Ficha do Proponente
Proponente
- Amanda Mansur Custódio Nogueira (UFPE)
Minicurrículo
- Amanda Mansur é professora adjunta do Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Ministra disciplinas, oficinas e minicursos sobre teoria e prática do audiovisual, além de atuar na área como produtora, diretora e continuísta. É autora dos livros O Novo Ciclo de Cinema em Pernambuco: a questão do estilo (Editora UFPE, 2010), A Brodagem do Cinema em Pernambuco (Editora Massangana, 2019) e organizadora do livro A Aventura do Baile Perfumado (Cepe, 2016).
Ficha do Trabalho
Título
- Sob as Marquises da Memória: Cinemas de Rua no Agreste de Pernambuco
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação investiga a história e o impacto das salas de cinema de rua em três cidades do Agreste de Pernambuco: Caruaru, Belo Jardim e São Caetano. O objetivo é identificar e descrever esses espaços, analisando sua relevância histórica, social e cultural. Será empregado o método historiográfico, que inclui entrevistas, pesquisa em arquivos públicos e análise de registros históricos, para compreender o papel desses cinemas na cultura local e sua influência na identidade das comunidades.
Resumo expandido
- A história da produção cinematográfica em Pernambuco está intrinsecamente ligada à existência de salas de cinema de rua que se disseminaram pela cidade do Recife e pelas cidades do interior do estado, nas primeiras décadas do século XX. Desde os primeiros cineastas, os jovens do Ciclo do Recife (1923-1932), o desejo de fazer cinema surgia da paixão pela sétima arte, nutrida nas exibições dos filmes em salas como Cine Pathé e Cine Royal, inauguradas em 1909. Esses realizadores, também espectadores, se envolviam com as narrativas, os atores e diretores.
A ligação entre a história da cidade do Recife, as salas de cinema e seus espectadores foi recentemente recuperada pelo diretor Kléber Mendonça Filho, em seu filme Retratos Fantasmas (2023), que teve a sua estreia no Festival de Cannes, na França. O documentário é fruto de uma pesquisa de sete anos e traz uma reflexão sobre e importância dos cinemas do centro do Recife na formação e na vida das pessoas.
A aproximação dos estudos fílmicos e da sociologia urbana é fundamental no entendimento da cultura e da sociedade. A existência dos cinemas de rua transformou a vida da sociedade e provavelmente operou como fonte na formação da cultura local.
Embora existam diversos trabalhos de pesquisa (Cunha, 2010; Saraiva, 2013; Araújo, 2018; Mansur, 2019) sobre a relação do Recife com o cinema, a história dos cinemas de rua nas cidades do interior de Pernambuco ainda é pouco explorada. Com a atual expansão da produção e exibição cinematográfica em todo o estado, impulsionada por políticas culturais, torna-se crucial investigar e compreender a história e o impacto do cinema também fora da capital.
Qual foi o impacto dos cinemas de rua na história cultural das cidades do Agreste de Pernambuco? Como esses espaços contribuíram para o convívio social? Essas são as questões centrais que motivam nossa investigação. Nosso objetivo é identificar e descrever os cinemas de rua em três cidades do Agreste pernambucano: Caruaru, Belo Jardim e São Caetano. Utilizaremos métodos historiográficos, incluindo entrevistas, consultas aos arquivos e registros históricos locais.
O Major João Gomes instalou o primeiro cinema em Belo Jardim em 1923, projetando pequenos curtas para os moradores com um projetor de manivela. Entre os anos 1950 e 1980, a cidade teve até quatro cinemas em funcionamento. Em 1953, o Abrigo Monte Carlo e o Cine Teatro São Jorge foram construídos por Seu Zé Ramo. O segundo era popular, anunciando filmes por alto-falantes e exibindo seriados americanos, como Capitão Marvel, Flash Gordon. O Cine Teatro Brasília, de Sr. Arcanjo e Maria Izabel, tinha 1.200 cadeiras e 600 tamboretes, oferecendo três sessões diárias.
Na cidade de São Caetano, as salas de cinema tiveram um grande impacto, pois a escassez de opções de lazer levava as pessoas a lotarem os cinemas e se envolverem na cultura cinematográfica. O Cinema São Caetano, de João Leal, foi o primeiro da cidade, sendo popular nas décadas de 1950 e 1960, ao lado da Igreja Matriz. Segundo Cleonice, filha de João Leal, o cinema exibia uma variedade de gêneros, sendo “Dio, come ti amo!” um grande sucesso emocional para o público. O cinema era bem organizado, oferecendo meia entrada e anunciando a programação diariamente. As cópias dos filmes eram adquiridas na capital do estado e a renda da bilheteria ajudava a sustentar o cinema e seus funcionários. Cleonice relata que, às vezes, as cópias apresentavam defeitos, o que causava irritação e até danos às cadeiras por parte do público.
Em suma, esta comunicação, sobre as salas de cinema de rua no Agreste pernambucano, destaca sua importância histórica e seu papel na preservação da identidade cultural local. Ao reconhecermos esses cinemas como espaços de encontro e expressão cultural, podemos valorizar o passado e promover políticas culturais mais abrangentes, assegurando o reconhecimento e a celebração do legado cinematográfico dessa região.
Bibliografia
- ARAÚJO, Luciana Corrêa de. O cinema em Pernambuco (1900-1930). In: Fernão Pessoa Ramos; Sheila Schvarzman. (Org.). Nova História do Cinema Brasileiro. 1ed.São Paulo: Edições Sesc, 2018, v. 1, p. 90-123.
CUNHA, Paulo. A utopia provinciana: Recife, Cinema, Melancolia. Editora Universitária UFPE: Recife, 2010.
MANSUR, Amanda. A brodagem no cinema pernambucano. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2019. (Col. Cinemateca Pernambucana, 1)
SARAIVA, Kate. Cinemas do Recife. 1. ed. Recife: Funcultura, 2013. v. 500.