. E-book.
JUNG, C. G. Tipos psicológicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.
MURDOCK, Maureen. A jornada da heroína: a busca da mulher para se reconectar com o feminino. Rio de Janeiro: Sextante, 2022.
TATAR, Maria. A heroína de 1001 faces: o resgate do protagonismo feminino na narrativa exclusivamente masculina da jornada do herói. São Paulo: Cultrix, 2022.
WEILAND, K. M. Creating character arcs: the masterful author’s guide to uniting story structure, plot, and character development. Barnsley: Pen and Sword. 2016. E-book.